Fundição Tupy vai fechar planta de Mauá no dia 30

Diário do Grande ABC

 

Mais uma má notícia aflige os trabalhadores do parque industrial do Grande ABC. Após Toyota e Mercedes-Benz divulgarem que realizarão demissões em suas plantas de São Bernardo, agora a fundição Tupy, que produz componentes estruturais em ferro fundido, anunciou anteontem (20) para os seus 220 funcionários da filial de Mauá que as atividades da unidade serão encerradas no dia 30 de setembro.

 

Os trabalhadores poderão optar pela transferência para a matriz em Joinville, Santa Catarina, ou para a filial em Betim, Minas Gerais. A cidade catarinense fica a 562 quilômetros de Mauá; já a mineira, distante 572 km do Grande ABC.

 

Inaugurada em 1998, quando a Tupy adquiriu a fundição da Cofap, a unidade paulista até 2017 fundia blocos de motores automotivos de caminhões, ou seja, produzia todo o “esqueleto” externo no qual as peças eram inseridas.

 

Atualmente, a fábrica instalada no número 424 da Avenida Manoel da Nobrega, em Capuava, se ocupa com serviços chamados de ””rebarba””, como acessórios e acabamentos. A unidade é bem menor que a matriz, que emprega 10 mil trabalhadores, e a filial mineira, com 4.000.

 

Na manhã da última quarta-feira (21), o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá reuniu a categoria em assembleia na entrada da empresa para repassar o comunicado da Tupy, a qual o Diário teve acesso.

 

Para os trabalhadores que não têm estabilidade (são cerca de 40), caso não queiram se mudar, foi oferecido seis meses da manutenção do convênio médico, além de seis meses de vale-compras de R$ 1.200 e três salários nominais, além das verbas rescisórias.

 

Já para os que possuem estabilidade (por terem sofrido algum acidente de trabalho ou adquirido problema de saúde em virtude dele), não há uma proposta formalizada. De acordo com o sindicato, a empresa está focada nas transferências, em um primeiro momento. Dos cerca de 180 trabalhadores com estabilidade, 45 optaram por Betim, 24 por Joinville e os demais ainda não se decidiram ou não poderão ir.

 

Incertezas

 

O clima na empresa é de apreensão. Vander Aparecido de Oliveira tem 45 anos, 19 deles de empresa. Ele trabalha como esmerilhador de peça, faz o acabamento do bloco de motor. O funcionário diz que “alguns estão aceitando a transferência porque estão se sentindo pressionados, a empresa chega e diz: ””você vai ser transferido ou vai ser mandado embora. E aí?”” O cara acaba ficando com medo e aceita”.

 

Já Elias Alves é controlador de processo ou facilitador. Segundo ele, “um encarregado”. Tem 45 anos, 23 na Tupy. Mais da metade da vida dedicada à empresa. Ele aceitou a mudança, mas teme que a companhia não disponibilize o espaço que precisa ter para exercer sua atividade profissional.

 

“Tenho estabilidade até a aposentadoria, pois manuseava benzeno. Hoje, não posso ter acesso ao chão de fábrica, pois tenho problema em ter contato com produtos químicos. Escolhi ir para Betim, até porque não consigo emprego fora daqui, apesar de ser técnico de enfermagem.”

 

Alves explica o porquê. “Sou reprovado em todo exame admissional pelo número baixo de plaquetas no sangue. Disseram que lá (na outra filial) vai ter uma sala para mim, um espaço semelhante ao que eu tenho aqui para eu trabalhar. Vão ver se vão cumprir isso lá mesmo… Será que vou ficar ””ao Deus dará””? Aqui fico dentro de uma sala, será que lá ficarei também? Há outro rapaz que trabalha comigo que tem vários pinos na coluna. Se ele não trabalhar na sala, vai fazer o que?”, indaga.

 

No documento enviado ao sindicato, a Tupy disse que a todos os funcionários que optarem por permanecer na empresa oferecerá auxílios para mudança, aluguel, bônus de um salário nominal, hospedagem por até 30 dias, passagens e ajuda financeira para retorno (em caso de demissão sem justa causa em até 12 meses).

 

Cícero Martinha, presidente do sindicato, afirmou que “nós estamos agora conversando com os trabalhadores, abrimos um atendimento a partir das 9h desta quinta-feira (hoje), inclusive na parte jurídica, para a gente também ir comunicando o andamento de todo este processo para a empresa”.

 

Sivaldo Spirro, secretário financeiro da entidade, alegou que uma das razões para o fechamento da filial de Mauá são os gastos maiores que os das outras plantas. “A empresa alega que o custo em Joinville é muito menor, inclusive salarial e de benefícios. Nós aqui sempre tivemos uma condição melhor de salário, de PLR (Participação nos Lucros e Resultados). Eles estão hoje ganhando muito mais produzindo nesses outros lugares.”

 

Em nota, a empresa confirmou “que, no próximo dia 30 de setembro, seguirá com a transferência das atividades remanescentes da planta de Mauá para as plantas localizadas nas cidades de Joinville e Betim. Todos os colaboradores que ainda atuam na operação receberam oferta de transferência para as estas unidades ­ Minas Gerais e Santa Catarina. A Tupy reforça que o sindicato e a empresa estão acompanhando e orientando os colaboradores de forma ainda mais próxima, neste momento de transição”.

 

O Diário tentou ouvir a Prefeitura de Mauá, mas não obteve retorno. (Diário do Grande ABC/Tomaz de Alvarenga)