O Estado de S. Paulo
Mesmo com as medidas adotadas ao longo do ano, como lay-off (suspensão temporária de contratos), férias coletivas e mais recentemente o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), as montadoras demitiram este ano, até novembro, 13,3 mil funcionários. É o maior número de dispensas desde 1998 quando, às vésperas da grande desvalorização do real, o setor cortou 22,2 mil postos (ver quadro).
Além das demissões, o setor tem atualmente 46 mil trabalhadores com alguma restrição em suas atividades. Cerca de 40 mil deles participam ou aguardam aprovação para entrar no PPE – que reduz jornada e salários em troca de estabilidade no emprego – e 6 mil estão em férias coletivas ou lay-off.
Nos últimos dois anos, foram fechadas 25,7 mil vagas nas montadoras de veículos e máquinas agrícolas, cuja mão de obra é especializada e os salários costumam ser acima da média de outras indústrias. O número equivale a 80% dos empregos gerados entre 2010 e 2013, anos de produção recorde, com volumes que variaram de 3,3 milhões a 3,7 milhões de unidades.
Neste ano, até o mês passado, foram produzidos 2,287 milhões de veículos, 22,3% a menos que em igual período de 2014. Só em novembro, a produção teve queda de 14,2% em relação a outubro e de 33,5% ante igual mês do ano passado. Foram 176 mil unidades, o menor volume para o mês em 12 anos. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) prevê encerrar o ano com produção de 2,4 milhões de veículos, voltando assim aos níveis de 2006.
As vendas caíram 25,2% nos 11 meses do ano, para 2,34 milhões de unidades e deve fechar 2015 com 2,54 milhões de unidades, 27,4% a menos que em 2014. Os estoques diminuíram um pouco em relação a outubro, mas seguem elevados, com 322,2 mil veículos nos pátios das fábricas e revendas, o equivalente a 50 dias de vendas.
O presidente da Anfavea, Luiz Moan, acredita que 2016 também “não será um ano fácil”, mas aposta numa estabilidade das vendas, com base na média diária do último trimestre deste ano. Uma melhora mais significativa do mercado só é esperada para os últimos três meses do próximo ano.
Impedimento
Moan voltou a afirmar que “a questão política está corroendo a economia brasileira” e diz que o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff traz desvantagem forte para a economia brasileira. “É mais um fato que pode trazer mais prejuízo à economia”, avalia o executivo.
Ele espera que a questão política deixe de impedir a aprovação de medidas necessárias para o desenvolvimento da economia, como o ajuste fiscal.
“O Brasil é maior do que essa crise que passamos. Prova disso é que nenhum centavo dos investimentos previstos, de R$ R$ 85 bilhões de 2012 a 2018, foi cortado”, afirma Moan. “Sabemos que o mercado vai voltar e na hora que isso ocorrer estaremos prontos para a retomada”.
O único dado positivo registrado pelo setor neste ano é o crescimento das exportações, de 18,9% no ano, para 369,4 mil unidades.
Ford
Cortes de pessoal ainda podem ocorrer. A Ford informou ontem que negocia com o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté “para tratar do excedente de empregados previsto para 2016”. Segundo a entidade, a empresa alega ter 300 excedentes, de um total de 1,4 mil trabalhadores em razão da queda da demanda automotiva. (O Estado de S.Paulo/Cleide Silva)