Sem divisões, Copom eleva Selic em 0,25 ponto; nos EUA, corte de 0,50

O Estado de S. Paulo

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou ontem um aumento de 0,25 ponto porcentual para a taxa básica de juros, que passou de 10,5% para 10,75% ao ano. Foi a primeira alta da Selic desde o início do atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – um ferrenho crítico da atual política monetária. O último aumento da taxa havia sido em agosto de 2022 (13,75%).

 

A decisão foi unânime entre os integrantes do colegiado, com o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, votando com o atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. Galípolo foi o nome indicado por Lula para assumir o comando do BC a partir de 2025, com o fim do mandato de Campos Neto, e existia no mercado o receio de que uma cisão do Copom pudesse indicar no futuro uma postura mais leniente com o controle da inflação.

 

Questionado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou não ter sido “surpreendido” pela decisão, mas que só faria comentários após a publicação da ata da reunião – prevista para a próxima terça-feira.

 

A “superquarta” também teve decisão do Federal Reserve (Fed). Diferentemente do Copom, o banco central americano decidiu cortar a taxa básica do país em 0,5 ponto, na primeira redução desde 2020. Entre as razões apresentadas, está a “maior confiança” na redução dos preços.

 

No comunicado divulgado após a reunião, o Copom disse que a alta da Selic é resultado de um cenário marcado por resiliência na atividade econômica doméstica, por pressões no mercado de trabalho e expectativas “desancoradas” para a inflação – isto é, distantes da meta oficial, de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto.

 

Os analistas, porém, chamaram a atenção para dois outros pontos do texto. O primeiro foi o reconhecimento de um “hiato positivo”, o que significa uma economia crescendo além do seu potencial – com pressão sobre a inflação. O outro ponto se refere à citação de uma “assimetria altista” do “balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação” (avaliação que não apareceu, claramente, em comunicados anteriores). Em outras palavras, haveria mais riscos de alta do que de baixa dos preços.

 

Os dois pontos levaram alguns analistas a projetar que o Copom pode aumentar a dosagem de alta da Selic tanto na reunião de novembro quanto na de dezembro – de 0,25 para 0,5 ponto. No comunicado, o colegiado diz apenas que novas decisões vão “depender da evolução da dinâmica da inflação”.

 

O anúncio do Fed ainda pegou o mercado aberto no Brasil. O dólar chegou a ser vendido a R$ 5,41 no meio da tarde, para fechar a R$ 5,46 (recuo de 0,48%). Já o Ibovespa, principal indicador da Bolsa, registrou queda de 0,90%, com os investidores preferindo cautela antes da decisão do Copom. (O Estado de S. Paulo/Cícero Cotrim e Célia Froufe)