Anfir vê forte retorno do mercado de implementos sobre chassis no Brasil

Frota & Cia

 

Em avaliação exclusiva para a Frota&Cia, José Carlos Spricigo, presidente da Anfir (Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários), avalia o bom momento do setor e, diante da expectativa de crescimento do PIB do Brasil em 2,2%, de acordo com projeções conservadoras do FMI para 2025, o mercado de implementos rodoviários deverá passar de 159 mil para 165 mil unidades, um crescimento acima de 3%, diz: “Seria fantástico, não é?”

 

“No ano passado, o segmento apresentou bom desempenho. Foi um ano, de certa forma, positivo, mesmo com tudo o que aconteceu, como problemas de seca, problemas de chuva no Rio Grande do Sul, perda de safra, oscilação de preços e custos altos. Portanto, dentro das nossas projeções (Anfir), que era finalizar o ano de 2.024 com 160.000 implementos, ficamos muito perto desta meta com 159.203 unidades, o que veio ao encontro dos nossos números”, explica Spricigo.

 

Segundo o executivo, a linha leve foi o grande motor do crescimento de 5,4% no número de emplacamentos no ano passado. “Observamos um retorno forte do mercado sobre chassis, crescendo mais de 16%, impulsionado pelo varejo”, destaca. “A maioria dos associados da Anfir é formada por fabricantes de linha leve, com amplos destaques para os nichos de baú carga geral e, também, o frigorífico”, complementa.

 

Por outro lado, a linha pesada obteve um decréscimo no volume de emplacamentos de 1,91%, com 88.599 reboques e semirreboques. “Nós poderíamos, claro, ter tido um ano histórico, porque ainda falávamos, no início do ano, em bater a meta de 100.000 produtos. Mas, além de não chegarmos lá, tivemos um uma queda”, recorda Spricigo. “Um dos motivos foi a queda nas safras de grãos no ano passado, o que desacelerou a busca por graneleiros”, complementa.

 

Exportações

 

A performance, de acordo com o presidente da Anfir, foi prejudicada pela queda nas exportações. “Os países ao nosso redor não estão com uma economia pujante, como no caso do Chile, que era o maior comprador de implementos e estava com inventários muito grandes. O Paraguai ainda obteve uma participação razoável. Mas, também há mais dificuldades nos países africanos, onde temos a concorrência com os produtos chineses”, analisa.

 

Para Spricigo, as economias de outros países estão tão ruins, que elas não conseguem se aproveitar do fator cambial. “Ele (dólar alto) realmente fomenta as exportações. Por meio da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina, a gente vê que o dólar caro potencializa o comprador estrangeiro. Por exemplo, a indústria madeireira se beneficiou muito, assim como indústria de mobiliários. Isso acontece por serem bens de consumo e não de capital, como no caso da indústria de implementos, que demanda que outros países estejam gozando de crescimento econômico para que os negócios se mantenham aquecidos”, justifica.

 

Destaques

 

O crescimento mais significativo, entre as famílias de produtos, foi o de porta-container, com um incremento de mais de 100%, segundo dados da entidade. O resultado é atribuído ao aumento da movimentação de cargas, considerando o alto volume de importação, mesmo com a balança comercial positiva.

 

“Precisamos destacar, ainda, o setor frigorífico, que reflete uma maturidade do mercado, que demanda maior responsabilidade sobre o controle de alimentos durante toda a cadeia logística”, observa Spricigo. “Isso é muito positivo para o Brasil e eu acho que esse tipo de implemento ainda crescerá bastante”, complementa.

 

De acordo com a Anfir, o setor de tanques ultrapassou a marca de 9.000 unidades no ano, pela primeira vez em sua história. “Atribuímos tal desempenho ao aumento da movimentação de cargas nas estradas, que demandou incremento na importação de Diesel S10, o que foi positivo”, declara o presidente da entidade. “Outro grande destaque foi o Baú Carga Geral, aliado também ao crescimento que tivemos com o Baú Lonado. Foram mais de 10.000 unidades emplacadas em 2024”, complementa.

 

O impacto das locadoras

 

Sobre a retração de 1,91% nos emplacamentos da linha pesada, José Carlos Spricigo atribui a performance, em partes, ao mercado de locações. “É um setor que vem comprando muito e notamos um crescimento muito grande por meio de grandes empresas. Se trata de um segmento que investe para ter produto à pronta entrega e, como houve redução na demanda, impactada, especialmente, pelo menor desempenho do agro (gãos), os números foram menores. Isso segurou o basculante e o graneleiro. O graneleiro ainda teve a alavanca do quarto eixo, que foi responsável por 23% das vendas, ele começa a concorrer com a própria indústria. Então, como eles têm um estoque alto, um inventário alto, as locadoras fazem uma oferta muito atrativa, porque eles são grandes compradores e adquirem os produtos com preços diferenciados, tanto em automóveis, como caminhões, caminhões tratores e como implementos rodoviários”, analisa. “Para a indústria é extremamente importante esses pedidos enormes, porque se garante uma previsibilidade de compra, permitindo viabilizar toda a mão-de-obra, um planejamento bem legal”, complementa.

 

Ainda assim, mesmo que a indústria não tenha atingido a meta das 100.000 unidades de reboques e semirreboques, a Anfir celebra os 88.599 emplacamentos registrados ao longo de 2.024. “Há de se celebrar, porque é um bom número de implementos rodoviários e ‘Oxalá’ nós possamos repetir esse número em 2025”, declara Spricigo. “A gente sempre quer crescer, mas a gente vê incertezas ainda para ao longo deste ano”, complementa.

 

Tendências

 

Implemento não pode ser mais apenas uma caixa para carregar coisas. Há muita tecnologia envolvida para acompanhar as necessidades do mercado por melhor eficiência do transporte e maior controle da operação. Diante desta realidade, José Carlos Spricigo, presidente da Anfir, aponta as principais evoluções que devem permear o setor a partir de 2025.

 

“Vimos o lançamento da Randon na Fenatran (AT4T), um veículo rebocador independente para usos em áreas fechadas, como portos. Há a luta pela descarbonização por meio do ‘aço verde’, entre outras iniciativas voltadas para a redução de peso e melhor aproveitamento dos recursos, o que é um caminho sem volta”, avalia Spricigo. “Também veremos significativos avanços na gestão de frota de implementos (telemetria), que precisam ter a mesma qualidade de comunicação e riqueza de dados vistos nos caminhões, influenciando o melhor aproveitamento dos produtos. Podemos citar as tecnologias de balança embarcada, rastreamento via satélites, entre outros quesitos importantes para a decisão de compra, sobretudo por parte dos grandes frotistas e das locadoras”, complementa.

 

Caminhão frigorífico óleo sobre tela

 

Segundo o executivo, a Anfir levantará a bandeira pela adoção da telemetria no país. “Podemos começar por algum mercado específico, por exemplo, o setor de alimentos. A questão de análise de temperatura é fundamental para o transporte de alimentos, assim como para o de fármacos, onde esse tipo de controle é fundamental para assegurar a qualidade do produto. É o exercício de um futuro muito próximo, que já está presente, mas que nós temos que motivar, pois se trata de qualidade de alimentação”, diz.

 

Caminhão 8×4 VS Bitrem

 

A maior utilização de caminhões 8×4 tem reduzido a necessidade por bitrens no país, mesmo sendu um tipo de semirreboque extremamente seguro, sobretudo o basculante, segundo avaliação de Spricigo. “A chegada do quarto eixo trouxe uma dificuldade maior para o bitrem, especialmente pela questão do peso. Ele eleva a 39 toneladas líquidas e, então, ele (8×4) tem substituído o bitrem por causa do quarto eixo, o que justifica sua queda nas vendas”, compara. “É o tipo de demanda que surge a partir das conversas com os clientes, sendo um movimento natural e saudável”, complementa.

 

Atualmente, 23% das vendas dos implementos rodoviários pesados no país são para este segmento de quarto eixo, representando quase quarto do mercado, o que é muita coisa. “Claro que o bitrem perde espaço, mas ainda sobrevive por clientes que já estão habituados e confiam na segurança que o bitrem traz”, diz o executivo.

 

Expectativas 2025

 

Para este ano, a Anfir projeta um crescimento na casa de 3% para o setor, acima da projeção do PIB divulgado pelo FMI para o Brasil. “Nas reuniões do Conselho de Administração da Anfir, estamos prevendo de 80 mil a 90 mil implementos da linha pesada para 2025, o que é uma margem muito grande, mas que se justifica pelas incertezas da economia brasileira”, alerta Spricigo.

 

De acordo com a Anfir, “o PIB aquecido é importante, pois trabalhamos com bens de capital. Mas, também precisamos ter o frete aquecido por puxar uma demanda mesmo num cenário de juros mais altos, já que – geralmente – o cliente compra e trabalha para pagar o seu produto. Se enfrentarmos essa situação e com o bom desempenho do agro, podemos repetir esse desempenho em torno das 90 mil unidades de implementos da minha pesada”, avalia o executivo. (Frota & Cia/Gustavo Queiroz)