Setor produtivo pede decisão rápida do Congresso sobre impeachment

Folha de S. Paulo

 

Representantes do setor produtivo afirmam que o processo de impeachment deve ser resolvido o mais rápido possível, seja qual for a decisão do Congresso Nacional ­ pela saída ou permanência da presidente Dilma Rousseff.

 

A Folha ouviu 14 representantes da indústria, comércio, agronegócio e dos trabalhadores (centrais sindicais) sobre a aceitação do pedido de impeachment. A maioria preferiu não comentar se prefere uma mudança no Palácio do Planalto, mas todos demonstram muita insatisfação com a crise política e pedem uma saída urgente para ela.

 

Eles avaliam que o país está parado devido a impasses políticos e, para evitar agravamento da recessão, pedem agilidade dos parlamentares na avaliação do pedido.

 

“Independentemente do resultado, é imprescindível que essa questão seja resolvida o quanto antes. A confiança do brasileiro se tornou peça chave na resolução dos problemas econômicos. Enquanto o país estiver vivendo essa instabilidade política, o consumidor não vai se sentir confortável para gastar”, diz Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo.

 

A Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio) divulgou nota na mesma linha: “É importante apenas que a instabilidade política, que hoje contamina a atividade econômica, chegue ao fim o mais breve possível”.

 

“Não podemos seguir sem horizontes. Não torço pelo impeachment, mas não podemos ficar sem definição”, afirma Humberto Barbato, presidente da Abinee (indústria eletroeletrônica).

 

Representante da indústria de calçados, Heitor Klein, presidente da Abicalçados, também disse que os entraves na área política contaminam a economia. “O importante é resolver essa crise política o mais rápido possível, qualquer que seja a solução”, disse.

 

Para Luiz Moan, presidente da Anfavea (veículos automotores), “o momento é apropriado para mostrar que é possível ter um outro caminho”. Ele afirmou, no entanto, que a associação não é favorável nem contra o impeachment. “Confiamos nas instituições, que vão decidir o que é melhor pra o país”.

 

Representantes do agronegócio também pediram pressa no Congresso Nacional para a avaliação do processo de impeachment.

 

O presidente da Aprosoja­MT (associação dos produtores de soja de Mato Grosso), Ricardo Tomczyk, pautas importantes para a economia brasileira vêm sendo deixadas de lado por causa da crise política, paralisando o Brasil. “Não tem governo. O Brasil está à deriva”, disse.

 

Para ele, a aceitação do pedido de abertura do processo de impeachment é um passo importante para a definição da crise. “Espero que o processo seja o mais rápido possível para que a pauta avance. Se o Congresso não se preocupar em limpar essa pauta rapidamente, vamos continuar paralisados”, disse.

 

O maior produtor de soja do país, Eraí Maggi, tem opinião semelhante. “O Brasil tem que tomar um rumo rapidamente, seja de um lado ou do outro. Essa paralisação não pode continuar”.

 

O presidente da Sociedade Rural Brasileira, Gustavo Diniz Junqueira, considerou a decisão do presidente da câmara, Eduardo Cunha, “prudente”, ressaltando que o processo garantirá à presidente Dilma a oportunidade de se defender.

 

“As decisões precisam ser tomadas para o país chegar a uma resolução para o atual impasse político e reconstruir as bases para o desenvolvimento”, afirmou por meio de nota.

 

Piorando a crise

 

Também em defesa de uma decisão rápida, alguns dirigentes não aprovaram a abertura do processo. Para eles, a decisão de Cunha só piora a crise política.

 

“Há consenso de que, para recuperar a economia, precisamos resolver a crise política, que só se agrava. Essa decisão é lamentável. O momento é de resolver os entraves políticos, não de piorá­los”, avalia o presidente­executivo da Abiquim (associação brasileira da indústria química), Fernando Figueiredo.

 

Para Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq (indústria de máquinas), o que está ocorrendo em Brasília é uma verdadeira “baixaria política”.

 

“Todo o país está vendo o que acontece. É o roto querendo atacar o estropiado. Brasília está permeada de escândalos, do Executivo ao Legislativo, da situação à oposição”, afirmou. “O mais grave é que toda essa baixaria política cria uma incerteza enorme, agrava a instabilidade política e contamina a economia. Poderíamos ter uma ‘recessãozinha’ econômica, mas está virando uma “recessãozona’ por causa da crise política”.

 

O presidente­executivo da Interfarma (associação que representa os laboratórios nacionais), Antônio Britto, diz que a condição jurídica, que é a comprovação das irregularidades cometidas pela presidente, tem de ser cumprida, e o clima atual não contribui para isso.

 

Centrais sindicais

 

O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, também destacou que “o mais importante, independentemente de a Dilma continuar ou sair, é concentrar esforços para achar caminhos para a crise”.

 

Já Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores) e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, classificou a decisão de Cunha como “descabida”. “Por mais que tenham questões pendentes pedaladas fiscais, não há nada contra a presidente Dilma Rouseff que comprove corrupção ou gestão fraudulenta”, diz.

 

O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas, tem opinião semelhante e avisou: vai promover manifestações a favor de Dilma.

 

“Não concordamos com isso, e vamos às ruas. As ruas são importantes neste momento. Vamos mobilizar todos aqueles que defendem a democracia, o Estado de direito, contra o golpismo, contra o retrocesso. Isso não interessa os trabalhadores e as trabalhadoras”. (Folha de S. Paulo/Tatiana Freitas, Claudia Rolli e Renata Agostini)