Montadoras se reinventam na busca por fatias de um mercado em crise

DCI

 

As montadoras terão que se reinventar para conseguir atravessar a crise e manter participação no mercado brasileiro. Com o excesso de capacidade instalada e o aumento do número de concorrentes, a briga pelo consumidor deve se intensificar cada vez mais.

 

“Vamos observar um acirramento da competição porque quem acabou de investir, independentemente da empresa, vai querer a sua fatia do bolo”, afirma o diretor da Deloitte no Brasil, Maurício Muramoto.

 

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 63 marcas atuam no mercado brasileiro hoje.

 

“Temos mais de 2,8 mil modelos e versões de veículos à venda no País. Trata-se do mercado mais competitivo do mundo”, afirmou na semana passada o presidente da Anfavea, Luiz Moan.

 

Mas o aprofundamento da crise econômica brasileira, que coincidiu com a desaceleração das vendas de veículos, ocorreu logo depois do anúncio de inúmeras fábricas e investimentos na expansão das já existentes.

 

“As empresas terão que se readequar. Não faz sentido fechar fábricas novas, então cada marca terá que avaliar o melhor caminho para ajustar os níveis de produção”, afirma o sócio-líder para o setor automotivo da Deloitte no Brasil, Ivar Berntz.

 

Além dessa difícil decisão, algumas empresas tentam achar a fórmula mágica para cair de vez no gosto do brasileiro, com apostas muitas vezes ousadas. É o caso do grupo FiatChrysler Automobiles (FCA), que decidiu produzir localmente um utilitário esportivo (SUV, na sigla em inglês) sob um tradicional selo, o Jeep. As vendas da divisão Chrysler/Dodge/Jeep saltaram quase 400% no acumulado de 2015 principalmente por conta do lançamento do Renegade.

 

A japonesa Honda também parece ter achado a fórmula para atravessar a crise sem grandes recuos. Com o lançamento do SUV compacto HR-V neste ano, a montadora conseguiu acumular um crescimento de 17,9% até agosto, enquanto o setor amargou uma queda de mais de 21%.

 

“O brasileiro possui a característica de comprar carro impulsionado pelo emocional. O consumidor daqui prioriza, muitas vezes, o design do veículo”, destaca Moramoto.

 

E aparentemente a Toyota também continua agradando o público brasileiro com o Corolla, responsável pelo desempenho positivo da marca no acumulado do ano. Sem grandes mudanças no seu exterior, há anos o sedã médio é líder na sua categoria e, mesmo em um 2015 de crise aguda, as vendas se mantêm em alta.

 

“É inegável que, hoje, o consumidor brasileiro quer mais tecnologia embarcada e quem não atender, de fato, esse requisito perderá market share”, acrescenta Berntz.

 

Aprofundamento da crise

 

Enquanto isso, o setor automotivo amarga quedas sucessivas. No acumulado do ano, a produção recuou 16,9% e, os licenciamentos, 21,4%, segundo dados divulgados pela Anfavea na última sexta-feira (04).

 

A entidade afirma que não irá fazer, por ora, uma revisão das projeções. “Ainda não achamos um ponto de equilíbrio que nos permita refazer as previsões para o ano”, declarou o presidente da entidade.

 

Moan destaca que cada marca trabalha fortemente para manter as metas de vendas e também o emprego, cujo nível em agosto só não foi menor do que o registrado em 2010, quando a indústria empregava 133 mil funcionários.

 

O dirigente afirmou ainda que a Anfavea trabalha para promover as exportações, que de janeiro a agosto cresceram 10,5% em relação ao mesmo período do ano passado.

 

“Esperamos para as próximas semanas fechar um acordo também com a Colômbia e com o Peru”, disse Moan.

 

Ele acrescentou que o governo brasileiro já iniciou conversas com o Paraguai para exportar ao país vizinho. “Um dos pontos mais críticos, porém, é que o Paraguai permite a importação de carros usados, o que dificulta muito as negociações”, comentou. (DCI/Juliana Estigarríbia)