Mercado ajusta previsões, mas não aposta em alta da Selic

O Estado de S. Paulo

 

Após a fala do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, na noite de segunda-feira, e a do diretor de Política Monetária, Bruno Serra, na manhã de terça, o mercado de juros parece ter corrigido o “otimismo” com o alívio monetário. Por volta das 14h30min de terça-feira, a curva indicava redução de 290 pontos-base da Selic em 2023, a pouco mais de 11%, ante 330 pontos na véspera, nas contas do economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano.

 

Para setembro, a precificação é de 40% de chance de um aumento de 0,25 ponto. “Acho que eles quiseram tirar ou diminuir essas precificações de corte tão cedo, até porque a inflação projetada ainda está acima da meta”, afirmou o economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, que mantém a previsão de a Selic fechar o ciclo em 13,75%.

 

Para Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa, as falas de Campos Neto e de Serra serviram como um esforço de diminuir as apostas em um início rápido do ciclo de cortes, especialmente quando as expectativas de inflação continuam acima do centro da meta. “Está dando um recado para o mercado, dizendo que está muito otimista com relação à queda dos juros no ano que vem”, disse. “Para o BC, não interessa ter o mercado muito otimista com o início do ciclo de corte de juros quando você está em um processo de elevação das taxas.” Após as falas dos dirigentes do BC, Leal manteve a projeção de Selic de 13,75% no fim do ciclo de altas.

 

Para Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, a maior preocupação do BC é chegar a “uma eventual pausa em setembro desautorizando o mercado a entrar em um ‘oba-oba’ de projeção de corte prematuro de juros”. “Há um desafio enorme de desinflação para o centro da meta de 3%”. (O Estado de S. Paulo/Thaís Barcellos e Cícero Cotrim)