Falta de insumos afeta 14 dos 19 setores da indústria no País

O Estado de S. Paulo

 

Pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) indica que, em outubro, a falta de insumos atingiu os mais altos níveis desde 2001 em 14 dos 19 segmentos da indústria. Embalagens, papelão e vidro são os produtos que têm o abastecimento mais crítico, por causa da pandemia e da rápida retomada do consumo. No setor de vestuário, a falta de matérias-primas e de componentes foi reportada por 74,7% das empresas consultadas. O problema também foi apontado por fabricantes de produtos de plástico (52,8%), limpeza e perfumaria (39,1%), farmacêutica (34,2%), informática e eletrônicos (33,1%), além de empresas dos ramos de produtos de metal (31%), couro e calçados (31,1%) e químico (27,9%). Maior vinícola do País, a Aurora, em Bento Gonçalves (RS), interrompeu a produção por falta de garrafas de vidro. Na Sakura, empresa que produz molho shoyu na zona leste de SP, faltam caixas de papelão. Além da escassez, as empresas relatam forte alta de preços das matérias-primas.

 

A escassez de matéria-prima em vários segmentos e a alta de preços são atualmente os principais fatores que limitam a expansão da produção industrial no País. Pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) indica que, em outubro, a falta de insumo atingiu os maiores níveis desde 2001 em 14 dos 19 segmentos da indústria. Segundo a sondagem, o setor de vestuário é o que mais sente os efeitos da falta de insumos e componentes, reportada por 74,7% das empresas.

 

Empresas já reduziram o ritmo de atividade por falta de matéria-prima, e quem consegue produzir não pode distribuir o produto por falta de embalagens de papelão, plástico e vidros, hoje o maior problema relatado por empresas e entidades de classe. A escassez, somada ao câmbio desvalorizado, resulta em alta de preços.

 

A interrupção da produção no pico da pandemia de coronavírus e a volta ao consumo mais forte do que o esperado pegou as empresas com baixos estoques e demanda crescente, em parte por causa do auxílio emergencial pago pelo governo. Com isso, há um descolamento entre fabricantes de matérias-primas – que não conseguem atender à demanda –, de produtos finais e varejo. O temor é que, com a crise sem precedentes, falte produto no mercado justamente num momento de alta demanda, com a Black Friday e o Natal.

 

Além do vestuário, a falta de insumos também foi apontado por fabricantes de produtos de plástico (52,8%), limpeza e perfumaria (39,1%), farmacêutica (34,2%), informática e eletrônicos (33,1%), além de empresas dos ramos de produtos de metal (31%), couro e calçados (31,1%) e químico (27,9%), entre outros.

 

Além da escassez, as empresas projetam alta de preços das matérias-primas. No segmento de vestuário, 78,7% das consultadas preveem aumento dos custos de insumos comprados no mercado interno e 71,4% esperam encarecimento também dos importados.

 

Mais aumentos

 

“Hoje, a grande dificuldade é com embalagens que, além de escassas, mais que dobraram de preço. O quilo do papelão passou de R$ 10 para R$ 18 e há casos de embalagens que custavam R$ 3 e subiram para R$ 7”, afirma Ronaldo Andrade Lacerda, dono da Lynd Calçados, fabricante de tênis esportivos de Nova Serrana (MG). “A justificativa é a falta de papel”, diz ele, que preside o Sindinova, sindicato que representa 830 indústrias de calçados do polo mineiro.

 

Segundo ele, há até pouco tempo também faltava PVC (usado em tênis e sandálias), problema que foi resolvido, “mas os preços subiram de 60% a 80% de março para cá e só estamos conseguindo repassar de 15% a 20%”. Lacerda crê que novos reajustes virão até dezembro. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva, Márcia De Chiara e Cícero Cotrim)