O Estado de S. Paulo
As mudanças climáticas apresentam o desafio mais significativo que o mundo enfrenta atualmente. O Brasil e a China, como duas das maiores nações em desenvolvimento, com territórios extensos e recursos naturais abundantes, desempenham papel fundamental no enfrentamento da crise climática. As metas de descarbonização “30-60″ da China se alinham de maneira estreita com a meta do Brasil de alcançar emissões líquidas neutras até 2050. Essa cooperação promete um caminho verde e inclusivo que promove o desenvolvimento conjunto e oportunidades compartilhadas.
O Brasil está firmemente comprometido com o desenvolvimento de energias renováveis e está hoje entre os países com maior utilização de fontes renováveis de energia. Dados do Ministério de Minas e Energia do Brasil revelam que, em dezembro de 2022, a energia renovável contribuiu com 87,4% das necessidades de eletricidade do País. Isso se deve à grande redução na dependência de termoelétricas a carvão e gás natural, bem como a um aumento significativo de geração de energia de fazenda solar (mais de 78%), eólica (mais de 12%) e hidrelétrica (mais de 16%) em 2022, em relação a 2021. De acordo com a Agência Internacional para as Energias Renováveis, o Brasil manteve uma taxa média de crescimento anual da capacidade de produção de energia renovável de 6,4% desde 2013.
De fato, uma nova revolução industrial verde está florescendo no Brasil. De acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o País adicionou 88 novas fazendas solares em 2022, alavancando a geração de eletricidade em 64% em relação ao ano anterior, com a produção de componentes para painéis solares ajudando a revitalizar a economia. A agricultura, o setor econômico mais importante do Brasil, colheu benefícios sociais, econômicos e ambientais substanciais de práticas agrícolas inovadoras e de baixo carbono. Adicionalmente, o Brasil continua incentivando o transporte de baixo carbono. Em 2022, as vendas de veículos elétricos atingiram o recorde histórico de 49.245 unidades, um aumento de 41% em relação ao ano anterior, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
A relação entre a China e o Brasil, em particular a colaboração ambiental, segue se aprofundando, com a tecnologia e o capital chineses apoiando o desenvolvimento sustentável do Brasil. Desde 2007, cerca de US$ 66 bilhões – representando cerca de 3/4 do investimento total da China no Brasil – foram direcionados para o setor de energia, com a grande maioria voltada para o desenvolvimento de energias limpas como hidrelétrica, eólica, solar e de biomassa, de acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Vários projetos eólicos e solares brasileiros, como a fazenda solar Sol do Cerrado e o parque eólico Lagoa do Barro, utilizam diretamente equipamentos chineses. Além disso, várias montadoras financiadas pela China estabeleceram fábricas no Brasil, tornando-se participantes importantes no dinâmico setor de veículos elétricos do País, ao mesmo tempo que contribuem para a economia brasileira e o emprego local.
Olhando para o futuro, o Brasil e a China têm vastas oportunidades para uma cooperação mais profunda. A China busca ativamente uma filosofia de desenvolvimento sustentável verde, com abertura, inovação e inclusão, à medida que otimiza estruturas industriais e energéticas. Como maiores investidores mundiais em energia renovável e fabricantes de equipamentos de energia limpa, observamos o momento de diálogo entre a China e o Brasil como ideal para fortalecer sua colaboração em investimentos verdes e aprofundar a cooperação tecnológica. Juntos, os dois países podem explorar o potencial de investimento e parceria em energias renováveis, infraestrutura sustentável, agricultura de baixo carbono, veículos elétricos, finanças verdes e economia digital. Também podem promover o desenvolvimento econômico e social e se beneficiar mutuamente por meio de sinergias atraentes.
O governo brasileiro deu prioridade ao desenvolvimento de energias renováveis, e a China compartilha dessa visão. O crescimento se tornará ponto focal da cooperação nesta nova etapa da parceria estratégica China-Brasil. Esperamos trabalhar com vários parceiros no Brasil visando a contribuir para um futuro econômico mais verde e de baixo carbono na região e no mundo. (O Estado de S. Paulo/Huang Zhaohui, CEO do China International Capital Corporation-CICC)