O Estado de S. Paulo
Apesar de as expectativas de inflação continuarem altas, o Copom manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano e, após 12 elevações consecutivas, encerrou o mais longo ciclo de alta dos juros básicos desde 1999. A decisão era esperada. Nos EUA, o Fed subiu os juros em 0,75 ponto pela terceira vez consecutiva.
Mesmo com as expectativas de inflação ainda num patamar elevado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve ontem a taxa Selic em 13,75% ao ano, encerrando o mais longo ciclo de alta dos juros básicos de sua história. A decisão era esperada pelo mercado financeiro.
A taxa, ainda assim, é a maior desde janeiro de 2017. Foram 12 altas consecutivas nesse processo de aperto monetário, com um aumento acumulado de 11,75 pontos porcentuais no período – a maior alta porcentual desde 1999. O ciclo foi iniciado em março de 2021, quando os juros básicos estavam na mínima histórica de 2% ao ano.
A decisão do Copom não foi unânime. Segundo o comunicado divulgado pelo Banco Central, sete dos nove integrantes do comitê votaram pela manutenção de 13,75%, enquanto os outros dois votaram por uma “elevação residual” de 0,25 ponto porcentual – o que jogaria a Selic para 14% ao ano. Trata-se da primeira decisão sem unanimidade dos membros do Copom em mais de seis anos. A última decisão dividida foi em março de 2016.
O colegiado ainda deixou a porta aberta para voltar a subir a taxa. “O comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, diz o comunicado.
O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, ressalta que o Copom não apenas sinalizou que vai manter os juros em níveis elevados por período prolongado, como também alertou que não vai hesitar em retomar o ciclo de alta caso não ocorra um processo de desinflação da economia. “Os próprios votos dissidentes devem ser vistos como sinalização do compromisso do BC de entregar a inflação na meta”, afirma.
Chefe da área de estratégia da Renascença DTVM, Sérgio Goldenstein avalia que o Copom trouxe uma mensagem dura no comunicado, para evitar que o mercado embarque em apostas de cortes imediatos da taxa de juros. “O BC não quer que o mercado entenda o fim do ciclo de alta como início dos cortes no curto prazo”, afirmou.
O aumento de juros é considerado uma medida impopular. A última vez que ocorreu um aumento da Selic durante uma campanha ao Palácio do Planalto foi em 2002, ano da primeira vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O então candidato do governo, José Serra (PSDB), perdeu aquela eleição.
Mesmo com a estabilidade da taxa Selic, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site Moneyou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 8,22% ao ano. Em segundo lugar na lista que considera economias mais relevantes, aparece o México (5,13%), seguido da Colômbia (3,86%). A média dos 40 países avaliados é de -1,69%.
O aumento do juro básico da economia se reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem de seis a nove meses entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito. A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos. Por outro lado, aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures (títulos de empresas), passam a render mais.
Combate à inflação
O BC se baseia no sistema de metas de inflação para calibrar os juros básicos. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o BC a reduz. A disparada dos preços esteve intimamente ligada à disparada da inflação em 2021 e 2022.
Para 2022, a meta central de inflação é de 3,5%, e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%. Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%. As estimativas de inflação para este e o próximo ano continuam muito acima do teto da meta, mesmo com a desaceleração dos preços. O BC já indicou que só prevê voltar à meta em 2024. (O Estado de S. Paulo/Thaís Barcellos, Eduardo Rodrigues, Denise Abarca e Antonio Perez)