O Estado de S. Paulo
A prévia da inflação oficial no País desacelerou de uma alta de 0,19% em agosto para 0,13% em setembro. Contrariando as expectativas de economistas, a taxa foi a mais branda desde julho de 2023, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado surpreendeu mesmo os analistas do mercado financeiro mais otimistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma elevação de preços entre 0,18% e 0,33%, com mediana positiva de 0,28%. A taxa acumulada em 12 meses pelo IPCA-15 arrefeceu pelo segundo mês consecutivo, descendo de 4,35% em agosto para 4,12% este mês.
Em setembro, as famílias gastaram menos com despesas pessoais e com transportes. As passagens aéreas subiram 4,51%, mas a pressão sobre a inflação foi integralmente absorvida pela redução de 0,66% no preço da gasolina. O etanol também ficou mais barato nos postos: -1,22%.
Nos supermercados, o custo da cebola caiu 21,88%, fazendo o item liderar o ranking de alívios sobre a inflação no mês. As famílias também pagaram menos pela batata-inglesa (13,45%) e pelo tomate (10,70%). Por outro lado, houve aumentos em setembro no mamão (30,02%), banana-prata (7,29%) e café moído (3,32%).
O maior vilão da prévia da inflação de setembro foi a energia elétrica residencial, com alta de 0,84%. O movimento foi impulsionado pela entrada em vigor da bandeira tarifária vermelha patamar 1, a partir de 1.º de setembro, que adiciona cobrança extra sobre o consumo na conta de luz. Também figuraram no ranking de maiores pressões sobre o IPCA-15 do mês os itens mamão, passagem aérea, plano de saúde e hospedagem.
Os gastos com o grupo alimentação e bebidas saíram de uma redução de 0,80% em agosto para uma elevação de 0,05% em setembro. O custo da alimentação no domicílio caiu 0,01%, mas a alimentação fora do domicílio aumentou 0,22%.
Avaliação
“O IPCA-15 de setembro veio significativamente abaixo da nossa expectativa e com abertura bem melhor do que a esperada, especialmente em função da surpresa de baixa em serviços subjacentes”, disse Luciana Rabelo, em relatório do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco.
Após o IPCA-15 de setembro, a gestora de recursos G5 Partners reduziu sua projeção para o IPCA fechado deste mês, de 0,55% para 0,45%, embora tenha mantido a projeção do ano em 4,4%. A gestora reforçou sua expectativa por novos cortes de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
“Na análise dos dados qualitativos, só tivemos boas notícias”, disse o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, em nota. “Certamente o BC não irá pautar as suas decisões futuras por um resultado pontual, ainda mais sendo este o IPCA-15, índice famoso por seus ‘falsos positivos’, mas, sem dúvida, esse é um resultado que não deverá passar despercebido pelo Copom”, completou.
O economista Alexandre Maluf, da XP Investimentos, disse que esperava um efeito maior de secas sobre os preços. “Principalmente em frutas veio uma inflação um pouco menor e também em açúcar (do que o previsto), por conta das queimadas”, disse. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Anna Scabello)