Aumenta o estoque de carros nas montadoras

O Estado de S. Paulo

 

Cresce o desequilíbrio entre a produção e as vendas da indústria automotiva, cuja correção poderá vir a exigir medidas mais duras nos próximos meses. Números da Associação Brasileira de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) revelam que a produção de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus teve um decréscimo de 16,9% no acumulado de janeiro a agosto deste ano. Em idêntico período, as vendas registraram queda de 20,4%, segundo a Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos (Fenabrave). Todos os segmentos registraram queda, destacando­se as vendas de caminhões, que tiveram um recuo de 46,5% de janeiro a agosto.

 

O resultado desse descompasso entre a oferta e a demanda é o aumento dos estoques, que alcançavam 345 mil veículos em julho e subiram para 380 mil em agosto, representando 52 dias de vendas. Isso, naturalmente, agrava os custos tanto das montadoras como do comércio especializado.

 

As montadoras evitaram demissões, estando hoje com um quadro de 134.132 funcionários, cerca de 10% a menos do que há um ano.

 

Como não há expectativa de melhora em setembro e outubro, algumas indústrias já programam a interrupção por algum tempo das atividades de determinadas fábricas ou têm usado o recurso de conceder férias coletivas ou colocar em lay­off boa parte de seus trabalhadores. Há dúvidas, porém, se será possível manter essa situação até que os estoques se ajustem à demanda.

 

O desafio para desovar estoques tão elevados é tanto maior quanto mais severas têm sido as restrições ao crédito. Apesar das medidas tomadas pelo governo para atenuar a falta de crédito para o setor, levantamento da Fenabrave revela que apenas três de cada dez pedidos de empréstimos para aquisição de veículos novos têm sido aprovados pelas instituições financeiras.

 

Isso tem tido um reflexo direto sobre as revendas autorizadas. Segundo a entidade, 347 concessionárias de veículos deixaram de funcionar em todo o País, o que resultou na perda de 17 mil empregos, aproximadamente.

 

A exportação poderia ser uma saída e vem aumentando, embora em ritmo lento. Em agosto, foram exportados 34.591 veículos, 9,2% a mais que no mesmo mês do ano passado, e o total pode talvez elevar­se com a desvalorização do real. Mas, evidentemente, as vendas externas estão longe de compensar o encolhimento do mercado interno. (O Estado de S. Paulo)