Com chegada do Euro 6, transportadoras miram contratos mais rentáveis

Estradão

 

O preço dos caminhões novos praticamente dobrou nos últimos dois anos. Segundo as montadoras, a culpa é da alta dos custos de produção. Agora, com a introdução do Proconve P8, equivalente ao Euro 6, os preços vão subir ainda mais. Mesmo assim, várias transportadores programam fazer investimentos na renovação de suas frotas. Dessa forma, miram fechar contratos mais rentáveis nos próximos anos.

 

De acordo com as fabricantes, com o Euro 6, em vigor a partir de janeiro de 2023, os caminhões vão ficar, em média, 25% mais caros. Vale ressaltar que a nova regra de emissões de poluentes vale para caminhões e ônibus com peso bruto total (PBT) a partir de 3,5 toneladas. Para veículos comerciais com PBT abaixo dessa linha, a regra está valendo desde janeiro de 2022.

 

Uma das empresas que confirmou os planos de novos investimentos é a Zorzin Logística. Isso porque a transportadora atua na movimentação de produtos perigosos. Ou seja, seus clientes têm, como uma das maiores preocupações, a segurança. Assim, estão dispostos a pagar para ter o melhor em termos de tecnologia e inovação.

 

Segundo a diretora-administrativa da transportadora, Gislaine Zorzin, todos os anos a companhia compra novos caminhões. Portanto, 2023 não será diferente. Por isso, já está negociando a aquisição de 40 caminhões com motor Euro 6 da Mercedes-Benz. Parte da nova frota visa a expansão da operação. “Temos de oferecer todas as novas soluções disponíveis no mercado. E, claro, com uma frota renovada, há melhores oportunidades de negociar valores que permitam maior rentabilidade”, diz a diretora.

 

Crescimento expressivo para 2023

 

Segundo Zorzin isso é possível porque no setor de químicos toda e qualquer inovação que a empresa apresentar ao cliente, se trouxer valor para a atividade, o embarcador paga. “O cliente de produtos perigosos visa pela segurança. Então, veículos novos e que entregam mais segurança e tecnologia são valorizados nesse segmento”, diz a executiva.

 

Por outro lado, há ganhos para a transportadora que conquista a confiança do cliente. E com oportunidade de expandir contratos. Algo que Zorzin vislumbra ocorrer no próximo ano.

 

Com base nisso, a transportadora neste ano prevê crescer 35% em relação a 2021. Mas já de olho nas novas operações programadas com a frota Euro 6, para 2023, projeta crescimento na ordem de 70% no faturamento.

 

Diretor executivo da Ghelere Transportes, Eduardo Ghelere, vai comprar caminhão Euro 6. Mesmo porque na sua operação atende grandes embarcadores ligados às políticas ESG. Sobretudo do setor de alimentos e bebidas. Algumas são até listadas na Bolsa.

 

“Embora nossa empresa seja limitada, de origem familiar, desenvolvemos o nosso relatório de ESG para esses clientes. E esse diferencial nos ajuda a fortalecer nossa marca, bem como nossas operações”, diz Ghelere.

 

Contudo, mais do que relatórios e caminhões zero-km na frota, a empresa entrega outras soluções para tentar minimizar danos no transporte. Assim, além de poupar custos de operação, aumenta a confiança do cliente.

 

Provedora de soluções

 

Por exemplo, em 2015, a transportadora implementou balão de ar nas carretas. Dessa forma, reduziu a quase zero o índice de avaria. Ou seja, dos R$ 400 milhões de mercadorias transportados mensalmente, os custos de avarias não chegam a R$ 90.

 

Ademais, em 2106 a empresa desenvolveu em parceria com a Facchini, uma carreta do tipo gaiola com forro para o transporte de bebidas. Além disso, instalou em todos os implementos da frota o sistema de freio EBS. O dispositivo só passa a ser obrigatório em 2024.

 

Ghelere reconhece que o cliente inicialmente não paga por essas soluções. Porém, reconhece que isso gera valor para o seu negócio e a operação do cliente. Uma vez que não há avarias, não há acidente. Tampouco exposição das empresas.

 

O retorno vem

 

Seja como for, com esses exemplos o empresário revela que a boa fama vai para o mercado. Com isso, ele fideliza o cliente. Já que ele começa a entregar mais mercadorias para a Ghelere transportar. Assim, como outros clientes passam a querer essas soluções. E aí está a oportunidade de agregar o valor ao serviço prestado.

 

“Por essa razão, investir em frota que trará soluções de economia de combustível e de tecnologia embarcada é uma prática comum na empresa. Mesmo que o retorno financeiro não aconteça de imediato”, conta o diretor da transportadora.

 

Por causa da política desses investimentos em novas soluções, a transportadora vem crescendo em média entre 20% e 25% ao ano. E sem a necessidade de capital de giro. Nesse sentido, vale ressaltar que a empresa está conseguindo comprar seus ativos, sem a necessidade de buscar crédito.

 

A Rodonaves possui uma carteira com mais de 300 mil clientes ativos. Ou seja, a capilaridade é a estratégia da operação da companhia.

 

Em razão disso, o diretor de operações da companhia, Antonio Petruco, explica que à medida que a empresa ganha novos clientes, percebe que o comportamento do mercado está mudando. À exemplo disso, a cada novo cliente, a política de ESG já é listada como requisito para fechar negócio.

 

Nesse sentido, no quesito ambiental, a empresa desde o ano passado investe em frota de veículos elétricos para atuar na última milha. Estratégia que deu certo. Para este ano, há expectativa de ampliar o serviço para outros municípios do País, além de São Paulo.

 

Transportadoras visam melhores contratos com caminhões Euro 6

 

Ademais, ainda para este ano, a Rodonaves no seu processo de expansão vai comprar mais caminhões elétricos. Assim como deve comprar caminhões a gás para a operação agro e de médias distâncias.

 

Nesse sentido, o Grupo Rodonaves também atua com concessionárias da marca Iveco. E a montadora lançará seus caminhões a gás na Fernatran, em novembro. Dessa forma, a expectativa, segundo Petruco, é que tão logo a Rodonaves estreie a tecnologia na sua operação. Assim como com caminhões Euro 6.

 

Seja como for, por causa do aumento da capilaridade, a empresa deve investir em mais 150 novos caminhões. O que significa investimentos na ordem de R$ 80 milhões em novos veículos Euro 6.

 

Hoje, a frota da Rodonaves é de 1,5 mil veículos entre caminhões e carretas. Nem todos próprios. A empresa trabalha com frota terceirizada. Porém, desse montante, 900 placas são de caminhões Euro 5.

 

O Grupo SVD transporta veículos comerciais para as principais fabricantes do Brasil e países do Mercosul. E por causa da chegada da nova tecnologia, o diretor de operações do Grupo SVD, Sergio Pzichoz, estima crescimento de 60% no faturamento.

 

“Além da demanda que vai puxar pela Euro 6, o Grupo SVD também tem a divisão de acessórios para caminhões, bem como de seminovos. Mas boa parte desse crescimento se dará pela demanda do transporte e armazenagem dos novos veículos. Mesmo porque esse serviço representa 70% da nossa operação”, diz Pzichoz. (Estradão/Andrea Ramos)