O papel do transporte público na construção da mobilidade sustentável

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A Confederação Nacional do Transporte (CNT) realizou o 8º Fórum CNT de Debates, com o tema “Mobilidade Urbana Sustentável”. Durante o evento, os participantes apontaram a importância do transporte público na construção de uma mobilidade sustentável e das cidades inteligentes.

 

A diretora de infraestrutura, transição energética e mudança climática do BNDES, Luciana Costa, apresentou o atual cenário dos investimentos no setor e destacou o papel do banco como apoiador do transporte público e de uma mobilidade ambiental e economicamente sustentável. ““Foram mais de R$ 1 trilhão investidos no financiamento de Infraestrutura e energia pelo BNDES desde 2000. Desse total, mais de R$ 55 bilhões foram destinados a projetos de mobilidade urbana, com mais de 9,3 milhões de pessoas diretamente beneficiadas”, disse.

 

E Luciana Costa também abordou mais diretamente a questão da transição energética. “O Brasil tem diversas vantagens em relação aos outros países do G20 para se tornar uma economia neutra em carbono, como: matriz energética limpa, reservas minerais abundantes, produção de biocombustíveis e apoio do governo federal e do BNDES. O país pode utilizar várias rotas tecnológicas, com uso de diferentes fontes de energia limpa e renovável”. Mas alertou: “Não adianta incentivar o uso dos veículos elétricos, sem apoiar o transporte público”.

 

O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Estado de Transportes e Mobilidade (Consetram) e secretário do Espírito Santo, Fábio Damasceno, também acredita na diversidade de rotas tecnológicas para a descarbonização do transporte coletivo. “No Brasil, não podemos generalizar, há diferentes alternativas viáveis que devem ser avaliadas de acordo com as necessidades locais”, afirmou.

 

Damasceno observou que para a eletrificação do transporte público é preciso que três frentes evoluam juntas: a aquisição de frota elétrica, a infraestrutura de recarga e a definição de como será a captação de energia. “Hoje temos ônibus elétricos de sobra no mercado à disposição dos operadores. Mas a infraestrutura ainda é um desafio. Como vai ser a captação e a distribuição da energia? Tudo isso precisa ser definido”, ressaltou.

 

Dimas Barreira, conselheiro da NTU e presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), acredita que a renovação da frota, retirando os veículos mais antigos e poluentes de circulação, é uma ação eficaz e de efeito imediato na redução da emissões. “Se compararmos os atuais ônibus Euro 6 com os veículos da década de 90, quando começou o Proconve, os resultados são impressionantes: redução de 98% de material particulado, 97% de hidrocarbonetos e de 86% de monóxido de carbono”.

 

A queda no número de passageiros do transporte público, que sofre com a concorrência dos aplicativos de transporte e de outras formas de transporte individual, também foi apontada como um fator preocupante. “Mas quando observamos cidades com tarifa zero, vemos que o número de usuários aumenta drasticamente. Isso mostra a relevância do transporte coletivo, que é o maior agente de descarbonização do transporte”, sublinhou.

 

O professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Sérgio Myssior, enfatizou a importância de pensar a mobilidade dentro do contexto das cidades. “Nos grandes centros urbanos, o transporte impacta diretamente a qualidade do ar. Por isso, precisamos pensar na mobilidade como um fator para termos cidades mais sustentáveis e inclusivas”, declarou.

 

Marcos Daniel, diretor do departamento de regulação da mobilidade e trânsito urbano, da secretaria nacional de mobilidade urbana, traçou um panorama sobre o marco legal do transporte público, desde a sua concepção até o estágio atual, com destaque para o caráter essencial e indispensável ao desenvolvimento da população.

 

“Há oportunidade no país para fazermos a transição energética, mas é necessário definir qual a necessidade de cada cidade. Qual tecnologia usar e como fazer. O novo março legal não fala especificamente em eletrificação, mas direciona investimentos e traz diretrizes para as cidades pensarem no transporte de acordo com as necessidades locais e suas características”, afirmou.

 

O ministro das cidades, Jader Barbalho Filho, também lembrou que não existe uma solução única para o Brasil no caminho da descarbonização. “Fazer a eletrificação dos ônibus em grandes rincões não é uma realidade tão próxima, mas pode funcionar em outros locais. O que temos trabalhado é para entender a complexidade das regiões do nosso país e, dessa forma, atuarmos da melhor maneira”. (Portal Technibus/Márcia Pinna Raspanti)