O Estado de S. Paulo
O número de motoristas idosos no Brasil representa 18,49% da população. São cerca de 14,5 milhões de pessoas com mais de 60 anos que estão habilitadas para dirigir, segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). Pela lei no País, não existe idade-limite para tirar a Carteira Nacional de Habilitação. O que muda, de acordo com a idade, é o tempo de validade da CNH.
Para quem tem menos de 50 anos, a renovação deve ser feita a cada dez anos. Para quem tem entre 50 e 70, a cada cinco anos. E, para quem tem mais de 70, a cada três. O idoso tem, pela lei, acesso a vagas próximas do local onde pretende ir. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) regulamenta que 5% das vagas dos estacionamentos públicos e privados precisam ser sinalizadas para as pessoas acima de 65 anos.
O diretor científico da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Flavio Adura, explica que o Código Nacional de Trânsito prevê que, quando houver indício de deficiência física ou de doença progressiva que afetem a capacidade de dirigir, o prazo de renovação da carteira pode ser reduzido a critério do médico.
Adura informa também que as taxas mais altas de sinistros no Brasil envolvem condutores com menos de 20 e mais de 65 anos. No entanto, ele explica que a medicina está bem preparada para dar suporte para o envelhecimento funcional.
“Para o idoso, saúde é ter autonomia e independência, é poder ir às compras e visitar parentes e amigos sozinho. Existem estudos que comprovam um declínio significativo quando o idoso para de dirigir. Ele começa a perder contato social e há uma queda cognitiva, diminuindo sua capacidade de atenção e de compreensão que pode levar à depressão e ao aumento da mortalidade.”
As principais infrações de trânsito cometidas pelos idosos estão relacionadas à cognição, porque com o envelhecimento a interpretação do movimento fica mais lenta e isso afeta o tempo de reação. Problemas de visão, ofuscamento da vista pelos faróis de um carro em sentido contrário e diminuição da audição também interferem na condução.
Paulo Camiz, geriatra e professor de Clínica Geral da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, informa que por causa disso é comum familiares de pessoas idosas tentar impedi-los de dirigir. O médico, no entanto, defende, que se houver atenção maior com a saúde, a pessoa mais velha tem plenas condições para seguir dirigindo.
“Sou totalmente favorável a uma pessoa de idade continuar dirigindo, desde que ela cuide bem da saúde e tenha autocrítica para perceber seus limites. Também é importante ouvir seus familiares. Sugiro aos meus pacientes que dirijam carros automáticos, se possível”, diz Camiz.
Além das visitas regulares ao médico, os especialistas recomendam alimentação equilibrada e atividade física regular para ajudar a manter a saúde em dia e, por consequência, seguir dirigindo pela cidade. Caminhadas diárias de cerca de 20 minutos melhoram a locomoção e dão força nas pernas, ajudando a compensar a perda natural do tecido muscular. Também é importante fortalecer os braços para garantir destreza na troca de marchas e na empunhadura do volante. Outra região que merece atenção é o pescoço. Sem mobilidade, dificulta movimentos simples como virar a cabeça para o lado para ver se dá para seguir adiante em um cruzamento. (O Estado de S. Paulo/Roberta De Lucca)