O Estado de S. Paulo
Apesar dos problemas e grandes sequelas causadas ao setor industrial como um todo, a pandemia também trouxe novas oportunidades ao Brasil e uma delas é a de localização de componentes não fabricados localmente para evitar a dependência das importações.
Automóveis; presidente da Anfavea – que reúne as montadoras -, Luiz Carlos Moraes, afirmou que a pandemia obriga a uma revisitação da globalização para determinados itens Foto: Nilton Fukuda/Estadão
Essa “janela única de oportunidade” foi tema na quarta-feira, 27, em Brasília, de um seminário com as participações de dirigentes do setor automotivo e representantes de vários ministérios sobre a produção no País de semicondutores.
“Estamos estudando medidas de facilitação por parte do governo, com isenções fiscais, para que empresas de fora venham produzir semicondutores no Brasil”, anunciou o presidente do Sindipeças (representa a indústria de autopeças), Cláudio Sahad em painel do Summit “O Futuro da Indústria Automotiva”, realizado pelo Estadão na manhã desta quinta-feira, 28.
Segundo o executivo, esse é um grande gargalo do País e há um esforço entre o setor público e privado para resolver essa dependência. Além das entidades do setor, participaram do evento ontem no Itamaraty representantes dos ministérios de Relações Exteriores, Economia, Ciência e Tecnologia e Comunicação.
Sahad ressaltou, contudo, que é preciso melhorar o ambiente de negócios no País para atrair essas empresas. “Sem isso, mesmo tendo incentivos as empresas não virão, pois, a cadeia de semicondutores é longa e os investimentos exigidos são altos”, disse ele.
Antonio Filosa, presidente da Stellantis (reúne Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën), reforçou que as montadoras do País “são competitivas dos portões para dentro, com uso de tecnologias, investimentos, produtos e mão de obra iguais ao que temos nos demais países, mas essa competitividade acaba do portão para fora”.
Filosa citou como principais problemas o sistema tributário lembrando que no Brasil a carga tributária é uma das mais altas do mundo; a falta de infraestrutura, por exemplo em portos, aeroportos e rodovias; e a falta de isonomia entre as regiões brasileiras.
“Há uma enorme desigualdade territorial, com o Sudeste altamente desenvolvido e outras regiões onde o desenvolvimento não chega com a mesma intensidade”, disse Filosa. Ele ressaltou que, ao levar a fábrica da Jeep para Pernambuco, houve melhoras em todos os indicadores sociais em Goiana e nas demais cidades ao redor da fábrica. “Uma vez que a região atrai um investimento de alta qualidade, automaticamente força investimentos públicos na melhoria da infraestrutura física e de dados”, disse.
Na mesma linha, o presidente da Anfavea – que reúne as montadoras -, Luiz Carlos Moraes, afirmou que a pandemia obriga a uma revisitação da globalização para determinados itens, mas não só para que o Brasil fique menos dependente de importações, mas também ser base de exportação de novos produtos, como semicondutores.
Ele citou o caso da eletrificação automotiva, que pode atrair empresas de energia elétrica, recargas e baterias. “Olhando a pandemia como oportunidades, se tivermos um ambiente favorável de negócios podemos conseguir uma grande transformação, assim como estão fazendo China, estados Unidos e Coreia”. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)