O Estado de S. Paulo
Após declarações do presidente do BC, parte do mercado prevê redução de só 0,25 ponto, em vez de 0,5.
As declarações recentes do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicando a possibilidade de mudança da rota da Selic, puseram fim ao consenso que existia no mercado sobre o resultado da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para o início de maio. Embora a estimativa de um corte de 0,5 ponto porcentual ainda seja majoritária, cresceu a percepção de risco de um freio nos juros já agora em maio. Com isso, algumas casas financeiras passaram a trabalhar com um corte de 0,25 ponto – o que levaria a taxa básica de juros para 10,50% ao ano, ante os atuais 10,75%.
Esse cenário apareceu em pesquisa realizada ontem pelo Projeções Broadcast. De 33 instituições financeiras consultadas, quatro mudaram suas estimativas, entre elas, a ASA Investments e a GAP Asset. “Houve uma piora do cenário que justificaria atropelar o ‘guidance’ indicado na última ata”, afirmou a economistachefe da GAP Asset, Anna Reis, em referência ao cenário-base que o próprio Copom havia traçado na sua reunião de março.
Consenso agora só mesmo em torno da reunião do Copom em junho. Segundo a pesquisa, o mercado vê um corte de 0,25 ponto como o resultado mais provável. Isso fez mudar também o índice esperado para a Selic no encerramento do ano – que subiu de 9% para 9,5%. “Difícil achar hoje alguém que espere a Selic fechando o ano em 9%”, afirma o ex-diretor do BC Luís Eduardo Assis.
Desde a última reunião do Copom, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sepultou de vez as esperanças de quem apostava numa redução dos juros no país ainda neste semestre, enquanto as tensões no Oriente Médio avançaram várias casas. No início da semana, foi a vez de a equipe econômica anunciar mudanças nas metas fiscais, adiando o ajuste nas contas públicas. Resultado: o dólar – que estava na faixa de R$ 4,97 quando aconteceu a reunião de março do Copom – tem registrado forte valorização frente ao real. Ontem, fechou a R$ 5,25.
Nesse ambiente, o próprio presidente do BC indicou que a instituição pode pisar no freio dos juros se as incertezas seguirem muito altas. Segundo ele, o trabalho do BC fica “muito mais difícil”, por exemplo, se houver “a percepção de que não há uma âncora fiscal”. Com o compromisso de que o BC fará tudo o que for necessário para a inflação voltar à meta central, fixada em 3%, as falas foram entendidas no mercado como um aviso para a reunião do Copom de maio.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, prevê um racha entre diretores do BC na próxima reunião do comitê, cujas decisões têm sido tomadas por unanimidade. “A partir do momento em que tivemos mudanças no fiscal, há a possibilidade de o BC também ajustar a sua condução da política monetária. É possível que o Copom de maio já apresente divergências”, projeta o economista. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Laguna, Denise Abarca, Marianna Gualter, Gabriela Jucá, Francisco de Assis e Daniel Tozzi Mendes)