Projeções do PIB e o legado de fato

O Estado de S. Paulo

 

Num aparente assomo de realismo, a equipe econômica reduziu de 2,5% para 2,1% a expansão estimada para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, início de mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Embora mais modesta que a sustentada até há poucos dias, a nova projeção oficial ainda é o triplo daquela registrada (0,70%) no boletim Focus, elaborado pelo Banco Central (BC) com base em consultas semanais a economistas do setor financeiro e de consultorias. Foi mantido em 2,7% o crescimento estimado para este ano pelos técnicos do Ministério da Economia. Os números oficiais são do Boletim Macrofiscal, preparado a cada bimestre pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia. O desempenho estimado para 2022 deve ser sustentado, segundo os técnicos da SPE, principalmente pelos serviços e pela agropecuária, bem mais dinâmicos que a indústria no terceiro trimestre deste ano.

 

Por prudência, a equipe do novo governo deve dar maior peso às projeções do mercado, bem menos otimistas que as da SPE. As duas se assemelham ao realçar as condições internacionais desfavoráveis em 2023 e nos anos seguintes, mas o panorama brasileiro é mais luminoso nos cálculos oficiais. Mas, se o crescimento do PIB for mais próximo daquele indicado pelo boletim Focus, o governo do presidente Lula terá de confrontar cenários adversos na área fiscal e no dia a dia da vida econômica.

 

Com o PIB crescendo 0,7%, ou, de toda forma, menos que 1% no próximo ano, o aumento da receita tributária será modesto. Maior arrecadação, no entanto, seria especialmente importante, por causa das promessas eleitorais e dos desarranjos orçamentários herdados de 2022. Nessas condições, um desdobramento incontornável será o aumento da dívida pública como porcentagem do PIB. Mas falta acrescentar alguns detalhes desagradáveis.

 

A inflação do próximo ano, segundo a SPE, ficará em 4,60%, abaixo daquela indicada pelo Focus (4,94%), mas ainda elevada e acima do teto da meta (4,75%). Se isso ocorrer, a inflação terá superado o teto por três anos consecutivos. Seria irrealista esperar, nessas condições, uma redução mais veloz dos juros básicos – até porque essa política seria incompatível com o quadro financeiro internacional.

 

Nesse quadro, a redução dos juros básicos para 11,25%, já prevista pelo mercado, pode até parecer satisfatória. Com o dinheiro caro no Brasil e no exterior, haverá pouco espaço para expansão dos gastos familiares e dos investimentos das empresas. O novo governo completará seu primeiro ano com dificuldades fiscais e num cenário de baixo crescimento da produção e do emprego.

 

Talvez a equipe econômica do novo presidente consiga desenhar uma estratégia para contornar esses problemas e facilitar a expansão da atividade. Mas essa equipe terá de trabalhar muito, nas próximas semanas, para chegar a janeiro com um plano claro e realista de reativação econômica. Muito mais que culpar o governo anterior pelos problemas do País, será preciso mostrar resultados do novo governo. (O Estado de S. Paulo)