O Estado de S. Paulo
A automação plena de veículos ainda caminha lentamente no Brasil, mas novas tecnologias já contribuem para redução de acidentes. O engenheiro Michel Braghetto, mentor de Mobilidade Autônoma da Sociedade de Engenheiros Automotivos (SAE, na sigla em inglês), informou que 25% dos veículos vendidos no País em 2021 tinham sistema de frenagem de emergência e 20%, detecção de faixa.
De acordo com ele, a disseminação de tecnologias semiautônomas tem crescido ano a ano e colaborado para maiores investimentos das montadoras. Além do desafio da infraestrutura e da tecnologia em si, um impasse no setor ainda é a legislação no caso de acidentes com veículos autônomos. “Principalmente para veículos dos níveis três e quatro, a discussão sobre de quem é a responsabilidade ainda não está clara”, afirma Braghetto.
Segundo o ranking de automação criado pela SAE, que vai de zero a cinco (leia quadro ao lado), os veículos mais modernos à venda hoje em dia ainda se encontram nos níveis um e dois. “Isso significa que as tecnologias que existem atualmente podem auxiliar e alertar o condutor sobre situações perigosas, mas o condutor ainda tem que ter as mãos ao volante”, informa o engenheiro.
Ainda sem data para comercialização, fabricantes automotivas e empresas de tecnologia estão realizando testes com veículos autônomos nível quatro. “São carros que podem dirigir sozinhos, mas ainda em um percurso determinado e sob certas condições, não irrestritamente”, esclarece o especialista da SAE Brasil.
Como exemplo, ele cita os robô-táxis da Uber e da Waymo. “Eles até são capazes de desviar no caso de uma interdição na via, mas ainda vão apenas do ponto A ao ponto B”, acrescenta.
No nível 5, ou seja, na automação plena, os veículos poderão dirigir sozinhos de forma irrestrita. Essa, contudo, ainda é uma realidade distante e cheia de desafios, avalia Braghetto.
Redução de acidentes
Entre os benefícios da condução autônoma está a promessa de reduzir ou acabar com as fatalidades no trânsito. Além dos radares e câmeras, sistemas automatizados e veículos conectados deverão ser capazes de prever situações perigosas e tomar decisões para evitar um acidente. “Essa automação está caminhando mais lentamente do que a indústria previa. Um futuro com veículos autônomos e conectados só deve começar mesmo na próxima década”, prevê Braghetto.
De acordo com ele, ainda é preciso ampliar a conectividade e a Internet das Coisas (IOT), para permitir a comunicação entre veículos e “tudo ao redor”, chamada de V2X. “Quando isso for possível, aí o céu é o limite”, prevê o engenheiro da SAE Brasil.
Nesse cenário, a adoção do 5G é, apenas, o primeiro passo. A maior velocidade de conexão do 5G deve permitir que veículos autônomos troquem informações imediatamente entre si e com o ambiente de forma mais efetiva do que quando atuam apenas com câmeras e sensores, explica o professor do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luiz Bittencourt.
“Em cenários onde veículos precisam passar por cruzamentos que não permitem visibilidade total ou cenários onde pedestres estão encobertos por barreiras, a troca de dados imediata entre veículos permitirá uma identificação mais efetiva de riscos de acidentes”, exemplifica o professor da Unicamp. (O Estado de S. Paulo/Arthur Caldeira)