“Vamos potencializar as virtudes do etanol”

O Estado de S. Paulo/Estadão Blue Studio

 

Líder do mercado automotivo do continente sul-americano, com 23,5% de participação, a Stellantis tem o italiano Emanuele Cappellano como novo presidente para a região.

 

Cappellano construiu carreira na Fiat, também pertencente à Stellantis. É fluente em português por ter trabalhado no Brasil no período entre 2014 e 2021, quando foi CFO da então Fiat Chrysler Automóveis e da Stellantis, após a criação da empresa, para a América do Sul. Na entrevista a seguir, ele fala sobre os projetos e as perspectivas da companhia para o Brasil e a América do Sul.

 

Como foi o ano de 2023 para a Stellantis na América do Sul?

Foi um ano excelente, que consolidou a liderança da Stellantis na região, com mais de 878 mil veículos vendidos e participação de 23,5% no mercado. Esses números demonstram que a empresa fez as escolhas certas em termos de lançamentos de produtos e de estratégia de mercado, caminho que certamente continuará seguindo em 2024.

 

Os resultados obtidos pela Stellantis na América do Sul envolvem um grande protagonismo do Brasil, responsável por quase 80% das vendas da companhia na região. A participação da empresa no mercado brasileiro é de 31,4%, com 686 mil unidades emplacadas entre janeiro e dezembro. Isso quer dizer que, de cada três veículos comercializados no Brasil, um é fabricado pela Stellantis.

 

Em termos de marcas e modelos, quais seriam os grandes destaques do ano passado?

É uma pergunta difícil de responder, porque tivemos vários destaques. Impossível não começar falando da Fiat, que sustenta a primeira colocação absoluta do mercado brasileiro desde janeiro de 2021, com 21,8% de participação no ano passado. Strada sustenta a primeira colocação entre todos os modelos, enquanto Mobi, Argo, Cronos, Toro, Pulse e Fastback seguem com ótimos resultados nas vendas do País.

 

Outro grande destaque foi o desempenho da Jeep, que permaneceu com folga na liderança do segmento de SUVs, em que Compass e Commander apresentam ampla vantagem em suas categorias.

 

A Peugeot reformulou o seu conhecido modelo 208, que ganhou motorização turbo e agora oferece a linha mais completa de motores entre os hatches, do 1.0 ao 100% elétrico. A Citroën segue reformulando seu portfólio e, após o lançamento do C3, trouxe o Novo Citroën C3 Aircross no ano passado, o único SUV compacto de sete lugares do mercado.

 

A Ram também viveu o melhor ano da sua história no Brasil, com um aumento de 236% em comparação ao ano anterior. Esse crescimento foi em grande parte impulsionado pela chegada da Rampage, maior lançamento da indústria automotiva brasileira no ano passado, que logo passou a figurar entre as cinco picapes médias mais vendidas do País.

 

Quais as prioridades da sua gestão como novo presidente da Stellantis para a América do Sul?

Estamos preparando um novo ciclo de investimentos para a América do Sul, que será o mais relevante da história da Stellantis e do mercado automotivo como um todo. Continuamos focados no desenvolvimento de soluções de motopropulsão que combinam etanol e eletrificação. É uma fórmula perfeita para o Brasil, que já tem uma ampla rede de abastecimento de etanol instalada em todo o seu território.

 

Vamos potencializar as virtudes do etanol, um combustível renovável cujo ciclo de produção absorve a maior parte de suas emissões. Quando se avalia o ciclo “do poço à roda”, que leva em consideração todas as etapas do processo, o etanol é tão benéfico ao meio ambiente quanto a eletrificação. Por isso a combinação dos dois é extremamente benéfica para o meio ambiente.

 

Investiremos também no desenvolvimento e na produção de componentes que ajudem a promover melhorias em conectividade, inovação e digitalização, outros temas prioritários da nossa pauta. Temos, ainda, a diretriz de tornar a indústria brasileira presente em todas as regiões do País. Isso contribui para a melhor distribuição de renda, o desenvolvimento dos mercados regionais e a qualificação do trabalho local, resultando no combate à desigualdade e na melhoria dos indicadores sociais de cada região, especialmente educação, saúde e segurança pública.

 

O senhor já enfatizou que a combinação entre eletrificação e etanol é uma das iniciativas mais relevantes da Stellantis em prol da descarbonização, mas certamente há várias outras. Qual a visão panorâmica da companhia em relação a esse tema?

A Stellantis estabeleceu o objetivo de descarbonizar totalmente suas operações até 2038, com redução das emissões pela metade já em 2030. No que se refere à descarbonização do processo, 45% da redução está relacionada a ações e tecnologias no produto, enquanto 55% a ações na cadeia, seja na manufatura, supply chain, logística ou infraestrutura.

 

O projeto de carbono zero inclui, portanto, toda a cadeia de valor envolvida no ciclo de produção: desenvolvimento de produtos, fornecedores, manufatura, produto, rede de concessionários e usuário. Após todo o ciclo do produto, abre-se um novo ciclo, que envolve remanufatura, reuso e reciclagem, os princípios da economia circular, também importantes para que a Stellantis consiga cumprir suas metas de descarbonização.

 

Quanto ao etanol, certamente é um forte aliado na redução das emissões de CO2 aqui no Brasil. Sua combinação com a eletrificação pode ser uma alternativa competitiva de transição para a difusão da eletrificação a preços acessíveis. É um processo que começa no desenvolvimento de motores mais eficientes, passa pelo aprimoramento do etanol e sua utilização em sistemas híbridos de propulsão, que combinem o biocombustível com a eletrificação.

 

Seguimos articulando um grande conjunto de parcerias estratégicas para acelerar o desenvolvimento e a implementação das novas soluções de motopropulsão e de descarbonização da mobilidade. No ano passado, apresentamos as nossas soluções de redução de emissão de carbono com a tecnologia Bio-Hybrid, que combina propulsão flex e eletrificação em três plataformas híbridas a serem adotadas por nossas marcas e produtos na região, além de uma plataforma 100% elétrica, que se complementam.

 

Como funciona cada uma dessas plataformas?

A primeira delas é a Bio-Hybrid. Ela traz um novo dispositivo elétrico multifuncional, que substitui o alternador e o motor de partida. Trata-se de equipamento capaz de fornecer energia mecânica e elétrica, que tanto gera torque adicional para o motor térmico do veículo quanto gera energia elétrica para carregar a bateria adicional de Lítio-Íon de 12 volts, que opera paralelamente ao sistema elétrico convencional do veículo. O sistema gera potência de até 3KW, garantindo melhor performance ao automóvel e redução de consumo de combustível, e, por consequência, menor emissão de CO2.

 

Outra das plataformas que apresentamos é a Bio-Hybrid e-DCT, que conta com o serviço de dois motores elétricos. O primeiro deles é o que substitui o alternador e o motor de partida. Adicionalmente, outro motor elétrico de maiores proporções é acoplado à transmissão. Uma bateria de Lítio-Íon de 48 volts dá suporte ao sistema e também é alimentada pelos dispositivos. Uma gestão eletrônica controla a operação entre os modos térmico, elétrico ou híbrido, otimizando eficiência e economia, reduzindo, também, o consumo de combustível e a emissão de CO2.

 

Plug-in conta com bateria de Lítio-Íon de 380 volts, recarregada através de sistema de regeneração nas desacelerações, alimentada pelo motor térmico do veículo ou, por fim, por uma fonte de alimentação externa elétrica, conhecida como plug-in. A arquitetura conta ainda com motor elétrico que entrega potência diretamente para as rodas do carro. O sistema gerencia operação entre modo térmico, modo elétrico ou híbrido, otimizando eficiência e economia, reduzindo, ainda mais, o consumo de combustível e a emissão de CO2.

 

Por fim, a arquitetura BEV, 100% elétrica, totalmente impulsionada por um motor elétrico de alta tensão alimentado por uma bateria recarregável de 400 Volts. Todas estarão à disposição do consumidor para que tenha liberdade de escolha com produtos acessíveis em todas as faixas de preço. Assim, a Stellantis caminha para o nosso projeto carbono zero, oferecendo mobilidade sustentável, segura e acessível. (O Estado de S. Paulo/Estadão Blue Studio)