O Estado de S. Paulo
Em 2023, no primeiro ano do terceiro mandato de Lula, a economia brasileira cresceu 3,2%. No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter avançando um pouco mais de 3,5% – o dado será conhecido em março – e as projeções para 2025 e 2026 indicam uma alta próxima de 2%.
Desde o início do governo, existia uma grande desconfiança com relação ao futuro das contas públicas do Brasil. No fim do ano passado, a equipe econômica apresentou um projeto de contenção dos gastos públicos com o objetivo de garantir a sobrevivência do arcabouço fiscal e tentar recuperar a credibilidade fiscal do País. O pacote, porém, foi mal recebido. As medidas foram consideradas aquém do necessário para uma economia que precisa controlar seu endividamento – que tende a ser crescente ao longo dos próximos anos.
O mau humor cresceu ainda mais porque a equipe econômica apresentou junto uma proposta de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Embora o governo tenha proposto a taxação de quem recebe mais de R$ 50 mil mensais para compensar a isenção do IR, há uma grande preocupação com uma possível perda de arrecadação bilionária. A medida também foi vista como uma derrota da ala econômica.
“O que nos preocupa é que não estamos enxergando condições políticas para o presidente Lula encaminhar uma nova rodada de ajuste fiscal capaz de apaziguar a crise de confiança que estamos vendo nas contas públicas”, afirma Christopher Garman, diretor da Eurasia Group para as Américas. “O que não significa que não haverá respostas. Acredito que a equipe econômica terá condições de encaminhar medidas de contenção de gastos discricionários para tentar cumprir a meta de 2025.”
Resultado primário
A equipe econômica também promete entregar uma meta de resultado primário zero em 2025 e um superávit de 0,25% do PIB no ano que vem. Os alvos já foram mais ambiciosos, mas foram alterados em abril do ano passado. “É muito imprevisível não apenas o que vai acontecer quando essa desaceleração chegar, mas até depois. Não é dado como certo que, após uma desaceleração, vai haver uma mudança de política econômica”, diz Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management. “Existe uma incerteza muito grande sobre como vamos viver os próximos dois anos.”
Não houve um alívio nos preços dos ativos desde que o pacote de contenção de gastos foi apresentado. O combo de medidas fez com que o dólar ultrapassasse e se consolidasse acima do patamar de R$ 6. Os juros futuros dispararam. No relatório Focus desta semana, os analistas esperam que o Banco Central suba a taxa básica de juros (Selic) – atualmente em 12,25% ao ano – para 15% – patamar que seguirá até o fim do ano.
“Quando você olha as projeções do relatório Focus, por exemplo, elas são de um pouso suave. O gasto vai subir menos em 2025 e a taxa de juros vai estar extremamente alta. É menos aumento de gastos e mais juros para tentar segurar um pouco a economia e a inflação e, talvez, esse cenário crie algum espaço para a inflação estar mais baixa em 2026”, diz Armando Castelar, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre).
“O problema é que esses pousos nem sempre são tão tranquilos assim”, acrescenta. “Quando desacelerar, o mercado de trabalho vai sentir, a folha salarial vai sentir. Como se evita um aumento mais forte de inadimplência, de problema de crédito? Esse é um risco. Um outro risco é a economia desacelerar, e o governo dizer que não quer isso, porque tem eleição no ano que vem”. (O Estado de S. Paulo/Luiz Guilherme Gerbelli)