O Estado de S. Paulo
A maior montadora da Alemanha sofre cada vez mais com a recessão no Brasil. Balanço da Volkswagen mostra que a filial brasileira vendeu 37,6% menos carros no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período de 2015. Foi o pior desempenho de todo o grupo. Com isso, o Brasil perde relevância para a empresa. No início da década, o País era o terceiro maior mercado da montadora. Agora, ocupa a sétima posição e pode cair para a oitava em breve.
Dos pátios da Volkswagen do Brasil saíram 63.703 veículos nos três primeiros meses de 2016. No ano passado, foram entregues 102 mil carros no primeiro trimestre.
Em teleconferência, a direção da Volks na Alemanha explicou que a fragilidade da economia e as incertezas políticas estão por trás da recessão e da queda das vendas no Brasil. Para piorar, o juro alto restringe o crédito e reduz ainda mais a demanda por veículos. Assim, o mercado do Brasil retrocedeu uma década, para o patamar de 2006, diz a montadora.
“Houve deterioração adicional do quadro econômico e político no Brasil. Além disso, o aumento do juro tornou ainda mais difícil o mercado de crédito”, explicou o chefe de vendas do grupo Volkswagen, Fred Kappler, ao ressaltar que o País puxou para baixo os números de toda a América do Sul.
No relatório de vendas enviado aos acionistas, a montadora classifica a recessão brasileira como “profunda” e diz que apenas dois modelos terminaram o trimestre com aumento da demanda no País: o Audi A3 e o Jetta.
Top 3. No Brasil, uma das versões do sedã Jetta foi lançada em março de 2011. Quando o modelo foi apresentado à imprensa na fábrica da Volks em São Bernardo do Campo, o então presidente da montadora no País Thomas Schmall comemorava os recordes da filial e anunciava planos ambiciosos. Na época, a empresa já recebia o polpudo plano de investimento de R$ 6,2 bilhões anunciado pela sede.
Com esse dinheiro, o executivo dizia que seria possível para o Brasil continuar ao lado da China e da Alemanha no seleto grupo das três principais operações da Volks no mundo.
Com incentivos no mercado de crédito e desonerações de impostos, o mercado automobilístico brasileiro vivia tempos dourados no início da década. Dias depois da entrevista de Schmall, a Volks anunciou que havia entregado 166 mil veículos no Brasil no primeiro trimestre de 2011. Sozinha, a filial brasileira já vendia mais carros que as subsidiárias de França e Espanha que, juntas, entregaram 150 mil veículos da montadora alemã naquele trimestre.
Hoje, a sensação é de ressaca. A filial do Brasil colocou pouco mais de 63 mil carros novos nas ruas no primeiro trimestre. O número é 62% menor que o registrado em igual período de 2011. Ou seja, a Volkswagen vende praticamente um terço do que vendia há apenas cinco anos, quando a empresa comemorava o boom das vendas.
Em cinco anos, o Brasil foi ultrapassado no ranking das subsidiárias do grupo alemão que mais vendem veículos por Reino Unido, Brasil tem o pior resultado da Volkswagen no mundo
Estados Unidos, França e Espanha. E a atual posição está ameaçada, já que a Volkswagen Itália cresce quase 20% ao ano e vendeu apenas 313 carros a menos que o Brasil no trimestre.
No resultado global, a Volkswagen – que tem lutado para recuperar as perdas após o escândalo com emissões de poluentes – obteve lucro líquido de € 2,31 bilhões (US$ 2,57 bilhões) no primeiro trimestre deste ano, queda de 20% em relação ao mesmo período do ano passado (€ 2,89 bilhões). (O Estado de S. Paulo/Fernando Nakagawa)