O Estado de S. Paulo
O investidor estrangeiro deve se manter distante do Brasil com a persistência de temores em relação ao quadro fiscal do País e a perspectiva de menos cortes de juros nos EUA com Donald Trump. Bancos de Wall Street, como JPMorgan e Morgan Stanley, e da Europa – entre eles Julius Baer e HSBC – têm rebaixado a recomendação para a compra de ativos brasileiros, num movimento em cascata. Ao longo de 2024, a participação do Brasil em fundos globais caiu. O peso do País no índice de ações MSCI Emerging Markets foi de cerca de 4% em dezembro, ante 5,8% no fim de 2023. Quando detinha grau de investimento (perdido em 2015, no governo Dilma Rousseff), o Brasil chegou a ter participação de 17%.
A persistência de temores em relação ao quadro fiscal no Brasil, que não foram apaziguados com o pacote apresentado em novembro passado pelo governo, e a perspectiva de menos cortes de juros nos Estados Unidos no ano em que Donald Trump retorna à Casa Branca, devem manter o investidor estrangeiro distante do País em 2025.
Bancos de Wall Street como JPMorgan e Morgan Stanley, mas também da Europa – entre eles, o suíço Julius Baer e o HSBC – têm rebaixado a recomendação para a compra de ativos brasileiros num movimento em cascata diante da piora das expectativas e da falta de visibilidade para a reversão desse cenário à frente.
Ao longo do ano passado, a participação do Brasil em fundos globais, que já era baixa, minguou ainda mais. O peso do País no índice de ações MSCI Emerging Markets (MSCI EM), uma das principais referências para investidores estrangeiros, caiu para cerca de 4% em dezembro, ante 5,8% no fim de 2023. Com isso, o Brasil foi desbancado pela Arábia Saudita, que se consolidou na quinta colocação do índice pela primeira vez na história. Nos tempos áureos, quando de
Referência
Peso do País no índice de ações MSCI Emerging Markets caiu para cerca de 4%, ante 5,8% em 2023 tinha grau de investimento (perdido em 2015, no governo Dilma Rousseff), o Brasil chegou a registrar participação de 17%.
Para o diretor da consultoria política Eurasia Group para as Américas, Christopher Garman, dificilmente o estrangeiro vai querer entrar com investimentos mais fortes no Brasil ao longo de 2025. Pesam, sobretudo, as incertezas sobre como os riscos domésticos podem se desenrolar adiante em um cenário de maior cautela externa com Trump de volta à Casa Branca, explica. Além disso, os juros nos EUA podem sofrer apenas um corte de 0,25 ponto porcentual neste ano, como mostra monitoramento da plataforma CME Group, o que deve manter baixo o apetite estrangeiro por países emergentes.
“O investidor estrangeiro ainda enxerga o Brasil de uma forma um pouco menos alarmista que o doméstico, mas essa distância se estreitou com a crise de confiança que o Brasil atravessou nos últimos meses”, avalia Garman, baseado em Washington, nos EUA.
A equipe econômica tem rebatido as avaliações do mercado. Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, previu que o País chegará “mais arrumado” em 2026 (último ano do atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva), em relação ao quadro herdado de Jair Bolsonaro, se conseguir tirar todas suas propostas do papel.
Em recente entrevista ao Estadão/Broadcast, o diretor de Pesquisa Macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, alertou que os investidores “jogaram a toalha” para o Brasil.
Antes mesmo da aprovação do pacote de contenção de gastos no Congresso, no fim do ano passado, bancos como os americanos Morgan Stanley e o JPMorgan já haviam se antecipado às medidas e rebaixado a recomendação para “comprar” ativos do Brasil aos seus clientes, em meio às preocupações com a situação fiscal.
Na sequência, o suíço Julius Baer – que, em reestruturação, vai deixar o País depois de vender seu negócio de gestão de fortunas ao BTG Pactual – também revisou a recomendação das ações de empresas brasileiras de “overweight”, ou seja, exposição acima da média (equivalente à compra), para neutra. Ao justificar a mudança de avaliação, o banco falou em uma “corrosão de credibilidade fiscal”.
Na semana passada, foi a vez do HSBC. O banco rebaixou a recomendação de ações brasileiras de neutra para “underweight”, equivalente à venda, e disse que considera o Brasil uma “armadilha clássica de valor”.
O chamado “downgrade” dos bancos estrangeiros acompanha o pior ano da Bolsa brasileira sob a ótica externa desde 2020. Em 2024, o fluxo de capital externo ficou negativo em mais de R$ 32 bilhões. E, para o HSBC, o mercado brasileiro dificilmente terá uma melhora na recomendação até que os juros passem a cair. (O Estado de S. Paulo/Aline Bronzati)