Jornal do Carro
O vice-presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO), Ricardo Alouche, diz que 2024 vai ser de crescimento em todos os segmentos, tanto para caminhões como para ônibus. O executivo sugere que será um ano mais de negócios do que de novidades. Mesmo com o mais importante evento marcado para o novembro, a Fenatran.
“A indústria investiu milhões no desenvolvimento da nova tecnologia Euro 6. Portanto, neste ano a intenção é fazer mais negócios. E efetivar de vez essas novidades no mercado”, diz Alouche.
Claro que para isso, o executivo aposta em um ambiente econômico mais amigável, com juros atraentes, bem como maior facilidade de crédito e a “ajuda” do governo com programas de incentivos a renovação de frota. Este, aliás, mostrou-se eficaz para as vendas de caminhões e ônibus no ano passado.
Liderança em meio às complexidades
Seja como for, sobre 2023, vale lembrar que a marca fechou líder de mercado de caminhões pelo 20º ano. Ou seja, teve 27.018 unidades licenciadas, o que garantiu 25,2% do volume total de vendas. E outros 4 pontos percentuais frente à segunda colocada, a Mercedes-Benz.
Tudo isso ocorreu em um cenário pouco amigável para a marca. Ou seja, relacionado ao portfólio de produtos.
O executivo revela que, no ano passado, o primeiro das novas tecnologias Euro 6, a linha de produtos da marca não estava totalmente completa. Faltou “mix”, já que a empresa priorizou a produção dos veículos mais vendidos.
Isso ocorreu, porque a companhia é uma das maiores em termos de portfólio. E é preciso estabilizar cada um dos modelos à linha de produção.
“Temos mais de 60 variações de veículo, incluindo ônibus. Com isso, não é possível produzir todas as novidades de uma só vez. Assim, priorizamos as versões com maior volume de vendas”, explica o vice-presidente da Volkswagen Caminhões.
Em razão disso, clientes que no ano passado seguraram as compras esperando a chegada dessas versões, devem renovar suas frotas neste ano. O que para a Alouche pode ser positivo para o crescimento da marca.
Entre os modelos que estavam faltando, destacam-se as versões vocacionais. Como caminhão de coleta, bebida, basculante e rígidos 6×4, por exemplo. Ou seja, segmentos onde a marca também é a preferida.
Em entrevista exclusiva ao Estradão, Ricardo Alouche fala sobre como será o comportamento do mercado neste ano. Do mesmo modo, como está cada uma das linhas de produtos e quais aqueles que a Volks vai apostar. Confira!
Oferta de produto
Você trouxe à realidade o desafio de fechar o ano liderando, mesmo com o portfólio incompleto. E neste ano, como está essa questão?
A casa está arrumada. Ou seja, meu portfólio está ajustado à linha de produção. E, inclusive, modelos que faltavam já estão em produção. O mercado está aceitando o nosso produto. E já temos retorno positivos dos clientes, o que, para nós, é um saldo positivo. Um sinalizador de como será o ano. Afinal, não estamos vivendo a mesma instabilidade vivida no ano passado com falta de produtos no mercado.
Nos semipesados, até a geração Euro 5, a Volkswagen liderou com o 24 t de 280 cv. Com o Euro 6, a Volks aumentou a potência e capacidade com o 26.320 e o modelo caiu na posição de vendas. Sendo o irmão menor, o Constellation 26.260, agora o preferido. Como você analisa isso?
Por isso dividimos esse segmento em dois. Passamos a oferecer um rodoviário mais robusto, com motor de 320 cv para maiores distâncias. Do outro lado, o 260 atende segmentos vocacionais. Indo bem na caçamba, atendendo a licitação pública e o transporte de bebida. E isso foi uma decisão eficaz.
No segmento de 26 t tanto no 6×2 como no 8×2 somos líderes nas vendas totais dos semipesados. Ou seja, a soma desses modelos entrega para a Volkswagen quase a metade de todos os caminhões vendidos no segmento no mês. Então mostra que a estratégia foi assertiva.
Liderança
Quais segmentos a Volkswagen vem conquistando a liderança e mais participação?
No Delivery de 6 t, 11 t e 13 t, leves e médios, temos mais de 50% do segmento. No Constellation de 14 t até o pesado 6×4, também temos 50% de participação. Já a gama de 30 t, até o mês passado não tínhamos a liderança, mas agora conquistamos. E no segmento, só entre os modelos de 6×4 não temos a liderança porque faltou volume em quantidade suficiente para atender o mercado. Isso porque estávamos equilibrando a produção dentro daquele mix de produtos. Mas certamente vamos conquistar mais volume nos próximos meses.
Ou seja, lançamos efetivamente o Euro 6 no mercado em setembro do ano passado. E esses 6×4 que me refiro são os do segmento vocacional.
Segmentos para crescer
Onde estão os seus próximos desafios?
No segmento de 3 t, do Delivery Express, onde tenho 25% do mercado, mas não lidero. Porém, estou perto do líder. Então vamos focar nas ações que podemos fazer para crescer nesse segmento. Do outro lado, vemos grande oportunidade de crescer nos cavalos mecânicos acima de 420 cv. Hoje tenho 9,1% de participação. O que ainda é baixo. Mas conseguimos deixar dois competidores para trás. Por isso, até o final do ano esses dados vão aumentar exponencialmente. Pode ter certeza.
Ou seja, meus desafios estão nos dois extremos. Nos semileves de 3 t com o Delivery Express e nos pesados com o Meteor.
Oferta de serviços Volkswagen
Sobre os pesados, a Volkswagen tem 66% do mercado até 420 cv. E agora quais as estratégias para crescer com os modelos de maior potência?
Temos uma oportunidade nesse segmento acima de 420 cv. Afinal, oferecemos quatro diferentes caminhões, das linhas Constellation, incluindo o fora de estrada de 33 t, e Meteor. Então, o meu portfólio conta com uma gama diversificada.
Mas onde queremos nos destacar nesse segmento é na prestação de serviço. Assim reduzir, ao máximo, as paradas dos veículos dos clientes. Em razão disso, vendemos todos os cavalos mecânicos com o sistema de monitoramento de frota RIO. A torre de controle da fábrica acompanha 24 horas diárias o desempenho desses veículos. Assim, queremos ser assertivos, trazendo as informações com antecedência ao cliente. Do mesmo modo, na hora que o cliente tiver de parar o caminhão para a manutenção, que seja rápida e eficaz.
Nesse sentido, um ponto que nos diferencia é que temos uma ampla rede de concessionários, com mais de 150 pontos de atendimento. E isso conta a favor. E estamos cada vez mais integrando a rede com mesmo padrão de atendimento, mesma base de custo, etc.
No segmento de 3 t, vemos um movimento de caixas automáticas, versões elétricas a preços competitivos e itens de conforto e tecnologia. Mas compromete preço, logo, a estratégia de ser competitivo, não?
Exatamente. O segmento de 3 t é de última milha, entregas urbanas. Este, extremamente sensível a preço. Então quando se coloca atributos como os mencionados, o veículo fica mais caro. Mas existem clientes que querem esses atributos. Por isso, a nossa solução foi oferecer pacotes. Basicamente temos dois pacotes, Robust e Prime. Por ora, esse tipo de solução oferecemos para os modelos maiores, de 9 t para cima.
Todavia, o desafio é maior para o Delivery Express de 3 t, onde o cliente é ainda mais sensível a preço. Por isso, nossa solução é atraí-lo pela a capacidade de carga. Ou seja, graças à tara leve, ele é mais flexível. E pode levar desde flores a cargas mais pesadas, como bebidas.
Eletrificação
Há a intenção de eletrificar o Delivery Express? Afinal, alguns competidores já lançaram suas versões elétricas nessa categoria.
Sim, temos a intenção. Mesmo porque nós inauguramos esse segmento, com o e-Delivery. E também porque, lá na frente, nesse segmento todos os veículos serão elétricos. Mas temos que lembrar que Delivery Express está no segmento altamente pressionado por custo.
Ainda sobre a eletrificação, a Volkswagen havia anunciado o 17 t elétrico. Porém, no ano passado esse lançamento não aconteceu, porque o foco foi priorizar a Euro 6.
Sem mencionar apenas o e-Delivery de 17 t, temos, sim, outras versões do e-Delivery. E que estão em testes no País. Uns testes estão mais avançados do que outros. Mas ainda não vamos lançar nada neste ano. Porém, isso traz novas perspectivas com relação à tecnologia no Brasil.
Neste ano também começamos a ver o Volkswagen e-Delivery na lista dos 10 mais vendidos. Claro, em menor proporção frente ao diesel. Os clientes além da Ambev estão comprando o modelo?
No ano passado, com a mudança de tecnologia e os veículos mais caros, o cliente tirou o pé no freio. Inclusive em relação aos modelos elétricos. Porém, no final do ano passado, percebemos um movimento de compra tanto para o e-Delivery de 11 t como o de 14 t. E estamos negociando com grandes empresas que querem implantar políticas de ESG nas suas operações.
Quais as áreas de atuação dessas empresas que estão comprando o caminhão elétrico?
Além do transporte de bebidas, vemos empresas de abastecimento de aeronaves em aeroportos. Assim como empresas de limpeza urbana. E isso nos motiva, por abrir novas perspectivas de outros segmentos interessados no caminhão elétrico.
Fenatran
O que esperar da Fenatran deste ano?
Trata-se de uma feira de negócios. E que cresce ano após ano. Mas a edição 2024 será diferente em relação a de 2022. Naquele ano, todas as marcas apresentaram 100% de novidades tanto em produtos, como tecnologias e serviços. E, de fato, o volume de negócio foi proporcionalmente menor do que costuma acontecer.
Todavia, este ano deverá ser uma feira com a presença de novos fabricantes. Mas, em termos de produto, bem menor em relação às novidades. Em resumo, para nós, fabricantes tradicionais, será mais voltada aos negócios. E, claro, vai ajudar a aumentar o volume total de vendas anuais. E assim como a Anfavea projeta, nós também acreditamos no mercado em média 10% maior em relação ao ano passado. (Jornal do Carro/Andrea Ramos)