O Estado de S. Paulo
A perspectiva de nova alta da Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) hoje, que deve levar a taxa para 13,25% ao ano, tem favorecido o ingresso de recursos estrangeiros no Brasil e, ontem, mais uma vez derrubou as cotações do dólar em relação ao real. A moeda americana encerrou o dia cotada a R$ 5,86, com queda de 0,74%. Foi a primeira vez que o dólar ficou abaixo de R$ 5,90 desde o dia 26 de novembro.
Foi o sétimo pregão consecutivo de desvalorização da moeda americana, que já acumula queda de 5,03% neste mês, depois de ter subido 2,88% em dezembro, e 27,34% em 2024.
“Os investidores estão reavaliando suas posições, com alta dos juros aqui e estabilidade nos EUA, o que aumenta o spread da taxas. Além disso, tivemos arrecadação recorde em 2024 com a divulgação dos dados de dezembro, o que alivia um pouco o risco fiscal”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.
A diferença maior entre os juros aqui e nos EUA atrai investidores que captam dólares a taxas mais baixas e trazem o dinheiro para aplicar em reais na renda fixa aqui, onde a rentabilidade é mais alta, operação chamada de carry trade.
Como é esperada a manutenção dos juros entre 4,25% e 4,5% na reunião do Federal Reserve (o banco central americano), que também termina hoje, a elevação da Selic a 13,25% torna esse diferencial ainda mais atrativo.
Fator Trump
Na segunda-feira, o presidente americano, Donald Trump, reafirmou que pretende impor tarifas a importações globais “bem maiores” do que 2,5%, sem citar países, mas com menção a indústrias de semicondutores, aço, alumínio e cobre. O comentário veio após o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, ter dito ao Financial Times ser a favor de tarifas globais iniciais de 2,5%, que seriam elevadas gradualmente.
O economista Márcio Estrela, consultor da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), observa que, apesar de ameaça de tarifaço, Trump adotou um tom menos belicoso em relação à China e, até o momento, não impôs tarifas efetivas a parceiros comerciais dos EUA.
“Com um Trump light, ainda sem tarifas, abriu-se um espaço para o dólar cair, principalmente em relação ao real, que perdeu muito em dezembro. E também porque o Brasil, que tem um comércio equilibrado com os EUA, não é alvo prioritário de Trump”, afirma Estrela, para quem o quadro doméstico pode começar a ter peso maior na formação da taxa de câmbio com a volta do Congresso aos trabalhos na próxima semana.
Leilão
O Banco Central (BC) anunciou ontem à noite que fará hoje um “leilão de linha” (com compromisso de recompra). O objetivo é vender até US$ 2 bilhões, para rolar a recompra do mesmo montante prevista para o dia 4 de fevereiro, também resultante de um leilão de linha. Como mostrou o Estadão/Broadcast, o BC tem o compromisso de recomprar até US$ 17 bilhões este ano, como contrapartida de leilões realizadas no final de 2024. (O Estado de S. Paulo/Antonio Perez)