Após briga, Caoa e Hyundai acertam papéis na produção e importação

O Estado de S. Paulo

 

Montadora sul-coreana assume importação de carros no Brasil. Empresa brasileira fará modelos mais caros.

 

A Caoa e a Hyundai anunciaram ontem mudanças na estratégia de parceria dos grupos no Brasil, iniciada há 25 anos. A partir de agora, a fabricante sul-coreana fica responsável pela importação e distribuição de seus veículos no País, que eram feitas pela Caoa. O grupo brasileiro produzirá novos modelos de maior valor agregado da Hyundai. Além disso, a Caoa receberá parte do valor dos modelos importados.

 

O novo acordo põe fim a uma queda de braço entre as empresas. De acordo com o presidente da Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, embora um recente litígio tenha sido decidido a favor da Caoa na Justiça, na prática nenhuma das partes saiu ganhando. Ele se refere à ação que o grupo moveu contra a empresa sul-coreana alegando quebra de contrato.

 

Em meados de 2021, a Caoa recebeu parecer favorável à continuidade do contrato que assegura a possibilidade de importação e produção de veículos da Hyundai no Brasil por uma década. A determinação foi emitida por um tribunal em Frankfurt, na Alemanha, designado para arbitrar contratos em situações de disputa. Na época, a Hyundai Motors rompeu o contrato que garantia ao grupo brasileiro o direito de importar e fabricar veículos da marca sul-coreana por 20 anos. A disputa surgiu devido ao término do prazo estipulado por uma cláusula desse contrato. Segundo o documento, haveria uma renovação automática após os primeiros dez anos. Antes disso, porém, a Hyundai enviou carta à Caoa cancelando o acordo unilateralmente.

 

Segundo informações de um alto executivo da Caoa, reveladas à época pelo Jornal do Carro, publicado pelo Estadão, o desfecho acabou sendo positivo para as duas empresas.

 

De acordo com esse executivo, que preferiu o anonimato, a decisão garantiu a continuidade da importação de novos modelos da Hyundai para o mercado brasileiro, bem como o desenvolvimento tecnológico e a possibilidade de aumentar a produção no País de veículos da marca.

 

Assim, os desdobramentos desse episódio começam a se materializar agora. “Nossa fábrica está totalmente preparada para receber os novos veículos da Hyundai”, afirma o presidente da Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho. De acordo com ele, os investimentos em novos maquinários na planta do grupo em Anápolis (GO) serão realizados pela Hyundai.

 

Na visão do CEO da Hyundai para as Américas Central e do Sul, Airton Cousseau, a mudança é positiva não apenas para as empresas, mas também para o consumidor. “A partir de agora, todo o portfólio global da Hyundai passa a ter sua comercialização no Brasil simplificada e agilizada a partir da atualização da parceria entre Hyundai e Caoa”, diz.

 

O presidente do grupo brasileiro, que é filho do fundador da empresa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, falecido em 2021, diz que a empresa continuará tendo o maior número de revendas autorizadas da marca no Brasil (hoje são 46).

 

A Hyundai Motors continuará produzindo em Piracicaba (SP) o compacto HB20 (hatch e sedã) e o SUV Creta. Já a fábrica da Caoa, em Anápolis, manterá a produção de modelos mais caros, como o SUV médio Tucson e o caminhão leve HR. No entanto, com o novo acordo, a produção de todos os futuros carros dos segmentos superiores será feita pela Caoa.

 

De acordo com Cousseau, isso resolve um gargalo enfrentado pela Hyundai no Brasil. “Nossa planta de Piracicaba está operando no limite. Com a ampliação da parceria, poderemos oferecer mais produtos.”

 

Segundo Andrade Filho, outra vantagem do acordo – já aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – é que a Hyundai também será beneficiada pelos incentivos fiscais aos quais a Caoa tem direito na planta goiana.

 

Conforme Andrade Filho, o novo acordo permitirá sinergia entre as empresas estimada em cerca de R$ 1 bilhão. Cousseau acrescenta que a integração de setores como compras gera outros benefícios. “Não estamos preocupados apenas com a redução de custos, mas também em reduzir riscos”, diz. Ele se refere à maior oferta de componentes importados, que poderão passar a ser feitos no Brasil.

 

Híbridos e elétricos

 

A Hyundai vai revelar, na próxima quarta-feira, alguns veículos que farão parte de seu novo portfólio de produtos no Brasil. Embora não tenha antecipado detalhes, a expectativa, no caso dos importados, é de foco em híbridos e elétricos. Além disso, a marca prepara o lançamento do novo Creta. O SUV atualizado deve chegar neste trimestre.

 

Na semana passada, o CEO global da Hyundai, Euisun Chung, esteve em Brasília. Em conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o executivo anunciou um novo investimento de US$ 1 bilhão no Brasil. O novo aporte será aplicado principalmente no desenvolvimento de soluções relacionadas ao hidrogênio verde. (O Estado de S. Paulo/Tião Oliveira)

 

 

 

BYD projeta vender 120 mil veículos no Brasil em 2024

 

AutoIndústria

 

A fábrica da BYD em Camaçari, BA, cujas obras de adequação começam agora em março, entrará em operação somente no último trimestre deste ano. Mesmo assim, a aposta comercial da marca chinesa para 2024 no Brasil é para lá de audaciosa.

 

A meta de licenciamentos, revelou Henrique Antunes, diretor de Vendas e Marketing, durante o lançamento do Dolphin Mini, nesta quarta-feira, 28, é de cerca de 120 mil veículos, praticamente a totalidade de importados e equivalentes a 5% do mercado brasileiro do ano passado.

 

Em 2023, a BYD esbarrou nos 18 mil licenciamentos — 23 mil unidades negociadas no atacado, destaca Antunes — e já apareceu como a 13ª marca mais vendida de automóveis de passeio no mercado interno. O objetivo de 2024, portanto, representaria multiplicar pelo menos por seis esse desempenho, um gigantesco salto sobre uma base comparativa já considerável.

 

O resultado também colocaria a BYD na briga direta pela 7ª posição no ranking diante de marcas consagradas de automóveis- desconsiderando comerciais leves. No ano passado, por exemplo, a Renault precisou negociar 102,7 mil veículos para deter fatia de 6%. Honda, com 72 mil unidades, e Nissan, com 64 mil, ficaram próximas de 4%.

 

Peugeot e Citroën, marcas tradicionais e que contam com o poderio produtivo e comercial da Stellantis, venderam, cada uma, somente 30 mil veículos ou menos de 2% do total de 1,72 milhão de automóveis de passeio.

 

Confrontado com a observação de que a meta de vender 120 mil veículos em 2024 parece mais uma utopia, o diretor da BYD preferiu sorrir: “Foi o que muitos colegas disseram quando prevíamos as vendas de 2023 e que, no final, foram quase o dobro do que projetávamos”.

 

Para negociar uma frota tão significativa este ano contando apenas com produtos importados, a BYD pretende ampliar a atual linha oferecida na rede de concessionárias.

 

Antunes esgrime como capacidade da BYD de atendimento imediato à demanda as cerca de 10 mil unidades iniciais do Dolphin Mini agendadas para o Brasil. Cerca de 2 mil já estão concessionárias e as demais no porto de Vitória, ES, ou em navios a caminho.

 

Os primeiros consumidores receberão o compacto a partir do primeiro dia de março e a ideia e que todos os que compraram o carro em três dias de pré-venda, cerca de 6,5 mil até esta quarta-feira, estejam com eles na garagem em no máximo 60 dias.

 

A BYD espera importar pelo menos 25 mil unidades do Dolphin Mini em 2024 — “podemos pedir até mais para a fábrica”.

 

Será, de acordo com Antunes, o carro mais vendido da BYD, à frente do Dolphin, modelo que respondeu por 6,8 mil licenciamentos em 2023, 38% da marca, e foi o elétrico mais vendido do País, com larga folga. (AutoIndústria/George Guimarães)