O Estado de S. Paulo
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne a partir de hoje e anuncia amanhã a nova taxa básica de juros da economia. De acordo com o Projeções Broadcast, o mercado financeiro aposta majoritariamente que a taxa Selic vai subir 0,25 ponto, passando a 10,75% ao ano. A perspectiva de retomada do aperto monetário ganhou força desde a reunião de junho do Copom, como reflexo das expectativas de inflação que seguiram acima da meta de 3% perseguida pelo BC, da desvalorização cambial e de posicionamentos mais duros dos membros do próprio Copom. O crescimento de 1,4% do PIB, divulgado há duas semanas, também consolidou a percepção de atividade econômica aquecida no País e necessidade de alta nos juros. O boletim Focus, em que o BC capta previsões de instituições financeiras, elevou a projeção da inflação em 2024 e vê a Selic em 11,25% no fim do ano.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central define, na reunião que começa hoje e termina amanhã, a nova taxa básica de juros (Selic) do País. A aposta majoritária do mercado financeiro é de que a Selic vai subir 0,25 ponto porcentual, passando para 10,75% ao ano. Essa é a previsão de 53 das 61 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast. Seis casas preveem manutenção do juro em 10,5%, enquanto outras duas apostam em elevação de 0,50 ponto na Selic.
Ainda segundo economistas do mercado, a alta não deve parar por aí. Para 26 dessas instituições, a Selic vai terminar o ano num patamar de 11%. Outras 23 acreditam que o juro vai a 11,25%, enquanto para 21 a taxa será ainda maior: 11,75%. Duas projetam 11,5%, enquanto seis acreditam que a Selic não será mexida até o fim ano, terminando no mesmo patamar atual de 10,5%.
A perspectiva de retomada do aperto monetário ganhou força no mercado desde a reunião anterior do Copom, no fim de julho, como reflexo das expectativas de inflação que seguiram descoladas da meta de 3% perseguida pelo BC, da desvalorização cambial e de falas mais duras dos próprios membros do Copom. O crescimento de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado em 3 de setembro, um resultado acima do esperado pelo mercado, também consolidou a percepção de atividade econômica aquecida e necessidade de alta no juro, observam os analistas.
Após um longo período de aperto monetário, o BC começou a cortar os juros em agosto do ano passado. Na ocasião, a taxa estava em 13,75% e passou a 13,25%. De maio para cá, a taxa tem sido mantida em 10,5%.
O BTG Pactual está entre as instituições que preveem alta de 0,25 ponto no juro agora em setembro. Na avaliação do economista do banco Álvaro Frasson, a Selic em 10,5% é contracionista, ou seja, capaz de frear a atividade econômica, mas alguns dados mostram que a taxa não tem sido eficiente como se imaginava (mais informações na pág. B2).
Na semana passada, o Goldman Sachs também ajustou suas projeções para a Selic, passando a prever alta de 0,25 ponto em setembro, elevação de 0,50 ponto em novembro e mais uma alta de 0,25 ponto em dezembro, levando o juro básico a 11,25% ao final deste ano. O Itaú Unibanco também incorporou uma alta da Selic na reunião desta semana, com a perspectiva de a taxa atingir 12% em janeiro de 2025.
O Itaú argumentou que, considerando um câmbio de R$ 5,60 e alguma revisão do espaço que o PIB tem para se expandir sem estimular a inflação, o modelo utilizado pelo Copom indicaria uma inflação de 3,4%, o que justificaria o aperto monetário agora. “Com tal projeção, estimamos que a taxa de juros necessária para trazer o IPCA de volta à meta seria de pelo menos 12%”, disse o banco.
As projeções do relatório Focus para a inflação voltaram a subir. Na edição publicada ontem pelo Banco Central, a mediana das projeções dos analistas do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024 subiu de 4,3% para 4,35%, a nona alta semanal consecutiva, aproximando-se ainda mais do teto da meta, de 4,5%. A mediana para o IPCA de 2025 também subiu e passou de 3,92% para 3,95%.
As projeções do mercado descolam cada vez mais dos números do Banco Central, que projeta inflação de 4,2% este ano e de 3,6% em 2025, no cenário de referência. No cenário alternativo, o BC projeta IPCA de 4,2% em 2024 e 3,4% no próximo ano.
No último ciclo de comunicações, o Comitê de Política Monetária (Copom) informou que considera o primeiro trimestre de 2026 como o horizonte relevante para a definição do nível dos juros no País. Nesse período, o Copom espera que a inflação acumulada em 12 meses atinja 3,2%, no cenário com a Selic estável em 10,5%.
Depois da forte correção na semana passada, a mediana das projeções do relatório Focus para a taxa Selic no fim de 2024 continuou em 11,25% ao ano, 0,75 ponto porcentual acima do atual patamar, de 10,5%. O Copom se reúne hoje para definir amanhã se volta ou não a subir a taxa referencial dos juros no País.
A projeção do mercado para a Selic no fim de 2025 também subiu, passando de 10,25% para 10,50% ao ano. Há quatro semanas, era de 10%.
Alta maior do PIB
O mercado também elevou suas expectativas para o crescimento do País. A mediana das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano saltou de um avanço de 2,68% para 2,96%. A mediana do Focus para a alta do PIB de 2025 seguiu em 1,90% – há um mês era de 1,89%.
Os economistas do mercado não alteraram as projeções de crescimento da economia em 2026 e 2027. A última estimativa divulgada pelo BC, no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho, indicava crescimento de 2,3% para o PIB brasileiro este ano. O Ministério da Fazenda espera que o PIB brasileiro cresça 3,2% em 2024, de acordo com revisão publicada na última sexta-feira.
As projeções para o dólar também seguem pressionadas. A mediana das projeções dos analistas para a moeda americana no fim deste ano oscilou de R$ 5,35 para R$ 5,40. E a estimativa intermediária para o fim de 2025 passou de R$ 5,30 para R$ 5,35. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Rodrigues)