Os desafios do Brasil para descarbonização no transporte

O Estado de S. Paulo

 

transporte tem papel importante para interromper o processo acelerado das mudanças climáticas. Somente no Brasil, segundo aponta estudo mais recente do IPCC, de 1,42 bilhão de toneladas de CO2 despejadas na atmosfera em 2018, 13% foram provenientes de escapamentos.

 

Em comparação a outros países, o Brasil se mostra em situação menos crítica. Nos Estados Unidos, por exemplo, dos 5,79 bilhões de toneladas de CO2, o transporte respondeu por 29% e, na União Europeia, por 23% de 3,33 bilhões de toneladas. No pulmão, o resultado é pandêmico. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2021, a poluição atmosférica mata 7 milhões de pessoas no mundo por ano, 70 mil só Brasil.

 

Para reverter o quadro, reduzir a emissão de poluentes é urgente. Criado em 1986 por resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) vem a cada etapa exigindo da indústria automotiva menores níveis de poluentes.

 

De acordo com levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o limite de 2,0 g/km de monóxido de carbono (CO) estabelecido em 1995 caiu pela metade em 2015 em modelos leves. No caso de pesados, movidos por diesel, o óxido de nitrogênio (NOx) baixou de 9 g/kWh para próximo de zero em 2013, enquanto o CO2 reduziu de 5 g/kWh para 2 g/kWh.

 

Novas regras

 

Em janeiro de 2023, uma nova fase do Proconve para pesados entrará em vigor, a chamada P8, equivalente à norma europeia Euro 6. No caso, a legislação coloca foco na redução de 80% de NOx e de 50% no material particulado despejado pelo escapamento.

 

Apesar das significativas reduções, é inegável que a poluição persiste. Para Henry Joseph Jr., diretor técnico da Anfavea, projetos que contribuem com a redução da poluição atmosférica são bem-vindos e muitos, porém, carecem de vínculo com visão de carbono neutro.

 

“Os programas não conversam entre si e não têm prazos coerentes com a realidade. É diferente do que acontece na União Europeia, nos Estados Unidos e, até mesmo, na Índia, que se propõem a estabelecer políticas com uma rota clara, com medidas que convergem com as metas propostas”, resume o diretor.

 

Outro dado, no entanto, tem força para anular o progresso de mitigação das emissões no Brasil: a frota envelhecida, boa parte dela composta por veículos sem qualquer tecnologia de controle de emissão ou mesmo com componentes.

 

Estudo do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), consolidado em março passado, aponta uma frota circulantes de 45 milhões de veículos leves, dos quais mais da metade, 25,6 milhões, foi produzida antes de 2013.

 

No caso de pesados, dos 2,3 milhões de caminhões e ônibus, 1,2 milhão, 52%, está enquadrado em fases anteriores à P7, iniciada em janeiro de 2012, que garantia funcionamento do sistema de tratamento de gases em até 500 mil km. A próxima, a P8, exige 700 mil km. (O Estado de S. Paulo/Décio Costa)