Seca acende alerta de alta nos preços de energia, alimentos e combustíveis

O Estado de S. Paulo

 

A maior seca dos últimos 70 anos, agravada por queimadas, acendeu um sinal de alerta sobre o risco de uma nova onda de pressão inflacionária no Brasil. Os efeitos da estiagem nos preços dos alimentos e na tarifa de energia elétrica, além da demanda aquecida e da desvalorização do real em relação ao dólar, levaram economistas a rever para cima as projeções de inflação para este ano e a colocar viés de alta no IPCA de 2025. Ontem, em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu que a inflação “preocupa um pouquinho” (mais informações na pág. B3).

 

O cenário, na avaliação de economistas, indica a necessidade de um novo ciclo de alta dos juros básicos da economia (Selic). O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne na semana que vem para decidir a nova Selic, atualmente em 10,5%.

 

Com desemprego em baixa (6,8% no trimestre terminado em julho) e aumento da renda dos trabalhadores, o consumo das famílias está aquecido. Isso torna os consumidores mais propensos a aceitar reajustes de preços, especialmente no setor de serviços. A recente desvalorização do real frente ao dólar aumenta os custos, pressionando principalmente os preços de produtos industrializados e importados.

 

A estiagem prolongada, que ultrapassa cem dias em algumas regiões do País, deve pressionar ainda mais os preços do açúcar, do café e da laranja, que já estão em alta. Também pode elevar a cotação do etanol, derivado da cana, no período de entressafra.

 

Em 12 meses até agosto, o açúcar refinado subiu 6,31% no varejo, a laranja-pera teve alta de 47,56%, o café subiu 16,64% e o etanol, 10,05%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo do IBGE. No mesmo período, a inflação medida pelo mesmo indicador foi de 4,24%. (O Estado de S. Paulo/Márcia de Chiara)