O Estado de S. Paulo
Depois da alta mais forte do que o esperado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, e da consolidação da expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deve adotar um ritmo mais brando de corte nos juros nos Estados Unidos, as projeções do mercado financeiro para a taxa Selic dispararam. O Boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, mostra que a mediana das projeções de bancos e gestoras de recursos aponta para alta de 0,75 ponto porcentual na taxa Selic até o fim do ano, dos atuais 10,5% para 11,25%. É prevista ainda nova alta de 0,25 ponto em janeiro de 2025. A mudança interrompe sequência de 11 semanas de estabilidade na média das expectativas para os juros.
Na terça-feira da semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,4% no segundo trimestre, bem acima da média das projeções. Combinada com o mercado de trabalho ainda bastante aquecido, a alta surpreendente do PIB fez crescer entre os economistas o temor de que o País não tem como manter esse ritmo de expansão acelerada sem que haja pressão sobre os índices de inflação.
Os dados do Focus acompanham onda de revisões nas projeções da Selic deflagrada pela subida de tom do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula para o comando da instituição. No início de agosto, Galípolo admitiu o risco de a inflação ficar “desancorada”, e que os juros teriam de subir para trazê-la de volta à meta se fosse necessário. Desde então, muitos analistas do mercado vinham fazendo revisões, mas o ponto intermediário das estimativas do Focus para a Selic se mantinha.
Também na semana passada, o relatório de empregos da economia americana, o payroll, e declarações de dirigentes do Fed não deixaram claro se o primeiro corte dos juros este mês pela instituição seria de 0,25 ou 0,50 ponto. Firmou-se, porém, como majoritária a projeção de um corte menor nos EUA.
Novo ciclo
Embora o BC diga que “não há relação mecânica” entre a política monetária brasileira e a americana, analistas de mercado avaliam que um eventual corte maior de juros este mês nos EUA permitiria ao Comitê de Política Monetária (Copom) manter a Selic estável por aqui.
Pelas novas estimativas, porém, a Selic deve subir a 10,75% na próxima reunião, de 18 de setembro, avançando a 11,0%, em 6 de novembro, e a 11,25%, em 11 de dezembro. E ainda na primeira reunião do Copom de 2025, em 29 de janeiro, quando a taxa chegaria 11,50%. (O Estado de S. Paulo/Cícero Cotrim)