Política anticovid da China freia economia global e afeta o Brasil

O Estado de S. Paulo

 

Apolítica de tolerância zero da China contra a covid-19, com lockdowns em várias regiões, fez com que as importações e exportações do país caíssem, sobretudo de bens industriais. A desaceleração chinesa pode pressionar ainda mais a inflação e reduzir a atividade econômica no mundo. O Brasil também está sendo afetado. O desabastecimento vai da falta de insumos para a indústria farmacêutica a brinquedos no comércio popular. Segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), em abril, os preços das importações, em dólares, subiram 34,4%, com recuo de 6,9% nos volumes.

 

Se a China tropeça, o mundo todo sente o impacto. E a China está tropeçando. A política de tolerância zero contra a covid-19, com lockdowns espalhados pelo país, acenderam o alerta para a redução da atividade na segunda maior economia do mundo. Cidades completamente fechadas significam redução das importações e inviabilizam as exportações – sobretudo de bens industriais –, o que pode pressionar ainda mais a inflação e reduzir a atividade econômica em todo o mundo.

 

Apenas com o lockdown em Xangai, estima-se que a venda de carros na China tenha despencado 48% em abril, na comparação com igual período de 2021. A cidade é responsável por 3,8% do PIB chinês, mas tem o maior porto de contêineres do mundo. Em abril, a Apple informou que a situação na China pode lhe custar entre US$ 4 bilhões e US$ 8 bilhões em vendas perdidas.

 

Diante do cenário, a Santander Asset reviu sua estimativa de PIB para a China de 5% para 4,6%. O Itaú Unibanco, de 5% para 4,7%. Somado aos impactos da guerra na Ucrânia e da alta dos juros nos EUA, a política chinesa contra a covid deve desacelerar a economia global para algo em torno de 3% (número considerado ruim para o PIB global).

 

“Pelo tamanho da China, se ela crescer 4,5% já tem um efeito ruim. Isso não seria tão problemático se não houvesse tanta dúvida em relação à alta dos juros nos EUA. Mas as duas locomotivas do mundo estão com questões que significam menos crescimento nos próximos 18 meses”, diz Eduardo Jarra, economista-chefe da Santander Asset.

 

Economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani diz que a pressão inflacionária da interrupção das cadeias de produção chinesas também pode levar o Fed (banco central dos EUA) a elevar mais rapidamente os juros, reforçando a desaceleração global. (O Estado de S. Paulo/Luciana Dyniewicz)