Diretor da Toyota reforça aposta nos híbridos flex

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

“No Brasil, a estrutura de distribuição e pós-venda de carros flex está pronta, portanto, nossa estratégia continua sendo investir em híbrido flex.”

 

“A empresa está desenvolvendo e testando, também, sistemas de células de combustível e hidrogênio no País.”

 

Não há maior defensora da tecnologia do motor híbrido flex no Brasil do que a Toyota. Desde que os automóveis 100% elétricos começaram a desembarcar no País, em nenhum momento a fabricante japonesa cogitou vendê-los no mercado. A montadora sempre preferiu manter sua aposta nos híbridos.

 

E vai continuar, conforme o diretor de comunicações e presidente da Fundação Toyota do Brasil, Roberto Braun, revelou nessa entrevista ao Mobilidade: “Não há previsão de comercializar carros elétricos por aqui”, afirma. Confira a conversa na íntegra, a seguir.

 

Por que a Toyota não vende carros elétricos no Brasil?

É preciso deixar claro que a montadora dispõe das tecnologias para fabricar veículos elétricos e estuda todas as possibilidades em âmbito mundial. A questão é que ela define a oferta em cada mercado dependendo do contexto da região e o que o consumidor está desejando. A companhia apresenta um portfólio de 63 modelos eletrificados e planeja, sim, lançar elétricos mundo afora. No Brasil, porém, a estrutura de distribuição e pós-venda de carros flex está pronta, portanto, nossa estratégia continua sendo investir em híbrido flex.

 

Recentemente, o chairman da Toyota, Akio Toyoda, disse que os preços proibitivos da tecnologia elétrica e o fato de bilhões de pessoas viverem sem energia no mundo tornam o carro movido a bateria impopular. É uma das razões para a montadora ter um pé atrás no tema?

Todas as tecnologias são avaliadas, mas, repito, o contexto no Brasil favorece mais o híbrido. Aqui, o elétrico enfrenta desafios importantes, como a infraestrutura de recarga, mais concentrada no Estado de São Paulo. É temerário fazer uma viagem longa.

 

Por que a montadora sempre apostou no híbrido flex desde o 2019, quando lançou o Corolla?

Porque é uma tecnologia prática e acessível. Os veículos híbridos flex dispensam infraestrutura de recarga e custam apenas de 10% a 15% acima do similar a combustão. Além disso, a tecnologia é sustentável: a emissão de dióxido de carbono (CO2) é mínima, próxima da dos elétricos.

 

Os compradores fiéis do Corolla receberam bem a novidade?

Muita gente que tinha um Corolla a combustão migrou ao experimentar o híbrido flex. Em 2023, quase 20% das vendas totais do Corolla foram da configuração híbrido flex. É uma experiência diferente e o motorista logo percebe a vantagem da praticidade.

 

A empresa concorda com a ideia de que o carro híbrido é porta de entrada para se ter um 100% elétrico?

Não pode ser resumida a isso, porque não podemos esquecer que o Brasil é protagonista nas tecnologias flex e híbrido flex. Elas contribuíram no adensamento da cadeia produtiva, ou seja, na produção local de peças e sistemas.

 

Algumas marcas, que tinham convicção de não vender carros híbridos no País, mudaram de ideia. É uma prova de que a Toyota estava certa?

Recentemente, as montadoras anunciaram investimentos que somam R$ 125 bilhões e, parte do valor, vai para desenvolvimento da tecnologia híbrido flex. Esse movimento nos deixa felizes, porque mostra que sempre estivemos no caminho certo. Não abrimos mão da tecnologia híbrida. Lançamos o Toyota Prius em 1997 e, a partir dali, vendemos 20 milhões de híbridos no mundo, deixando de emitir 160 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera.

 

A Toyota também revelou recentemente um ciclo de investimentos de R$ 11 bilhões até 2030. O que será feito com esse dinheiro?

Os recursos vão para a expansão da capacidade de produção de automóveis e motores, gerando 10 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Do montante, R$ 5 bilhões serão gastos até 2026, com o lançamento de mais dois veículos híbridos flex, que se juntarão ao Corolla e o Corolla Cross. Um deles é um compacto e chega já em 2025 e o outro está sendo desenvolvido exclusivamente para o Brasil. Em 2026, iniciaremos a montagem de baterias na fábrica de Sorocaba (SP). De quebra, estamos aprimorando o que já temos. Um exemplo é o SUV RAV-4, híbrido plug-in que apresenta mais autonomia quando o motorista dirige no modo elétrico.

 

Então, não há nada previsto em termos de automóveis elétricos?

Não descartamos carro elétrico no Brasil, mas nesse momento, está fora de cogitação. Ainda não há infraestrutura de recarga adequada e a renda do brasileiro não é compatível com os preços desse tipo de automóvel. Preferimos o etanol, que deixou de ser exclusividade brasileira. A Índia, segunda maior fabricante de cana-deaçúcar do mundo, investiu em usinas de etanol e já tem 183 bombas de abastecimento com etanol puro. A mistura na gasolina deverá chega a 20% em 2025.

 

Nem os modelos da Lexus terão motor elétrico aqui no Brasil?

As possibilidades são constantemente estudadas, mas não posso revelar os planos da Lexus.

 

Quais são os outros projetos de eletrificação da companhia?

Estamos desenvolvendo, também, os sistemas de célula de combustível e hidrogênio.

 

Por falar nisso, como é a atuação da Toyota na produção de hidrogênio?

Estamos envolvidos em um projeto da Shell, que investe R$ 50 milhões na construção do primeiro posto de hidrogênio renovável a partir do etanol do mundo, dentro do campus da Universidade de São Paulo (USP). Com o apoio da Raízen, Hytron, empresa de soluções de energia e gases especiais, e da própria USP, a Shell pretende inaugurar o posto em setembro. Ele terá um reformador de etanol que, durante o processo, extrai hidrogênio do vapor. O hidrogênio usado no abastecimento deve ser mantido pressurizado em tanques. A Toyota tem no Brasil duas unidades do modelo Mirai movidos a hidrogênio e emprestamos uma delas para testes que têm sido realizados de autonomia, de performance, além de emissões. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Mário Sérgio Venditti)