Frota & Cia
O ônibus elétrico Attivi Integral, da Marcopolo, inicia a sua fase comercial após uma jornada de dois anos de demonstrações e testes em aplicações reais por operadores de transporte urbano de todo o país. Porto Alegre (RS) será a primeira capital a operar com o modelo, oficialmente, em linhas regulares a partir deste mês de abril. Cerca de 30 veículos protótipos foram produzidos para testes práticos e, atualmente, 10 operadores estão avaliando a performance destes veículos elétricos.
Essa história começou em 2018, quando a Marcopolo observou que o movimento global pela eletromobilidade começava, finalmente, a avançar em escala comercial e, também, como estratégia para a descarbonização em mercados importantes, como China, Austrália, Estados Unidos e Europa. Na América Latina, os sistemas de transportes operados no Chile e na Colômbia são os responsáveis por puxarem a eletrificação da mobilidade urbana no continente. Após os primeiros estudos, a engenharia da encarroçadora se debruçou sobre o projeto do Attivi Integral nos anos de 2019 a 2021.
Conhecida por deter amplo conhecimento no desenvolvimento de carrocerias, a Marcopolo é a responsável pelo projeto do chassi de seu ônibus elétrico. Sua manufatura, todavia, está sendo feita na fábrica da Metalsa, em Osasco (SP). Mas, há outros fornecedores bastante conhecidos do consumidor brasileiro, considerando que a suspensão dianteira é da KLL e a traseira da Suspensys, o eixo traseiro trativo é comprado da Meritor, enquanto o dianteiro direcional é entregue pela Dana. O motor de tração e o inversor de frequência são da WEG. Por fim, as baterias são da chinesa CATL com interface técnica realizada pela Moura.
Segundo Ricardo Portolan, diretor de Operações Comerciais MI e Marketing da Marcopolo, não se trata de um ônibus monobloco, mas de um chassi/carroceria com projeto de um veículo integral. “Um diferencial é que o Attivi Integral foi concebido pensando na questão da solução da carroceria, com otimização da quantidade de passageiros na distribuição de peso (até 10 pessoas a mais), atendendo as diferentes configurações do mercado brasileiro. Sua produção começa com o chassi, depois colocamos a carroceria e, na terceira fase, instalamos toda a parte de eletrificação do produto”, explica o executivo.
Ecossistema completo
Além da carroceria Attivi, a Marcopolo informa que também disponibiliza a conhecida Torino para aplicação em chassis elétricos, como nos casos das fabricantes de chassis Mercedes-Benz, com o modelo eO500U, e Volvo, com o BZL.
“A gente está trabalhando, muito, no conceito do ecossistema da eletrificação a partir da nossa atividade central, que é a produção de carrocerias. Atualmente, estamos trabalhando com oito diferentes fornecedores homologados de carregadores, parceiros de financiamento e de telemetria. Precisamos entregar uma solução avançada e integrada aos operadores”, revela Portolan.
O Governo Federal, por meio de seus programas de fomento à eletromobilidade no Brasil, como o Mover, o Novo PAC e linhas de financiamento, como o Fundo do Clima, administrado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), visa estabelecer um fluxo seguro para a renovação de frota com veículos elétricos. Somados a esses incentivos, a Marcopolo destaca que os gastos com a manutenção dos ônibus elétricos chegam ser cerca de 50% inferiores ao seu equivalente a diesel.
Outro fator fomentador da eletromobilidade se dá pelas alterações das legislações municipais, como em São Paulo, que não permite mais a inclusão de novos ônibus a diesel no sistema de transporte público municipal. Dessa forma, apenas veículos elétricos podem ser integrados à rede de mobilidade urbana da capital paulista. Agora, cabe a cada operador definir em quais produtos, atualmente disponíveis no mercado nacional, irão investir para a renovação ou ampliação de suas frotas.
Pós-vendas
“Forneceremos treinamentos para os motoristas, que precisam conhecer este novo equipamento para aproveitar seu melhor desempenho. Há uma qualificação específica para os mecânicos, também. A maioria dos serviços pós-vendas será feita diretamente na garagem dos operadores, porque o seu deslocamento dos veículos toma tempo de operação. Então, a gente tem uma estrutura dentro do dentro dos clientes e, também, com o nosso time de vendas”, esclarece Portolan. “Os mecânicos precisam compreender os novos parâmetros de isolamento termo acústico e as valas precisam ser devidamente preparadas para o atendimento aos ônibus elétricos, por exemplo. São questões de segurança que precisamos ensinar aos nossos clientes”, completa.
Evolução
A Marcopolo apresentou, no IAA Transportation 2022, o Audace 1050 movido a células de combustível de Hidrogênio em parceria com a Sinosenergy, Feichi Bus e Allenbus.
“A Marcopolo é protagonista e está preparada para o movimento da eletromobilidade no Brasil. Sabemos que não será uma transição rápida, mas que será gradativa e consistente. Há espaço para outras tecnologias voltadas para a eficiência energética sustentável que devem acompanhar o desenvolvimento da descarbonização do transporte”, destaca Portolan. “O Brasil, por suas dimensões continentais, poderá conviver com diferentes soluções, sendo que cada região poderá adotar as que mais lhe fazem sentido técnico e comercial. Estamos atentos a essas possibilidades. Inclusive, a Marcopolo China apresentou o Audace 1050 a hidrogênio, que já despertou o interesse de mercados na Europa e na América do Sul, como no Chile. Há, ainda, o desenvolvimento de um Audace 900. O produto está pronto, mas o Brasil ainda não conta com a infraestrutura necessária para operacionalizar a tecnologia”, conclui. (Frota & Cia/Gustavo Queiroz)