Recorde para o mês, arrecadação alcança R$ 164,1 bilhões em março

O Estado de S. Paulo

 

A arrecadação de impostos, contribuições e demais receitas federais atingiu R$ 164,1 bilhões em março, informou ontem a Secretaria da Receita Federal. O valor foi o maior para o mês desde o início da série histórica, em 1995. Na comparação com o mesmo mês do ano passado – R$ 153,5 bilhões (valor corrigido pela inflação) –, houve aumento real de 6,92%. Apesar dessa arrecadação, as contas públicas fecharam no vermelho (leia mais ao lado).

 

O resultado das receitas veio dentro do intervalo de expectativas das instituições ouvidas pelo Estadão/Broadcast, entre R$ 148,192 bilhões e R$ 166,661 bilhões. O dado divulgado ontem superou a mediana, de R$ 156,416 bilhões.

 

De acordo com a Receita Federal, o aumento da arrecadação está relacionado, entre outros fatores, a pagamentos atípicos de IRPJ e CSLL, de R$ 3 bilhões. Segundo o órgão, o pagamento foi feito por empresas ligadas ao setor de commodities (produtos básicos com cotação internacional, como alimentos e petróleo). Além disso, houve aumento real de 18% na arrecadação do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), principalmente pela receita decorrente da tributação de participação de lucros e resultados.

 

A receita previdenciária também impulsionou a arrecadação em março, ao subir 4% em termos reais. “Esse resultado pode ser explicado pelo aumento da massa salarial por meio da criação de novos postos de trabalho e pelo aumento real de 27% na arrecadação do Simples Nacional”, afirmou o órgão.

 

No acumulado do trimestre, ainda segundo dados oficiais, a arrecadação federal somou R$ 548,1 bilhões. Em valores corrigidos pela inflação, totalizou R$ 556,7 bilhões (novo recorde), o que representa alta real de 11% na comparação com o mesmo período do ano passado (R$ 501,2 bilhões). Os números da Receita mostram que foi a maior arrecadação para o período de janeiro a março na série histórica, desde 1995.

 

O chefe do centro de estudos tributários da Receita Federal, Claudemir Malaquias, informou que houve uma queda de tributos após redução de PIS/Cofins sobre combustíveis, anunciada pelo governo na tentativa de reduzir o impacto nos preços no ano em que o presidente Jair Bolsonaro tenta a reeleição. Segundo os dados divulgados, houve redução de R$ 300 milhões na arrecadação do PIS/Cofins em março. O efeito maior, segundo Malaquias, será sentido em abril.

 

O economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flavio Serrano, disse que a arrecadação veio em linha com as expectativas do mercado financeiro e sob fatores como a recuperação do setor de serviços e do mercado de trabalho.

 

Oportunidade

 

“A arrecadação está fazendo o papel dela, apoiada em uma inflação que deve ficar acima de 8% este ano e na disparada das commodities, mas a gente não tem uma contrapartida do governo pelo lado das despesas”, afirma o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. “O governo não está aproveitando este ‘boom’ para criar um superávit primário. Está olhando para outubro (data das eleições), e não para o longo prazo.” •

 

“O governo não está aproveitando esse ‘boom’ para criar um superávit. Está olhando para outubro”, Alex Agostini, Economista da Austin Rating. (O Estado de S. Paulo/Lorenna Rodrigues, Guilherme Pimenta, Guilherme Bianchini e Cícero Cotrim)