O Estado de S. Paulo
O início do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff é visto como um passo em direção à solução do impasse econômico que o Brasil viveu ao longo de 2015, de acordo com empresários ouvidos pelo Estado. Com a “guerra branca” entre Dilma e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, transformada em embate declarado, a expectativa é que a economia possa finalmente voltar aos trilhos.
Segundo o presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, o mercado quer um desfecho rápido da situação para começar a fazer projetos concretos. “A leitura que tenho do mercado como um todo subindo () é que todo mundo está esperando que se vire essa página”, diz o empresário, dono da terceira maior rede de moda do País.
Para Rocha, o impeachment deve ocorrer somente se houver embasamento jurídico. Em sua opinião, porém, só uma mudança de governo vai trazer nova matriz econômica para o País, realmente comprometida com a economia de mercado. “Acho que ainda corremos o risco de termos três anos ruins. Sou pessimista com o atual pensamento econômico, mas muito otimista com a mudança”.
Tudo parado
O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori, afirma que a definição do processo de impeachment já é, por si só, um bom resultado. “Precisávamos de uma definição, pois tudo estava parado”. Segundo ele, “agora o processo está andando e é possível ver uma luz no fim do túnel, pois há um prazo para se definir se a presidente fica ou sai”.
Desde 2014, o setor de autopeças demitiu 55 mil trabalhadores, 25% de sua mão de obra há dois anos. Butori diz que novos cortes podem ocorrer em 2016 se a situação econômica continuar se agravando. Mas, se houver sinais de melhoras, o quadro ficará estável. O setor opera hoje a 60% de sua capacidade.
Já o presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (SecoviSP), Claudio Bernardes, considera que os investimentos só voltarão a crescer quando a questão do impeachment estiver resolvida. Para ele, é importante que os desdobramentos políticos ocorram o mais rápido possível, de modo a iniciar os ajustes necessários para as contas nacionais, o que poderá destravar os investimentos.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, diz que a entidade não é favorável nem contra o impeachment. “Acreditamos que as instituições estão funcionando e não há nada fora do arcabouço institucional.” Para ele, a crise política está corroendo a economia e a sociedade civil deve se unir para buscar saídas para a situação.
A declaração de Moan foi feita em evento em São Paulo que reuniu empresários e sindicalistas em torno de uma agenda de desenvolvimento. “Nosso movimento mostra que entidades com ideologias diferentes conseguiram buscar uma agenda próBrasil em torno de uma pauta comum”, diz Moan. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva, Fernando Scheller, Lucas Hirata e Mateus Fagundes)