Frota & Cia
Volta e meia a Vamos, líder do setor de locação de caminhões do Brasil, surpreende o mercado anunciando aquisições de portes respeitáveis. Suas mais recentes compras, a rede de concessionárias Tietê, pelo valor de R$331 milhões, no início de abril, e a DHL Tratores por R$ 93 milhões, anunciada nesta quarta-feira, 26 – esta alçou a Vamos ao posto de maior concessionária Valtra da América do Sul – demonstram o imenso apetite da companhia em ampliar a sua participação no mercado.
Nos últimos anos, a Vamos já havia adicionado ao grupo as companhias Borgato, Monarca, BMB, HM Empilhadeiras e Truckvan. Mas para onde vai a Vamos? Gustavo Couto, CEO da companhia não entrega o jogo, mas dá algumas indicações.
“Somente 1% da frota brasileira, os caminhões que estão nas mãos de empresas, os frotistas, vem do negócio de locação. Enquanto nos EUA, esse segmento responde por 25%. Então há uma oportunidade gigante para desenvolver o nosso modelo de negócios. E achamos que estamos só começando. Hoje a Vamos detém 80% do mercado de aluguel de caminhões no Brasil”, revela o executivo.
E a programação até 2025 é bem ambiciosa. “Hoje a Vamos conta com 43 mil veículos locados, mas a nossa expectativa é de alcançar a marca de 100 mil veículos locados em 2025”. Afirma o executivo.
Ampla história no mercado
CEO da companhia desde 2019, Couto não esconde a empolgação enquanto derrama números e conta histórias que remetem aos anos 90, quando o negócio de locação de caminhões da JSL se restringia a um mero departamento nas dependências do grupo. “Praticamente tudo nasceu dentro da JSL, a maior empresa de logística rodoviária do Brasil. Ali dentro tinham vários departamentos, unidades de negócios que foram se desenvolvendo. Quando chegou 2015 e 2016, o projeto Seta, um plano criado pela Simpar, determinava direcionamentos estratégicos para essas várias unidades de negócios. E aí a começou a separar essas unidades de negócios em novas empresas. E aí nasceu, em 2016, a Vamos”.
Assim como o furacão Vamos, Couto deixou as suas marcas na Shell, Suzano papel e celulose, CSN e BR Distribuidora, onde foi um dos responsáveis pelo IPO da companhia em 2017.
Sobre o negócio de locação de caminhões, ele faz um diagnóstico que diz muito sobre o que espera do futuro da Vamos: “Brinco com os meus clientes e falo assim: o meu pai, com 80 anos, nunca alugaria um caminhão. Já eu faço conta para tomar essa decisão. Agora, o meu filho nunca vai comprar um caminhão por uma questão cultural que é essa da locação”, pontua, se referindo a nova era em que, tudo indica, o transporte de aluguel deverá ocupar uma posição cada vez mais proeminente na mobilidade.
Sobre a Vamos, ele cita todos os negócios disponíveis quase que em um só fôlego, mostrando uma disposição incansável. “Temos alternativas para aquele que quer financiar, aquele que quer comprar, ou para alugar. Então esse é o modelo de negócio. E acaba sendo uma série de oportunidades na medida em que a gente combina a maior locadora do país, com a maior rede de concessionárias e a maior rede de seminovos. E é uma grande oportunidade em termos de desenvolvimento e relacionamento com os nossos clientes”, celebra, como quem tem o mundo pela frente. Couto concedeu a seguinte entrevista à Frota &Cia.
Frota & Cia: Como você explica o fenômeno Vamos que entrou em uma onda de aquisições nos últimos anos?
Gustavo Couto – Cheguei na Vamos em 2019, na função de CEO, e estou feliz por tudo que temos feito, mas contente com o que ainda vamos fazer. Quando a gente pensa em caminhões, equipamentos pesados, máquinas agrícolas, linha amarela…conclui que a Vamos é um ecossistema único no Brasil, onde a gente cria e desenvolve alternativas para a renovação da frota brasileira, pois integra a possibilidade de compra, vende, troca e aluga. Então, quando você pensar em todas as oportunidades que nós temos, como, por exemplo, comprar um seminovo de um cliente que está pensando em trocar em algum momento muito difícil… Ou o que um cliente vai fazer com um ativo usado? E, ás vezes, são muitos equipamentos e ele não consegue vender para uma única empresa. Então a gente vai lá e consegue, em grandes volumes, em grandes escalas, fazer isso. E ainda oferecer a ele a alternativa de comprar um caminhão novo, uma empilhadeira, máquina agrícola ou implemento. Mas também alugar…e ele consegue fazer isso com uma empresa que tem um portfólio completo. E também temos alternativas para aquele que quer financiar. Então esse é o modelo de negócio. E acaba sendo uma série de oportunidades na medida em que a gente combina a maior locadora do país com a maior rede de concessionárias e a maior rede de seminovos.
Qual é a sua trajetória profissional?
Gustavo Couto – Sou engenheiro de civil com pós-graduações. Trabalhei 10 anos na Shell, onde entrei como estagiário. Também na CSN. Até que fui convidado para trabalhar na Suzano, papel e celulose. Diretor de logística de TI. Aí, fui convidado para a BR distribuidora, que hoje é a Vibra, voltei para a minha origem na parte de derivados de petróleo. Então, o grupo Simpar me convidou depois de ter feito o IPO da BR Distribuidora, junto com mais 3 diretores em 2017.
E como foi o início do negócio de locação de caminhões?
Gustavo Couto – A Vamos surgiu como empresa entre 2015, 2016. Mas ainda nem existia a marca Vamos. Era um departamento separado dentro de um projeto chamado Seta, da Simpar. O primeiro contrato de aluguel de caminhões foi na década de 90. O que acontece é que assim como boa parte do grupo econômico, as empresas que compõem o grupo Simpar, praticamente nasceram na JSL, a maior empresa de logística rodoviária do Brasil. Ali dentro tinham vários departamentos e unidades de negócios que foram se desenvolvendo. Quando chegou 2015 e 2016, o projeto Seta determinava direcionamentos estratégicos para essas várias unidades de negócios. E aí a começou a separar essas unidades de negócios em novas empresas. Foi assim que nasceu, em 2016, a Vamos.
Como foi que se deu a grande virada no negócio?
Gustavo Couto – Hoje são mais de 43 mil alugados. E esse ano a nossa expectativa é crescer em relação a 2022, quando a Vamos investiu mais de 5 bilhões na compra de equipamentos que foram alugados e entregues para clientes. Vamos superar o volume de investimentos do ano passado, o que consolida a trajetória de crescimento bem acentuada nos últimos 4 anos. E esses equipamentos estão operando e a gente também investiu na formação de um estoque nesse ano com um produto muito competitivo a um custo bastante acessível também que é a base de veículos Euro 5, ainda presentes no nosso estoque. Temos uma meta até 2025 de chegar a 100 mil ativos. Imagina que, em 2019, a gente tinha algo próximo a 10 mil ativos, então, 6 anos depois, a gente poderá chegar a 100 mil ativos. Já fizemos a metade do caminho. E também pretendemos comprar caminhões Euro 6 este ano.
O que te atraiu especialmente na Vamos quando a empresa recém estava dando os primeiros passos?
Gustavo Couto – O que me motivou foi o modelo de negócios bastante inovador. A Vamos tem a capacidade de ser um agente de transformação no setor. Por quê? Quem faz a conta vai ver que é mais barato alugar do que comprar um caminhão. É também uma questão de prioridade porque o empresário pode direcionar seus investimentos para a atividade principal e não mobilizar com um caminhão que pode ser alugado. Muitas vezes as empresas podem não só ampliar, como renovar, melhorar a eficiência e reduzir seus custos ao alugar um caminhão. Uma empresa que está crescendo, investindo, vai poder se concentrar no seu core business e alugar um caminhão conosco. E uma companhia que está passando por uma redução de custos ou vivendo um momento difícil, também pode optar pela locação, porque poderá gerar caixa, vendendo seu equipamento usado para nós, ajudando a reduzir seu consumo de combustível, a diminuir custos de manutenção, ter maior produtividade e eficiência em um veículo mais moderno. Tudo isso na ponta do lápis é mais econômico e vantajoso para uma companhia que aluga. É por isso que a gente cresce tanto. Nos EUA, o modelo de aluguel de caminhão já é bastante conhecido. Aproximadamente 25% da frota americana é alugada. E olha que é um mercado que tem muito crédito e bastante desenvolvido. E lá ¼ da frota é alugada. E o Brasil tem menos crédito e uma frota mais antiga de caminhão. A frota nos EUA tem menos de 10 anos, aqui no Brasil passa de 21 anos.
Como está a frota brasileira de caminhões?
Gustavo Couto – É fundamental que o Brasil crie alternativas para que essa frota seja renovada. Pois trata-se de uma frota antiga, ineficiente, que emite muitos gases para a atmosfera. Para se ter uma ideia, a gente fez um estudo que se poderia reduzir a emissão de particulados em mais de 90% se pudéssemos, em um passe de mágica, trocar essa frota de 21 anos do Brasil por uma frota com idade média de 2 anos igual a da Vamos. Imagina o tamanho de oportunidades? Somente 1% da frota brasileira, os caminhões que estão nas mãos de empresas, os frotistas, é alugada. Então há uma oportunidade gigante para desenvolver o nosso modelo de negócios. E achamos que estamos só começando. Hoje a Vamos detém 80% do mercado de aluguel de caminhões no Brasil.
Como é trabalhar com locação em um mercado ainda com características mais conservadoras como o brasileiro?
Gustavo Couto – Olha, eu brinco com os nossos clientes e falo assim: o meu pai que tem 80 anos e é muito ativo, nunca alugaria um caminhão. Eu faço conta para tomar essa decisão. Agora, o meu filho nunca vai comprar um caminhão, então tem sim uma questão cultural. Que as pessoas precisam conhecer o modelo de negócios, entenderem o quanto benéfico ele é, e consequentemente, passar a adotar isso com maior escala e proporção. Isso vem aumentando muito rápido. No início de 2019 tinha aproximadamente 10 mil caminhões e máquinas. Hoje, quando a gente olha para o mercado e vê que a gente já passou de 43 mil em 4 anos, multiplicamos por 4 o tamanho da empresa. Isso só na parte de locação. Sem falar na área das concessionárias. Não é só o aluguel, pelo contrário, a gente tem a maior rede de concessionárias do país e oferecemos para o cliente a opção de comprar, trocar, alugar de vender. E esse é o nosso ecossistema. (Frota & Cia/Rosa M. Symanski)