Investimento bilionário da GM no Brasil mostra como montadoras voltaram a respirar

Monitor do Mercado

 

A General Motors (GM) anunciou um investimento de R$ 5,5 bilhões em São Paulo, como parte do pacote de R$ 7 bilhões que serão aplicados entre 2024 e 2028 no desenvolvimento de motores híbridos flex, atualização de portfólio e modernização das instalações da empresa. O comunicado, feito no dia 4 de setembro, mostra como as montadoras voltaram a respirar no Brasil, depois de um período de enxugamento de contas e demissões.

 

A notícia veio em um momento otimista do cenário automotivo brasileiro, que tenta se restabelecer, recuperando-se os traumas desde a saída da Ford, em 2021. Agora, as grandes montadoras voltam a aquecer o mercado, com projeções de investimentos na casa dos R$ 125 bilhões até 2033.

 

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) esse é o maior ciclo de aportes do setor na história, o que sugere o ressurgimento das montadoras no Brasil, com novas tendências de consumo, tecnologia e sustentabilidade.

 

Turbulência em meio à inflação e pandemia de Covid-19

 

Depois da crise por falta de matéria-prima para a produção de microchips, durante a pandemia de Covid-19 (2020-2021), o setor automotivo tentava resistir, quando gerava 106,6 mil empregos e teve que eliminar 7 mil postos de trabalho.

 

Em 2020, as montadoras viram uma redução de 26,16% na venda de veículos novos em comparação com 2019, considerando automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Em 2021, houve um avanço de 2,98% nos emplacamentos na comparação com 2020, porém ainda 23,96% abaixo do resultado registrado em 2019.

 

Encerramentos das operações

 

Entre as empresas que encerraram suas operações no Brasil, a Ford ocupa lugar de destaque. Após fechar as portas em Camaçari (BA) e Taubaté (SP) e sair do país, a montadora passou de 5ª maior em emplacamentos no Brasil para o 12º lugar, entre veículos e comerciais leves, conforme dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

 

Segundo a empresa, desde a crise econômica em 2013, se acumulavam perdas significativas, agravadas com a pandemia e a matriz, nos Estados Unidos, passou a auxiliar nas necessidades de caixa.

 

No período, além da Ford, a Troller em Horizonte (CE), a Caoa Chery em Jacareí (SP) e a Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP) fecharam operações inteiras. Outras, pararam a produção como estratégia de contenção de crise, como GM, Hyundai, Volkswagen, Mercedes-Benz e Stellantis, dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citröen.

 

No segundo semestre de 2023, a General Motors anunciou aproximadamente 1.200 demissões nas linhas de produção de São Paulo, incluindo as unidades de São Caetano do Sul, São José dos Campos e Mogi das Cruzes, que posteriormente foram suspensas pela Justiça do Trabalho.

 

Principais fatores que contribuíram para a crise de 2023

 

Segundo analistas, os principais fatores que desencadearam a última crise no setor automotivo em 2023 foram o encarecimento do crédito (com a alta taxa de juros mantida no Brasil), a redução do poder de compra, o aumento da inadimplência de veículos, que atingiu o maior patamar desde 2013, e a escassez global de semicondutores, os microchips.

 

Primeiros sinais pós-crise

 

Agora em 2024, há sinais de que cadeia de fornecimento esteja voltando à normalidade, com expectativa de melhora na perspectiva de crédito diante de cortes na taxa básica de juros desde agosto passado e expectativas para os dados econômicos positivos no Brasil e Estados Unidos.

 

Além dos recordes de investimentos anunciados pelas montadoras, o próprio incentivo à indústria percebido com a reforma tributária e programas do governo federal de incentivo ao setor automotivo são determinantes para incentivar a retomada das montadoras no Brasil.

 

O atual cenário para atuação da GM sua nova estratégia de expansão parece otimista. No segundo trimestre de 2023, a empresa vendeu 84 mil veículos no Brasil, que corresponde a um market share de 13,4%, considerando o total de 328 mil vendas do mercado, ante os 6,18 milhões de vendas da empresa pelo mundo.

 

No mesmo ano, as vendas totais líquidas e receita da GM International (com exceção dos Estados Unidos) avançaram 3,4%, de US$ 15,42 bilhões para US$ 15,95 bilhões.

 

Inovação na indústria automotiva

 

Segundo Rory Harvey, vice-presidente executivo e presidente de mercados globais da General Motors, os investimentos anunciados pela empresa devem fortalecer os planos da mobilidade sustentável e impulsionar o crescimento da empresa no país, que será o primeiro mercado a oferecer a tecnologia híbrida flex da GM no mundo.

 

Segundo Santiago Chamorro, presidente da GM América do Sul, a produção de veículos híbridos flex no país deve fortalecer a indústria e reiterar o compromisso com ações ESG, como a descarbonização ao agregar benefícios do uso de biocombustível e da eletrificação. “Vamos iniciar a produção local com dois modelos híbridos leve, que vão permitir o acesso a esta nova tecnologia a um maior número potencial de consumidores’’, explica.

 

Além dessa tecnologia híbrida, a empresa também estuda outras inovações para o setor, como o híbrido plug-in flex, que permite o veículo ser abastecido com etanol, gasolina ou energia elétrica e pretende investir na ampliação da linha de veículos elétricos a partir de 2025.

 

Relevância do investimento para a economia

 

São Paulo foi a primeira região de atuação da General Motors no Brasil e continua sendo visto de forma estratégica pela empresa com foco no desenvolvimento de tecnologias avançadas e na oferta de serviços. Desde 1925, quando a GM chegou no país, já foram produzidos mais de 13 milhões de veículos no estado.

 

Os recursos anunciados terão como destino as duas plantas de fabricação de automóveis da empresa no estado, em São Caetano do Sul, onde fica o Centro Tecnológico da GM na América do Sul, e a de São José dos Campos.

 

O vice-presidente sênior da GM e presidente da GM International, Shilpan Amin, diz que todo o investimento sustentará a maior transformação na história da GM no país. “A Chevrolet faz parte da história do Brasil, desempenhando um papel fundamental na economia e na vida das famílias há gerações”, completa.

 

Além das iniciativas para tornar os processos de produção mais sustentáveis, a empresa investiu na modernização da automação nas fábricas e sistemas dos operadores por meio da instalação de mais de 150 robôs em todas as linhas de produção no estado de São Paulo.

 

Destinação dos valores

 

O montante de R$ 5,5 bilhões que a GM aportará em São Paulo equivale a aproximadamente 80% do total que a empresa desembolsará com o projeto entre 2024 e 2028.

 

Do valor restante do projeto a completar os R$ 7 bilhões já anunciados, R$ 1,2 bilhão será destinado à fábrica de Gravataí (RS) e R$ 300 milhões serão investidos na unidade de motores em Joinville (SC).

 

Durante o anúncio do investimento, o governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciou a liberação de créditos de ICMS para a General Motors a fim de viabilizar os investimentos e “amortecer o capex” (investimentos em capital fixo). No entanto, ainda não se sabe qual será o estoque de crédito disponibilizado pelo estado.

 

Cenário atual

 

O retorno em alto estilo da GM à indústria automotiva no Brasil ocorre em meio a um cenário de concorrência, com o movimento crescente de montadoras de veículos chinesas chegando ao país. Além da já conhecida Chery e BYD, a GWM, que já tem operações em desenvolvimento no país.

 

No acumulado de vendas considerando o período de janeiro a agosto deste ano, somando veículos leves e pesados, somam-se 1,622 milhão de unidades —13,4% a mais que o mesmo período de 2023. (Monitor do Mercado/Gabriela Santos)