Minicarros da Daihatsu são lição para a Toyota

The Wall Street Journal

 

A maior montadora do mundo está contando com uma fabricante de carros minúsculos para expandir seu império.

 

A Toyota Motor Corp. há tempos é associada a carros compactos e econômicos, mas os executivos da empresa japonesa dizem que outra montadora fabrica esse tipo de automóvel melhor do que ela e bem ali no seu quintal.

 

Essa montadora é a centenária Daihatsu Motor Co., que a partir de agosto vai se tornar uma subsidiária totalmente controlada pela Toyota.

 

A operação de US$ 3 bilhões para assumir o controle total da Daihatsu foi anunciada em janeiro pelo líder da Toyota, Akio Toyoda, mirando os mercados em desenvolvimento, onde a maioria das pessoas não tem dinheiro para comprar um carro grande. Toyoda está entre os executivos que fez uma peregrinação até a supereficiente fábrica da Daihatsu na cidade de Nakatsu, no sul do Japão, que produz minicarros com motores de 0,66 litro ou menos ­ quase o mesmo que uma motocicleta de pequeno porte.

 

“Com a ascensão das questões ambientais e dos mercados emergentes, os carros pequenos ganham uma importância ainda maior que antes”, disse Toyoda quando o negócio foi anunciado. “Se não tivermos conhecimento sobre carros pequenos, não podemos avançar”.

 

Assumir totalmente o controle da Daihatsu vai ajudar a Toyota a melhorar seu negócio de carros pequenos ao permitir que ela trabalhe mais próxima dos engenheiros da futura subsidiária.

 

A segunda fábrica da Daihatsu em Nakatsu foi inaugurada em 2007, três anos depois da construção da primeira fábrica na cidade. A nova unidade é da metade do tamanho da primeira, mas tem capacidade de produzir o mesmo número de veículos. E ela custou somente 60% do investimento habitual.

 

A empresa instalou seus robôs de soldagem em um terço do espaço usado em uma fábrica tradicional. Na linha de pintura, minicarros ainda incompletos são movimentados lado a lado, em vez de um atrás do outro, o que reduz o comprimento da linha em mais de 30%.

 

A montadora aprendeu com os erros cometidos na primeira fábrica, onde teve que se desfazer de robôs que custaram milhões de dólares depois que eles começaram a quebrar em sequência. Os robôs foram substituídos por operários que receberam treinamento ao estilo militar na montagem acelerada de carros.

 

A Daihatsu, cujos principais mercados são o Japão e o Sudeste Asiático, também buscou fornecedores novos e menores dispostos a desenvolver peças mais baratas para seus minicarros. “As pessoas sempre perguntam como conseguimos tocar um negócio de minicarros que não são tão lucrativos”, diz Masanori Mitsui, diretor-superintendente da Daihatsu. “Mas é justamente porque fabricamos esses carros com margens apertadas que precisamos ter ideias novas.”

 

A Toyota tem uma aliança com a Daihatsu desde 1967 e em 1998 adquiriu uma fatia de 51% nela. As duas montadoras operaram quase que de forma independente no passado, embora tenham trabalhado juntas no Sudeste Asiático, onde a Daihatsu forneceu certos modelos para a Toyota.

 

Os carros pequenos podem trazer mais demanda por serviços para as concessionárias e podem ajudar a Toyota a atrair clientes que começam comprando carros mais baratos e, depois, os trocam por modelos mais lucrativos.

 

Mas os minicarros propriamente ditos não são vistos como uma fonte importante de lucro. Assim como suas rivais americanas e europeias, a Toyota obtém a maior parte dos seus ganhos com carros maiores. Nos Estados Unidos, o maior mercado da Toyota, os preços baixos da gasolina impulsionaram as vendas de utilitários esportivos e caminhonetes, ajudando a montadora a estimar um lucro líquido de cerca de US$ 20 bilhões em seu ano fiscal mais recente.

 

Mas carros pequenos são a especialidade da Daihatsu. No seu mercado doméstico, o Japão, ela vende os chamados “kei”, minicarros cujos motores pequenos qualificam seus proprietários a pagar impostos mais baixos.

 

Apesar de alguns desses minicarros custarem apenas US$ 7 mil, os veículos que saem da fábrica de Nakatsu têm uma margem de lucro de cerca de 5%, diz um executivo da Daihatsu, um feito raro para uma fabricante de carros pequenos.

 

Os números chamaram a atenção da Toyota devido às suas aspirações nos mercados em desenvolvimento. Os carros pequenos representam hoje cerca de 28% das vendas globais de veículos leves, de acordo com a consultoria IHS Automotive, que espera que o percentual suba ao longo dos próximos dez anos, graças ao crescimento da Índia e de outros países em desenvolvimento.

 

Acertar a fórmula para fazer carros pequenos é uma dor de cabeça comum a muitas das grandes montadoras globais, sendo que algumas foram atrás de conhecimento especializado por meio de parcerias. Em 2009, a Volkswagen AG firmou uma aliança com a Suzuki Motor Corp., que é especializada em carros pequenos e tem uma presença grande na Índia. A parceria fracassou e foi encerrada no ano passado. A General Motors Co. está trabalhando com a chinesa SAIC Motor Corp. para reformular sua maneira de criar carros para os mercados em desenvolvimento.

 

Carros pequenos representam cerca de 27% das vendas globais da Toyota. É mais que os 22% de dez anos atrás, de acordo com a IHS, mas, em certos mercados emergentes, incluindo a Índia, a montadora japonesa vem tendo dificuldades para satisfazer os gostos dos motoristas locais.

 

Já a Daihatsu quer transferir as lições aprendidas na fábrica de Nakatsu para os mercados emergentes, diz Mitsui, o diretor­-superintendente. “Nossas vantagens de fabricação vêm dos minicarros e queremos levá­-las” para o mercado global, diz ele. (The Wall Street Journal/Yoko Kubota)