Movimento do governo gera impacto nas ações de Vale e Petrobras

O Estado de S. Paulo

 

O movimento do governo para fazer do ex-ministro Guido Mantega o novo presidente da Vale – uma empresa privatizada há quase 30 anos, mas ainda sob influência governamental – teve impacto ontem nos preços das ações da mineradora e contribuíram também para derrubar os papéis da Petrobras na Bolsa de Valores (a B3).

 

Depois de acumularem alta de 1,77% no dia, as ações da Vale reduziram o ritmo no fim do pregão e fecharam com alta de 1,01%. Segundo analistas, a desaceleração coincidiu com as informações de que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, estava ligando para conselheiros da companhia, em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para dizer que o petista quer o ex-ministro no comando da empresa.

 

Até a sexta-feira, a ação da Vale, que corresponde a cerca de 14,1% do Ibovespa (o mais importante indicador de desempenho das ações na B3), acumulava perdas de quase 12% no ano. Com a recuperação parcial nas últimas sessões, a companhia registra agora uma desvalorização de 9,46% em 2024. No ano passado, os papéis da empresa já haviam se desvalorizado 13,14%, a maior queda em oito anos.

 

Além da interferência na nomeação do presidente da companhia, os analistas dizem que o desempenho dos papéis da mineradora tem a ver com os sinais de enfraquecimento da economia da China.

 

De acordo com o analista da Empiricus Research Fernando Ferrer, “há muito ruído político sobre a ida de Mantega para a presidência da Vale”. Mas segundo ele, a companhia tem “controles bem estabelecidos e tentaria ao máximo evitar isso”. O governo detém 8% de participação na mineradora, por meio da Previ, o fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil.

 

Petrobras

 

As manobras para nomear Mantega também afetaram o desempenho das ações da Petrobras, com o mercado temendo os efeitos de interferência política. Os papéis da companhia caíram 0,93% (ação ordinária) e 0,76% (ação preferencial).

 

O governo também se move para ter um controle ainda maior no conselho da estatal. No sábado, o Ministério de Minas e Energia indicou formalmente o advogado Renato Campos Galuppo para a vaga aberta no colegiado com a renúncia de Efrain Pereira da Cruz, que era o número 2 da pasta e foi exonerado há dez dias.

 

Galuppo já teve o nome rejeitado em março do ano passado pelo conselho da Petrobras em razão de sua atuação como defensor do partido Cidadania. “A briga de indicações para conselheiros já está impactando a empresa (Petrobras), mas a situação da Vale acende um novo sinal de alerta”, afirmou Hugo Queiroz, sócio-diretor da L4 Capital.

 

Petrobras, com valor de mercado de R$ 501,5 bilhões, e Vale, de R$ 313,2 bilhões, são as duas maiores empresas com ações na Bolsa brasileira. (O Estado de S. Paulo/Júlia Pestana)