‘Investir em pontos de carga é nossa estratégia no Brasil’

O Estado de S. Paulo

 

“Não há planos de trazer a produção para o Brasil. Mas vemos um potencial maior para o Brasil exportar talentos de gestão, de liderança. Estamos aproveitando mais a expertise local do colarinho branco”

 

AVolvo pretende dobrar a presença no Brasil e na América Latina neste ano com sua aposta em carros 100% elétricos e no lançamento de um veículo a preço competitivo com marcas como Toyota e Jeep. O vice-presidente e diretor comercial da Volvo global, Björn Annwall, diz que a forma de contribuir com o desenvolvimento regional e a agenda de descarbonização não é apenas montando fábrica no País.

 

“A maneira tradicional para as empresas automobilísticas tem sido criar uma fábrica para contratar operários para colocá-los no trabalho. E isso ainda é importante. Mas temos outra estratégia que consideramos igualmente importante. Uma delas é catalisar toda a revolução elétrica no Brasil investindo na infraestrutura de carregamento. E a segunda é realmente investir na criação de empregos reais de liderança em gestão altamente qualificados”, disse Annwall em entrevista ao Estadão durante visita que fez ao Brasil.

 

Em outubro, o Brasil tornou-se sede da Volvo Car Global Importers Latam, responsável pelas operações da marca em toda a região, tendo o executivo Luis Rezende no comando. Rezende e o presidente da Volvo Car Brasil, Marcelo Godoy, também participaram da entrevista. Os executivos veem o debate sobre carros híbridos como algo atrasado e dizem que o público do segmento premium já busca carros 100% elétricos.

 

Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

 

A Volvo passou a olhar com mais atenção para o Brasil e para a América Latina? Como a região entra na estratégia de aumentar a presença global da marca?

Björn Annwall: Acredito que o Brasil é parte central nisso. O time aqui tem feito um trabalho incrível em aumentar os negócios e da forma correta. Às vezes, as marcas premium tendem a ser muito elitistas e exclusivas. A abordagem da Volvo é muito mais inclusiva e calorosa. É uma marca aspiracional e claramente um carro premium é algo que nem todo mundo no Brasil pode pagar, mas também queremos ser uma marca muito atenciosa, sempre defendemos a segurança em tudo o que fazemos quando projetamos carros. E, ao longo do tempo, também evoluímos esse foco para a sustentabilidade. Temos um grande problema com as mudanças climáticas no mundo e a indústria automobilística é grande parte desse problema. E precisamos ter certeza de que nos tornamos parte da solução. E a Volvo pode ajudar a liderar esse caminho. É por isso que somos tão fundamentalistas em relação à eletrificação, porque a eletrificação é o caminho para uma indústria mais sustentável. Não é uma solução mágica que resolve todos os problemas do mundo, mas é um passo muito bom na direção certa.

 

Qual é o cenário de crescimento de negócios da Volvo no Brasil e região?

Annwall: Vemos uma oportunidade fantástica para um maior crescimento. A América Latina apresentou um forte crescimento nos últimos anos. Tem muita coisa que a equipe da América Latina está fazendo que estamos exportando para outros países. Portanto, é uma parte muito importante do nosso trabalho global.

 

Luis Rezende: Vamos passar de 20 mil carros para a ambição de 37 mil apenas na América Latina. E, até o final deste ano, não venderemos mais nenhum carro híbrido ou a diesel, não mais. É totalmente eletrificado. Neste sentido, o EX30 (SUV compacto) será parte muito importante do crescimento, porque conseguimos chegar a um preço fantástico para este carro. Então vamos competir com o Toyota Corolla, Jeep Compass, com um carro premium 100% elétrico. Acho que conseguiremos alcançar famílias que antes não tinham dinheiro para comprar um carro premium. É totalmente novo na América Latina.

 

Marcelo Godoy: A mentalidade dos consumidores no Brasil tem mudado muito rápido. Por isso estamos confiantes.

 

O governo brasileiro tem buscado estimular a produção de veículos híbridos ou elétricos no País. A Volvo planeja produzir no Brasil?

Anwall: No momento, não há planos para trazer a produção para o Brasil. Mas vemos um potencial maior para o Brasil exportar talentos de gestão, talentos de liderança, do que colocar a produção aqui. Então, agora estamos aproveitando mais a expertise do colarinho branco que existe no Brasil. É importante para nós retribuir às comunidades em que atuamos. A maneira tradicional para as empresas automobilísticas tem sido criar fábricas para contratar operários e colocá-los no trabalho. Isso ainda é importante. Mas temos outra estratégia que consideramos igualmente importante. Uma delas é catalisar toda a revolução elétrica no Brasil investindo na infraestrutura de carregamento. A segunda é realmente investir na criação de empregos reais de liderança em gestão altamente qualificados.

 

A falta de infraestrutura para carregar veículos elétricos tem afetado o setor em outros países, como nos EUA. Qual o desafio no Brasil e na América Latina?

Annwall: É um desafio. A infraestrutura de carregamento no mundo não está onde deveria estar para que todas as indústrias automotivas mudem para o futuro elétrico. Mas não é um problema insolúvel. São necessários esforços para fazer os investimentos certos nas infraestruturas e também na produção de energia sem combustíveis fósseis. Godoy: Aqui estamos construindo nossa própria infraestrutura. Acreditamos que aqui é obrigatório como empresa fazer isso. E não só para os clientes da Volvo, mas para todos os clientes dos carros eletrificados.

 

A Volvo aposta no carro 100% elétrico, não no híbrido?

Rezende: Nós somos pró-eletrificação, estamos indo nessa direção. (O Estado de S. Paulo/Beatriz Bula)