Vendas de ônibus podem voltar a patamar pré-pandemia se houver peças, diz Mercedes-Benz

O Estado de S. Paulo

 

Os atrasos nas entregas de ônibus, em razão da falta de peças nas montadoras, gerou um descompasso entre as estatísticas de vendas, em baixa neste ano, e as encomendas de veículos coletivos à indústria, que crescem mais de 50%.

 

A situação foi relatada hoje durante apresentação da Mercedes-Benz, marca de metade dos ônibus vendidos atualmente no Brasil, sobre os resultados e perspectivas ao segmento em 2022. A expectativa da montadora é de o ano fechar com a indústria, na soma de todas as marcas, vendendo entre 17 mil (alta de 20% sobre 2021) e 21 mil ônibus. Além de crescimento próximo a 50% sobre o ano passado, a previsão mais otimista representa, caso seja confirmada, um retorno ao volume de antes da pandemia.

 

Tudo vai depender da disponibilidade de peças, sobretudo os componentes eletrônicos, cuja escassez provoca já há mais de um ano interrupções na produção de veículos. “O resultado não vai ser definido pelos pedidos, mas sim pela produção”, comentou Walter Barbosa, diretor de vendas de ônibus da Mercedes-Benz, em encontro virtual com jornalistas.

 

Segundo o executivo, o prazo de entrega de ônibus, que costuma ser de três meses, subiu para seis meses diante da irregularidade no abastecimento. “Estamos entregando veículos fechados em janeiro. O mercado cresceu mais de 50% neste ano, mas você não vê isso nos emplacamentos”, afirmou Barbosa, referindo-se à queda de 2,6%, para um total de 7,3 mil unidades, das entregas de ônibus ao mercado no primeiro semestre.

 

O otimismo para o restante do ano, fora o grande número de pedidos em carteira, é puxado pelas encomendas de 10 mil ônibus escolares, dentro do programa federal Caminho da Escola, a renovação de frotas urbanas típica em anos eleitorais, e a antecipação de compras antes de a entrada, no ano que vem, dos limites mais rígidos de emissões levar à produção de ônibus mais caros.

 

Após viver, na pandemia, seu período mais “desafiador”, a indústria de ônibus, disse o diretor da Mercedes, vem reagindo desde meados do ano passado, dada a maior mobilidade permitida pela vacinação contra a covid. “O ano de 2022 será de virada de chave. Temos muito mais oportunidades do que desafios”, disse o executivo.

 

Os desafios, além da restrição de oferta, estão na alta dos juros e na inflação tanto do diesel quanto dos preços dos veículos, situações que, junto com uma oferta de crédito ainda não satisfatória, pressionam o uso de transporte coletivo e interferem nas decisões de renovação de frota das operadoras de ônibus.

 

Durante a apresentação à imprensa, a Mercedes-Benz informou ainda que, na esteira de investimentos de R$ 100 milhões, o primeiro ônibus elétrico produzido e desenvolvido pela montadora no Brasil tem previsão de chegar ao mercado em 2023. O veículo terá autonomia de rodar 250 quilômetros sem a necessidade de recarga da bateria, com capacidade de transportar 84 passageiros.

 

A Mercedes-Benz estima em 3 mil unidades a demanda total de ônibus elétricos no Brasil até 2024. Só na cidade de São Paulo, mil ônibus elétricos podem substituir coletivos movidos a diesel até o ano que vem. Segundo Barbosa, os negócios começam finalmente a acontecer. “Até então, estava muito no blablablá. Este ano, saiu do papel, começaram a sair negócios”, afirmou o diretor da Mercedes-Benz. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Laguna)