O Estado de S. Paulo
Maior startup da América Latina, a Kavak, de compra e venda de automóveis seminovos, anunciou ontem que levantou US$ 810 milhões por meio de linhas de crédito em três bancos: HSBC, Goldman Sachs e Santander. O dinheiro chega três meses após a empresa mexicana promover demissões em massa na operação brasileira – segundo apurou o Estadão, cerca de 300 profissionais foram cortados.
De acordo com comunicado da companhia, as linhas de crédito serão destinadas à operação de compra e venda de veículos seminovos. A maior parte da quantia (US$ 675 milhões, obtidos no HSBC) foi levantada por contrato de venda de recebíveis futuros – o banco obtém os direitos sobre recebíveis originados pelos financiamentos concedidos pela Kavak.
A outra fatia do dinheiro (US$ 100 milhões do Goldman Sachs e US$ 35 milhões do Santander) será reservada para desenvolvimento do negócio, consolidação de infraestrutura e aumento de estoque. “Estamos investindo no desenvolvimento de um modelo operacional que nos permitiu oferecer soluções de financiamento para mais de 50% dos nossos clientes”, afirma, em nota, Moises Flores, diretor financeiro da Kavak.
“A linha de crédito é um bom sinal em um momento apertado de liquidez de mercado”, afirma ao Estadão Gilberto Sarfati, professor da Fundação Getulio Vargas.
Sarfati explica que, nesse modelo, o dinheiro de capital de risco é usado para sustentar o crescimento da empresa com expansão digital e contratações. Já as linhas de crédito são destinadas às operações de vendas, que se desenrolam de forma mais rápida.
A opção se torna importante quando considerado o atual cenário. Com o aumento global da inflação e da subida dos juros, a torneira do dinheiro de investidores de risco secou, o que afetou principalmente os “unicórnios” (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão) – esse foi o principal motivo das demissões em massa no primeiro semestre. Até aqui, a Kavak levantou US$ 1,6 bilhão entre nomes como Softbank, General Atlantic e Greenoaks.
Para os bancos, a parceria com a Kavak pode ser frutífera. “A Kavak permite a eles chegar a um público que eles, talvez, tivessem mais dificuldade para conseguir se conectar. Além disso, a Kavak fica com grande parte do trabalho de análise de crédito dos clientes”, explica Guilherme Fowler, professor de inovação do Insper. (O Estado de S. Paulo/Bruno Romani)