O Estado de S. Paulo
Alta de 0,54% foi impulsionada pela alimentação, que subiu 1,1% em janeiro e foi puxada pela comida consumida em casa.
Puxada pelos alimentos, a inflação começou o ano pressionada. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação, subiu 0,54% em janeiro, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta de 1,11% na alimentação respondeu por pouco menos da metade do avanço agregado. Foi a maior taxa para o mês desde 2016, mantendo a inflação em um ano em dois dígitos, como ocorre desde setembro. O IPCA acumulou alta de 10,38% nos 12 meses até janeiro.
As altas foram disseminadas e os alívios, concentrados em combustíveis, conta de luz e passagens aéreas. Os dados vieram como o previsto por analistas consultados pelo Projeções Broadcast. Para economistas, o número de janeiro mantém a perspectiva de inflação pressionada para 2022, como sinalizou anteontem o Banco Central (BC) na ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Segundo o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio de Souza Leal, a inflação de janeiro “não piorou a situação, mas não trouxe nenhuma novidade positiva”. O economista Luis Menon, da gestora Garde Asset, observa que “o que pendeu para baixo foram os (preços) administrados, mas os (preços) livres continuam altos”.
A inflação de alimentos foi puxada pela comida comprada para consumo em casa, afirmou André Guedes, analista do IBGE. Os preços médios da comida nos supermercados, mercadinhos e feiras livres avançaram 1,44% em janeiro, acima do 0,79% de dezembro de 2021. No mês passado, os vilões foram as frutas (alta de 3,40%), o café moído (4,75%, no 11.º mês consecutivo de alta) e as carnes (alta de 1,32%).
Reajustes de alimentos, especialmente in natura, são comuns nesta época, por causa do período chuvoso no Centro-sul, só que a inflação não ficou só aí, “está mais disseminada em janeiro do que na maior parte de 2021”, afirmou Guedes. O índice de difusão (proporção dos itens que tiveram alta em relação ao total pesquisado) ficou em 73%. No ano passado, o indicador ficou acima de 70% apenas em dezembro (75%) e agosto (72%).
Insumos
O analista do IBGE chama a atenção para o efeito de reajustes de itens usados como insumo de diversas atividades, como os combustíveis e a energia elétrica. Na indústria, esses custos se somam aos das cadeias globais de produção. Sinal disso foram as altas de preços de eletrodomésticos e equipamentos (2,86%), de mobiliário (2,41%), de equipamentos de TV, som e informática (1,38%) e de automóveis novos (2,19%).
Como contraponto, a gasolina ficou 1,14% mais barata, e o etanol caiu 2,84% em janeiro, mas o movimento foi influenciado pela redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no Rio Grande do Sul. Como parte de uma reforma para penalizar menos os pobres na cobrança do imposto, a alíquota sobre combustíveis e energia baixou de 30% para 25% em 1.º de janeiro, após seis anos majorada.
Segundo Guedes, a trégua pode ser temporária, porque os preços de combustíveis nas refinarias, que haviam caído em dezembro, foram reajustados para cima em 12 de janeiro. (O Estado de S. Paulo/Vinicius Neder, Marianna Gualter e Cícero Cotrim)