Motor 1
Desde maio, o boletim mensal da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) não registra sequer um Citroën C4 Cactus emplacado no Brasil. Contudo, ao visitar a fábrica da Stellantis em Porto Real (RJ), na semana passada, vimos alguns poucos exemplares do modelo na linha de produção, entre tantos Citroën C3, C3 Aircross e Basalt.
No site da Citroën do Brasil, ainda é possível montar o C4 Cactus em todas as suas quatro versões e com as duas opções de motor. E mais: numa recente foto oficial dos carros produzidos pela Citroën no Sul Fluminense, feita para marcar o lançamento do Basalt, lá está o veterano Cactus entre seus “sobrinhos” da atual família C-Cubed.
Afinal, o Cactus ainda está à venda ou não?
“O carro foi descontinuado, então já não temos no salão para venda. A fábrica manda por encomenda caso ainda exista algum lá no estoque. Pelo que sei, só tem THP 23/24, nas versões Noir e Shine Pack”, explica o gerente de uma concessionária no Rio.
Em outra loja, ainda encontramos um solitário Cactus para pronta-entrega no salão, na versão topo de linha THP Shine Pack. Trata-se de um carro 2023/2024. Ao lado, um cartaz informa o preço de R$ 141.640 (próximo aos R$ 141.990 que constam no site da Citroën), mas o vendedor, muito simpático, diz:
“Sai por R$ 125.990, com emplacamento e IPVA grátis. Está na promoção para dar lugar ao Basalt, que chega nas próximas semanas. Se o senhor preferir, consigo um Cactus Feel, com motor 1.6 aspirado, por R$ 114.990. Chega em dez dias, mas são todos 23/24”.
No site da marca, o Feel 1.6 aspirado aparece cotado a R$ 125.990.
Em uma terceira concessionária, o vendedor tenta justificar o sumiço dos Cactus:
“O carro saiu de linha, mas dizem que volta no ano que vem depois do facelift”.
O fato é que os Cactus que vimos na linha de produção de Porto Real são destinados principalmente à exportação para Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Costa Rica, República Dominicana, Peru e Colômbia. E assim, provavelmente, continuará até 2026 — data prevista para chegada de um novo modelo com plataforma CMP à fábrica sul fluminense.
É algo semelhante ao que acontece com o velho motor EC5, de quatro cilindros,1,6 litro, aspirado: Porto Real ainda produz 168 unidades por dia, para o mercado externo.
Consultada, a Stellantis foi lacônica em sua resposta oficial: “O modelo segue em comercialização”. Até o fechamento desta reportagem, contudo, a empresa não passou os atuais números de produção e exportação do C4 Cactus.
Segundo o levantamento da Fenabrave, foram emplacados no Brasil apenas 648 Cactus entre janeiro e maio de 2024. Desde então, o modelo sequer figura entre os 40 SUVs mais vendidos no país — simplesmente não aparece nos boletins de junho, julho e agosto. Como referência, entre janeiro e maio do ano passado, foram 1.688 emplacamentos, o que já era bem pouco.
História
Lançado na França em 2014, o Cactus nasceu para ser um “modelo essencial”, simples e prático de usar. Era um SUV compacto cujo desenho original (Fase 1) chamava a atenção pelas diversas sacadas incomuns incorporadas pelo designer britânico Mark Lloyd, diretor do Centro de Criação da Citroën em Paris. O maior destaque eram as laterais protegidas de pequenos impactos por largas faixas de poliuretano termoplástico, que traziam em sua estrutura 15 almofadinhas de ar de cada lado. Eram os “airbumps”, que também estavam presentes nos para-choques.
As lanternas traseiras quadradas, unidas por uma faixa que contrastava com a cor da carroceria, eram uma referência ao Peugeot 205 (1982-1998), enquanto as colunas C lembravam as do Citroën BX (1982-1994). O painel com duas telas digitais, sendo a central multimídia no topo do tablier, ainda era considerado algo inovador na época.
Outra peculiaridade era a migração do airbag do passageiro do painel para o teto, sob o para-sol, como forma de liberar espaço para o porta-luvas. Em vez de maçanetas internas convencionais, as portas eram abertas puxando-se pequenas alças de tecido grosso. As janelas traseiras eram basculantes.
Equipado com a plataforma PF1 (a mesma dos primeiros Citroën C3 e C4, bem como dos primeiros Peugeot 208 e 2008), o C4 Cactus recebia na Europa o motor 1.2 PureTech, de três cilindros. Havia também versões de quatro cilindros, a gasolina ou a diesel.
Fabricado em Madri, Espanha, esse Cactus original em estado bruto só durou quatro anos. Jamais foi vendido no Brasil, mas sim em países vizinhos, como o Uruguai.
Fase 2
Em 2017, a França decidiu encerrar a produção do C4 II hatch e concentrar a linha no C4 Cactus. Para tanto, lançou em 2018 uma Fase 2 do modelo, com jeitão mais convencional: o que era um SUV exótico foi suavizado visualmente a ponto de se tornar um “hatch alto”.
Os airbumps se tornam mais discretos, menores e localizados na parte inferior das portas. A dianteira foi completamente redesenhada, com a grade adotando o estilo de outros modelos da marca, como o C3 Aircross e o C4 Picasso.
Ainda em 2018, a PSA Peugeot Citroën passou a produzir o Cactus Fase 2 no Brasil, com algumas diferenças em relação ao que era fabricado na Europa. Todas as versões traziam racks no teto, suspensão mais alta e vidros das portas traseiras que subiam e baixavam (em vez de serem basculantes). Sua pintura “biton” também causou impacto!
O motor podia ser o EC5 1.6 aspirado, de 118 cv ou — aí a melhor parte — o 1.6 THP, turbocomprimido e com injeção direta, de 173 cv. Assim equipado, o Cactus tinha uma ótima relação peso/potência (7,02 kg/cv), sendo um carro muito divertido de guiar. Pudera: o motor 1.6 THP (seu nome oficial é EP6) foi desenvolvido em conjunto com a BMW, sendo usado também nos Séries 1 e 3, assim como nos Mini.
Apesar de suas inegáveis qualidades, o Cactus Cactus nunca fez muito sucesso no Brasil. Desde seu lançamento por aqui, em agosto de 2018, o modelo teve 71.639 unidades emplacadas no país. Seu melhor ano foi 2021, quando ficou em 14º no ranking geral das vendas, com 19.552 carros, ficando à frente de modelos como VW Polo, Peugeot 208, Chevrolet Spin e Renault Sandero.
O C4 Cactus Fase 2 deixou de ser produzido na Europa em outubro de 2020. Lá, deu vez a dois modelos: o C3 Aircross (A88, bem diferente do nosso) e o C4 de terceira geração (C41). Desde então, o Cactus é fabricado apenas em Porto Real. Agora, está tendo um fim melancólico, enquanto aguarda ser substituído de vez pelo Basalt no Brasil. (Motor 1/Jason Vogel)