Inflação e juros devem tirar R$ 44,7 bilhões do comércio no fim de ano

O Estado de S. Paulo 

 

O mais importante trimestre do ano para o varejo, o da Black Friday e do Natal, deve sofrer o impacto da alta dos juros, da inflação e da queda na renda. Estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), feito a pedido do

 

Estadão, estima perda de R$ 44,7 bilhões no faturamento do setor em relação ao cenário mais favorável, projetado no começo do ano. Em janeiro, a expectativa do comércio era de faturar R$ 792 bilhões entre outubro e dezembro (4,4% a mais do que em igual período de 2020). Com a inflação beirando dois dígitos, juros em alta e queda real de 1,9% na renda dos brasileiros, o cálculo é de que a receita recue a R$ 747,3 bilhões. A CNC também lembra que, quando o final de ano tem bom movimento, janeiro começa com reposição de estoques e muitos empregos temporários viram definitivos, o que pode não ocorrer em 2022.

 

Após um ano parada na pandemia, a diarista Cláudia de Jesus Melo Silva acreditava que, com a volta das faxinas, conseguiria neste fim de ano trocar a TV por uma maior, de 40 polegadas. Também planejava comprar uma fritadeira elétrica. Mas a inflação devorou seus sonhos de consumo.

 

Mãe de cinco filhos, ela e o marido, que faz bico de pintura, somam cerca de R$ 2 mil por mês. Pouco sobra para gastos além do básico.

 

O aperto inesperado provocado pela disparada da inflação pelo qual a família de Cláudia e milhões de outras passam afeta o mais importante trimestre do ano para o varejo, o da Black Friday e do Natal. A piora em inflação, juros e renda deve retirar R$ 44,7 bilhões das vendas no período em relação ao cenário mais favorável projetado no começo do ano. É o que revela estudo feito, a pedido do Estadão, pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

 

“A inflação e o remédio para combatê-la, o aumento dos juros, compõem um cenário de quarto trimestre preocupante para o varejo”, diz o economista-chefe da CNC e responsável pelo estudo, Fabio Bentes.

 

Em janeiro, quando o mercado esperava inflação de 3,32% no ano e juros básicos de 3,25% (Boletim Focus do Banco Central), e o economista projetava juros ao consumidor de 40,8% ao ano e aumento real de 2,4% na renda, a expectativa do comércio era faturar R$ 792 bilhões entre outubro e dezembro (4,4% a mais do que igual período de 2020).

 

Com inflação beirando dois dígitos (9,80%), Selic a 9,25% (projeção para o ano), juros do crediário em 44% ao ano e queda real de 1,9% na renda, o economista calcula que a receita recue a R$ 747,3 bilhões (1,5% menor do que no último trimestre de 2020). (O Estado de S. Paulo/Márcia de Chiara)