Mercado melhora projeções para PIB

O Estado de S. Paulo

 

O crescimento do nível de atividade indicado pelo Banco Central no terceiro trimestre levou o mercado a melhorar suas previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) do período e também para o fechamento do ano. A mediana das estimativas para o terceiro trimestre passou de 7,75% para 9%, ante o trimestre anterior, com variação entre 7,2% e 11,2% nas apostas. Já a projeção para o ano, que até o mês passado apontava para uma retração de 5%, agora está em recuo de 4,5%. Neste caso, o intervalo entre as previsões vai de -3,8% a -5,2%.

 

Os dados constam do levantamento Projeções Broadcast feito ontem após a divulgação do resultado do Índice de Atividade do Banco Central (IBC-BR) de setembro. Considerando uma “prévia” do PIB oficial do País (calculado pelo IBGE), o indicador registrou alta de 1,29% na comparação com agosto. No acumulado no terceiro trimestre, a variação foi de 9,47% ante o segundo trimestre, na série livre de influências sazonais – uma espécie de “compensação” para comparar períodos diferentes.

 

Foi o quinto mês consecutivo de melhora na atividade econômica, segundo o BC, após a forte retração em março e abril, sob impacto da pandemia da covid-19. Mesmo assim, a comparação trimestral com 2019 ainda mostra um recuo de 3%. O IBC-BR é uma das ferramentas usadas pelo BC para definir a taxa básica de juros do País.

 

A projeção atual do BC para a atividade doméstica em 2020 é de retração de 5%, de acordo com o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de setembro.

 

“São os dados mais fortes desde o início da recuperação que estamos vendo no pós-pandemia”, afirmou a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, que elevou a previsão de crescimento do PIB do terceiro trimestre para 10% depois da divulgação do IBC-BR de setembro. Para a analista, os dados mostram ritmo mais forte do que o esperado de recuperação da atividade, ainda que a retomada seja heterogênea.

 

“O destaque da atividade é a indústria, que foi o setor que mais recuperou em relação ao pico da pandemia, enquanto os serviços estão mais retraídos e o agronegócio deve repetir aquele crescimento por volta de 1,0%.”

 

Em relatório a clientes, o Credit Suisse citou as razões para rever sua projeção para o PIB do terceiro trimestre, de 7% para 9,10%. “O resultado de hoje (ontem) confirma a expectativa de uma rápida retomada da economia no terceiro trimestre graças a uma recuperação parcial da oferta e também pelos robustos pacotes de incentivo fiscal e monetário implementados desde o começo da pandemia”, diz texto assinado pelos economistas Solange Srour e Lucas Vilela.

 

O Credit Suisse também alterou sua projeção para o PIB de 2020, de uma queda de 4,80% para uma contração de 4,6%. O banco suíço tem a maior estimativa para o PIB de 2021, esperando um crescimento de 4,1%, sustentado pelas perspectivas de manutenção de uma política de estímulos monetários, de retomada parcial do mercado de trabalho e de recuperação da economia global.

 

“Preocupação”

 

“Quem fala em PIB de 4% em 2021 vê uma recuperação contínua e sem grandes solavancos, com incentivos para aumentar o consumo e investimentos. Já eu estou do lado preocupado. Vejo a pandemia voltando e, mesmo que haja vacina, não deve ser algo que fique disponível tão rápido. Teremos ainda o efeito adicional da saída do auxílio emergencial”, analisa o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.

 

O economista é dono da segunda pior projeção para o PIB de 2021, um crescimento de 2,20% após queda de 3,8% em 2020 – a menor desta pesquisa. “O IBC-BR de setembro já casou com nossa projeção, o terceiro trimestre vai vir forte por causa do auxílio emergencial e pela exportação de commodities. A dúvida agora é o que fica para frente. No quarto trimestre, já devemos ver uma virada no varejo para números menores, e em 2021 há ainda um grau muito aberto de insegurança”, argumenta Vale.

 

A MB Associados espera crescimento de 9,20% no PIB do terceiro trimestre, ante o segundo, e um avanço de 0,90% no último trimestre em relação ao terceiro. (O Estado de S. Paulo/Gregory Prudenciano, Cícero Cotrim e Lorenna Rodrigues)