Inflação requer ‘maior flexibilidade’, diz Copom

O Estado de S. Paulo

 

As incertezas sobre a velocidade de convergência da inflação para a meta, tanto no Brasil quanto no exterior, demandam uma “maior flexibilidade” na administração da taxa básica de juros (a Selic). É o que diz a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, realizada na semana passada. Divulgado ontem, o documento faz menção ao fato de que “alguns membros (do colegiado) argumentaram que, se a incerteza permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir”.

 

Pela leitura do mercado, o trecho abre a porta para uma redução do ritmo de corte da Selic a partir de junho, mesmo que isso não signifique mudança no ciclo total de redução da taxa até o fim do ano. “O cenário-base não se alterou substancialmente, mas, com as incertezas do cenário, julgou-se apropriado ter maior flexibilidade de política monetária”, informou a ata. “O comitê avalia que há maior incerteza nas conjunturas doméstica e internacional.”

 

Na reunião da semana passada, o Copom voltou a reduzir, pela sexta vez seguida, a Selic em 0,5 ponto porcentual, que passou a ser de 10,75% ao ano. Mas, em contraste com os encontros anteriores, sinalizou corte “da mesma magnitude” apenas na próxima reunião – marcada para maio. Até então, esse tipo de indicação vinha servindo para as duas reuniões posteriores.

 

Também ontem, o IBGE divulgou que a prévia da inflação em março ficou em 0,36%, desacelerando em relação a fevereiro. Mas, ainda assim, o índice acabou superando as estimativas do mercado financeiro para o período.

 

Massa salarial

 

A ata mostrou ainda que os integrantes do Copom avaliaram o eventual impacto do aumento de ganhos salariais na inflação de serviços. “O comitê demonstrou maior preocupação com possíveis efeitos da ampliação de ganhos reais no período mais recente e da aceleração de crescimento observada nos dados referentes à massa salarial sobre a dinâmica prospectiva da inflação de serviços.”

 

Para Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP, o Copom “bateu na tecla de que o cenário não mudou, mas que as incertezas são grandes no futuro”. “Antes (da última reunião), esperávamos um corte de 0,50 ponto porcentual em junho, e começava a reduzir o ritmo em julho. Agora, vemos 0,25 ponto já em junho.”

 

Já o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, afirma que o cenário de atividade resiliente neste início de ano, atrelado ao mercado de trabalho aquecido, e uma pressão na inflação de serviços são elementos de preocupação para o BC, colaborando para a mudança do chamado “forward guidance”.

 

O economista, porém, ainda vê espaço para corte de 0,5 ponto na reunião de junho. “Se confirmar essa inflação moderada, pode haver espaço para a continuidade de corte em 0,5 ponto”, disse ele. Vale acrescenta que os dados de inflação de serviços permanecem como ponto de atenção para a tomada de decisões da autoridade monetária. “Esse momento de crescimento da atividade no início do ano é estimulado por política fiscal e monetária. O BC vai segurar o que pode na monetária, e precisa sinalizar para que a (política) fiscal não seja expansionista”. (O Estado de S. Paulo/Thaís Barcellos, Célia Froufe, Gabriela Jucá e Marianna Gualter)