Criado no Brasil, próximo CEO da Qualcomm quer ajudar as montadoras a superarem a Tesla

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Qualcomm não é um nome tão popular, mas você está usando a tecnologia dela para ler este texto. Provavelmente, você tem um hardware Qualcomm em seu bolso. A empresa de San Diego desenvolve os processadores, transmissores de rádio e IP que permitem que seu smartphone, notebook, TV e modem se conectem à internet. E a empresa está prestes a lançar milhões de novos produtos à medida que a nova tecnologia 5G torna cada ferramenta um dispositivo conectado.

 

O negócio está crescendo. As ações da Qualcomm subiram cerca de 70% no último ano, superando o aumento de 40% no S&P e o forte crescimento de quase 50% na Nasdaq. Hoje, seu valor de mercado chega a US$ 150 bilhões.

 

Em julho, a fabricante de hardware ganhará um novo CEO: Cristiano Amon, atual presidente da Qualcomm. Ele assumirá o cargo de Steve Mollenkopf, que está se aposentando após 26 anos na empresa de tecnologia. Com a mudança, as expectativas dos investidores são altas.

 

“A principal coisa que devemos fazer é atuar no setor de 5G e móvel. Além disso, devemos ampliar o trabalho para os mercados de IoT e automotivo”, diz Amon, que foi criado e educado no Brasil. “A terceira coisa é criar novos produtos e novas tecnologias à medida que computadores e dispositivos móveis se fundem em um só.”

 

Amon entrou para o time da Qualcomm há quase duas décadas como engenheiro. Atualmente, ele administra produtos e parcerias, e se prepara para assumir o cargo de CEO. “Devo estar sempre próximo das competências essenciais, saber o que a empresa pode ser, o que ainda não sei e me cercar de pessoas que podem fazer um trabalho melhor do que eu”, diz. “Tive a sorte de ter uma rede de mentores e CEOs que passaram por situações semelhantes.”

 

Isso inclui o diretor-executivo da Microsoft, Satya Nadella. “O relacionamento entre nossas empresas é fascinante, porque sempre queremos mais delas, e elas sempre querem mais de nós – trata-se de nunca estarmos satisfeitos e nos empurrarmos para frente”, diz Nadella. “Cristiano é um cara ótimo com muita energia e uma visão nítida do futuro.”

 

Assim como Amon, Nadella comandou uma grande divisão dentro da Microsoft antes de assumir o cargo do até então CEO, Steve Ballmer. “Ele me disse para ficar confortável na minha posição Eu já era bem-sucedido antes, e é por isso que estava no papel de CEO”, diz Nadella. “Também aprendi que devemos questionar e responder sobre a visão, o propósito e o motivo da empresa existir, e não apenas repetir algo que já foi dito antes. Se você não acertar com suas próprias palavras e emoções, será difícil as pessoas acreditarem.”

 

Amon assume o comando em um momento crítico na história da Qualcomm. Em 2015, a ativista investidora Jana Partners tentou desmembrar o negócio. Então, em 2017, a rival Broadcom tentou uma aquisição hostil. A Qualcomm conseguiu escapar de ambos.

 

Pouco depois, a companhia entrou em batalhas legais com dois adversários de peso: a Apple e o governo dos Estados Unidos. A Apple processou a Qualcomm por causa de patentes. O caso foi resolvido em abril de 2019, com a gigante da tecnologia pagando uma quantia não revelada e fechando um acordo de seis anos para usar a tecnologia da empresa em seus iPhones.

 

Já a Federal Trade Commission (agência governamental norte-americana) acusou a Qualcomm de práticas anticompetitivas na forma como licenciou sua tecnologia. O tribunal decidiu a favor da companhia em março de 2020. “Foi o maior conjunto de crises que a empresa já enfrentou”, diz Amon. “Continuamos a inovar em tudo, mas agora temos toda a largura de banda extra para dobrar em pesquisa e desenvolvimento.”

 

Atualmente, os negócios vão bem, e o destino da Qualcomm está em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). “Qualquer pessoa do setor de tecnologia pode ser esmagada pela concorrência. É uma indústria implacável. Se você perder uma grande tendência ou se alguém fizer um trabalho melhor, você será eliminado”, diz Nadella. “Não existe franquia duradoura.”

 

Amon está apostando no 5G para o futuro da Qualcomm. A nova tecnologia de rede promete dar a bilhões de dispositivos poder de computação em nuvem da mesma forma que computadores, telefones e residências conectados por 4G e Wi-Fi fizeram à web.

 

Em poucos anos, tudo, desde eletrodomésticos, máquinas industriais, câmeras, robôs e carros, poderia ter o poder de supercomputadores e IA – sem o hardware caro e volumoso. “O 5G dará a todos os dispositivos armazenamento e capacidade de computação ilimitados”, diz Amon. “Será a próxima eletricidade – seu caso de uso é tudo.”

 

Milhões de novos dispositivos precisarão de chips, antenas e IP extensivo da Qualcomm (a empresa recebe royalties mesmo que o hardware não esteja no gadget real). E com a gigante chinesa da tecnologia Huawei barrada na maioria dos mercados fora da China, companhia está com mais demanda do que nunca. “Há alguns anos, os smartphones eram considerados um mercado maduro, com crescimento de um dígito”, diz Amon. “Mas agora o mercado pode valer até US$ 10 bilhões, já que os 200 milhões de unidades que a Huawei despachou vão para nós e outras empresas de hardware.”

 

A ambição da Qualcomm no 5G vai muito além do simples smartphone. “Estamos trabalhando juntos para acelerar o desenvolvimento de tecnologias avançadas de defesa do século 21”, disse o presidente e CEO da Lockheed Martin, Jim Taiclet. “Projetos como o nosso sistema 5G.MIL irão conectar de forma contínua e segura várias plataformas, como o caça F-35, em uma arquitetura de rede geral.”

 

Além disso, Amon aposta que a Qualcomm tem um grande futuro nos carros. Ele está prevendo que a computação em nuvem dará aos veículos inteligência artificial, dados ilimitados, serviços atualizáveis ??e mídia livre de delays, como vídeo, TV e jogos. “As empresas automotivas podem se tornar as próximas operadoras a cabo e ganhar mais dinheiro com a venda de serviços digitais do que com a venda do carro real.”

 

Ele acredita que a Tesla deixou os fabricantes de automóveis para trás e que os concorrentes precisam do hardware da Qualcomm para voltar à corrida. “A Tesla transformou carros em computadores sobre rodas”, diz Amon. “Podemos ser o parceiro de tecnologia de todas as outras montadoras. Se você adquirir a tecnologia Qualcomm, poderá fazer um Tesla.” Claro, o Sr. Musk pode discordar. (Forbes Tech/Steven Bertoni)