UOL Carros
Uma nova fonte inesperada de problemas para a indústria automobilística surge à medida que aumenta o número de carros conectados à internet por vários aparelhos, do telefone inteligente às centrais de multimídia. Interferências eletromagnéticas há muito são monitoradas em exaustivos testes até se alcançar blindagem contra elas. Quando automóveis Toyota nos EUA se acidentaram em razão de acelerações descontroladas, uma das hipóteses, sem comprovação, foi de frequências exóticas de bases militares.
Telefones celulares em aviões ainda têm restrições de uso, mas em veículos terrestres esse parece assunto superado.
Porém, interferências reais por meio de hackers geram preocupações nos Estados Unidos. Os chamados hackers do bem, que descobrem vulnerabilidades em sistemas, demonstraram ser possível controlar um automóvel à revelia do motorista. Fizeram brincadeiras como colocar o som no máximo volume e até desligaram o motor em um Jeep Cherokee de cobaia. Parecia coisa de ficção, mas não era.
Situação ficou séria, pois levou a Fiat-Chrysler a convocar 1,4 milhão de unidades para mudar a programação do sistema multimídia. A fábrica optou pelo envio de um pen drive de atualização. O órgão de segurança veicular do governo americano (conhecido pela sigla NHTSA) investiga se outros fabricantes poderiam igualmente ser afetados. Anomalias semelhantes, mas sem perdas nos controles de motor, direção e freios, já tinham sido detectadas e solucionadas pela BMW e suas subsidiárias Mini e Rolls-Royce.
Até mesmo a Tesla, marca americana de sedãs elétricos de luxo, sofreu um ataque planejado em baixa velocidade. A empresa se vangloriava de ser mais competente que os outros, mas dois especialistas em segurança cibernética demonstraram a ação. A Tesla reconheceu a vulnerabilidade e corrigiu o problema, embora alegasse que o teste fora executado a bordo e não a distância. Desculpa fraquinha.
Evolução não pode parar
Metade dos 75 milhões de veículos leves vendidos em todo o mundo este ano terá algum grau de conectividade. Daqui a 10 anos acredita-se que serão até 250 milhões, desde os convencionais até os de condução autônoma. Automóveis também deverão receber programas antivírus como os computadores pessoais de hoje? Algumas empresas especializadas nesses produtos, como a MacAfee, já começam a olhar com mais cuidado para esse mercado, mas é improvável que aconteça.
Fabricantes de veículos e de sistemas de informática já estão bem entrosados contra ações de hackers do mal. Atualizações poderão se tornar eventuais nas linhas de montagem, nas concessionárias ou mesmo por meio remoto e de forma automática, sem necessidade de recall. Mas, nunca se sabe…
O fato é que nada vai parar os avanços de conectividade. Nem o primeiro acidente com feridos leves do modelo de condução autônoma da Google nos EUA, apesar de provocado por um veículo comum. Uma prova do interesse crescente nesta tecnologia foi uma rara união de três grandes marcas rivais, Audi, BMW e Mercedes-Benz, para comprar por US$ 3 bilhões a plataforma de mapas digitais Here, da Nokia.
Precisão e confiabilidade de rotas são essenciais em um veículo que se autodirige e, também nesse caso, atualizações são cruciais para segurança e sucesso deste recurso. (UOL Carros/Fernando Calmon)