Julho tem deflação e nova queda do IPCA é prevista para agosto

O Estado de S. Paulo 

 

Aqueda no preço de combustíveis e energia elétrica, após a redução do ICMS, fez com que o IPCA registrasse deflação de 0,68% em julho, a maior da série histórica iniciada em 1980. Alguns economistas preveem nova baixa no índice em agosto – embora menos intensa –, ainda decorrente da redução nos preços administrados pelo governo. Apesar disso, 63% dos itens investigados em julho mostraram alta, com destaque para o leite longa-vida, que subiu 25,46% no mês. Os serviços ficaram 0,8% mais caros.

 

A redução do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica levou a uma deflação de 0,68% em julho. O recuo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o maior registrado em um mês na série histórica iniciada em janeiro de 1980 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Alguns economistas preveem nova deflação em agosto, embora menos intensa, ainda decorrente da queda dos preços administrados pelo governo.

 

“Pela nossa projeção, a inflação acumulada em 12 meses volta para o patamar de um dígito em agosto, quando o IPCA deve ter mais uma deflação, de 0,32%. No entanto, esta redução é pontual”, avaliou Claudia Moreno, economista do C6 Bank, em nota. “Ou seja, se excluirmos os fatores pontuais, a inflação segue alta”, completou.

 

O IPCA acumulado em 12 meses recuou para 10,07% em julho, mas permanece no patamar de dois dígitos há 11 meses consecutivos e muito acima da meta de inflação que deveria ser alcançada pelo Banco Central no ano, de 3,5% (com teto de tolerância de 5%).

 

O economista Luis Menon, da gestora de recursos Garde Asset Management, prevê queda de 0,20% do IPCA de agosto e alta de 0,40% em setembro. “Uma inflação mais próxima de 0,50%, e não acima de 1%, como foi no primeiro semestre”, comparou, “teremos alguns efeitos defasados do corte de ICMS, porque alguns estados aderiram ao longo de julho, e efeitos dos cortes da Petrobras (nos preços dos combustíveis), que devem impactar majoritariamente em agosto.”

 

Em julho, a gasolina ficou 15,48% mais barata; o etanol, 11,38%; e a energia, 5,78%. Juntos, os três itens ajudaram a conter a inflação em 1,38 ponto porcentual. “Se não fosse essa queda, o IPCA de julho teria uma alta de 0,70%”, calculou Moreno.

 

“A redução do ICMS contribuiu bastante para a deflação observada no IPCA de julho”, confirmou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. “Esse efeito deve ficar mais concentrado no IPCA de julho”, disse. O único combustível com alta no mês foi o óleo diesel (4,59%) – sobre o qual o teto de ICMS teve pouco efeito, porque a alíquota já era inferior a 18% na maioria dos Estados. O item influencia os preços de outros produtos, por conta do encarecimento do frete.

 

O que ainda pesa

 

Em julho, 63% dos itens pesquisados mostraram altas de preços. O “vilão” foi o leite longa-vida, que subiu 25,46%, depois dos 10,72% em junho. Também ficaram mais caros derivados do leite como queijo (5,28%), manteiga (5,75%) e leite condensado (6,66%).

 

A inflação de serviços – termômetro de pressões de demanda sobre os preços – subiu 0,80%. Já os preços de itens monitorados pelo governo tiveram um tombo de 4,35%. Houve pressão em julho de passagens aéreas (8,02%) e alimentação fora de casa (0,82%), além de outros segmentos ligados ao turismo.

 

A gestora de recursos Kínitro Capital espera deflação de 0,25% em agosto, com nova queda de preços administrados e arrefecimento de bens industriais, mas vê pressões “relevantes e disseminadas” nos serviços. Em nota, João Savignon, economista da gestora, lembrou que as expectativas para a inflação futura seguem acima da meta num ambiente de “riscos fiscais domésticos amplificados e o Banco Central dando claros sinais de encerramento do ciclo de elevação dos juros”. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Marianna Gualter)